segunda-feira, 3 de maio de 2010
SEXO NO CINEMA? OK, MAS DEIXA O FILME COMEÇAR
Woody Allen disse uma vez que só existem duas coisas importantes na vida. A primeira é o sexo e a segunda ele não se lembra. Vindo de um mestre da sétima arte acho que esta frase cai bem como prefácio desta coluna que tenta avaliar uma parceria de longa data: sexo & cinema.
Desde que a atriz Audrey Munson (foto do título) arrancou a primeira calcinha frente às câmeras, isto em 1915 no filme Inspiração, o erotismo no cinema vêm tomando proporções irrefreáveis para a sorte dos voyeurs do mundo todo.
O erotismo é a nossa eterna vontade de negar a morte,a nossa afirmação da vida. O erotismo pertence ao sagrado e se diferencia de sua prima-irmã, a pornografia, apenas em aspectos estéticos e éticos, num conteúdo mais implícito do que explícito, apesar do cinema algumas vezes ser protagonista de grandes obras unindo estas duas vertentes, como o caso de “Por trás da Porta Verde” e “Garganta Profunda”, grandes clássicos do cinema erótico. O cinema mundial resgata ainda a estética do sexo, que nos torna receptivos à um repertório quase infinito de emoções eróticas, afinal a arte é cúmplice do amor. Tire o amor, o desejo, e não haverá mais arte. E sem a arte não há nada! Levantando esta bandeira (sem trocadilhos metafóricos), autores, diretores e acima de tudo atores vêm nos alimentando nestes quase um século de erotismo e sedução por este buraco da fechadura mágico que é o cinema. Claro que o sexo no cinema – não dentro das salas, apesar de recomendá-lo se agirem com discrição - também nos é oferecido em diversas vezes de maneira superficial que mais insinua o fato do que o explora, quando surge no ar aquele clima barato de romance, uma música sexy ao fundo, uma cama, cenas feitas sob uma câmera nebulosa, com cortes parciais feitos sob medida para a sessão da tarde, criando assim o erotismo grosseiro, ralé e censor, mas ainda bem que existem roteiristas criativos, diretores ousados e atores audaciosos que topam ir um pouco mais longe do que o casual e nos transportar para um universo paralelo erótico com cenas que permanecerão tatuadas em nossa memória e em eterna exibição na tela de nossas fantasias sexuais, por longa data, alimentando-nos a imaginação e nos enriquecendo como amantes. Estrelas como Angelina Jolie, Nicole Kidman, Kate Wislet, entre uma infinidade de outras mais, doaram-se aos respectivos personagens, a ponto destes dividirem conosco momentos de extrema intimidade, nos tornado cúmplices de seus desejos mais obscuros. O mestre Buñuel já afirmara que:“Todo desejo tem um objeto,que sempre é obscuro. Não existem desejos inocentes”. São estes momentos – aulas – excitantes que ficam imortalizados em celulóide. Podem ser sensíveis,constrangedores, bizarros, agressivos, cômicos, proibidos e porque não todos estes em uma só cena. O cinema nos dá margem às mais diversas fantasias, de grande importância na nossa vida sexual, pois nutrem nosso desejo e amplia as nossas diversas motivações para o impulso sexual, fornecendo-nos assim uma vida mais saudável e plena. Afinal, sexo é saúde, meus tarados sete leitores. E o cinema uma ótima vitamina para isto. O sexo é uma das vastas alegrias que a natureza nos proporcionou, é um presente distribuído de forma democrática e que só depende de nossos corpos – e para os mais avançados, de nossa mente, é claro - algo que merece ser celebrado, mas que, apesar de sua qualidade humana desde os primórdios do mundo, tem sido vítima de algo também humano, como a hipocrisia, que insiste em transformar uma dádiva em pecado mortal. De todas as aberrações sexuais, com certeza a mais singular talvez seja a castidade e a mais covarde, a castidade disfarçada. O próprio cinema nacional tentou escapar da atual “castidade disfarçada” na época da pornochanchada, onde éramos mais liberais e menos hipócritas. O que é mais belo e menos vulgar? Angelina Muniz ou Tati Quebra Barraco? Me parece óbvia a resposta e lamentável por nos mostrar onde chegamos. Mas eis que nossa liberdade de expressão e acima de tudo, nossa liberdade de escolha, hoje nos abre portas – verdes aliás – para alimentarmos nossa libido com vitaminas vastas – filmes – ou manter-nos empanturrados com este junkie food de funks e axés,trasnbordando misoginia e reality sexy brega shows, entre outras outras formas de pornografia grotesca e brochante, que nos deixa abaixo de cachorros grudados numa esquina, quando o assunto é sedução e erotismo. Abaixo a vulgaridade e um brinde a toda forma de erotismo e todas as suas vertentes artísticas, sejam elas quadrinhos, pinturas, poemas, contos, ou no nosso caso belas imagens cinematográficas. A fantasia será sempre a mola propulsora de nossa satisfação sexual. Gozem em 24 quadros por segundo e mantenham a tela de seu prazer sempre em movimento!
sábado, 24 de abril de 2010
CHÁ DA TARDE COM O CHAPELEIRO TIM BURTON
O mundo anda cada vez mais estranho e bizarro e todos, hoje, vivem perdidos entre fantasia e realidade, em especial nós, “Alices” com cornetas e chapéus verde-amarelos num país não tão cheio de maravilhas assim, com exceção das naturais e do Cristo Redentor, quase que de braços pro ar ao invés de abertos. Lewis Carroll, a figura emblemática por trás do clássico da literatura “Alice no país das Maravilhas” talvez se embriagasse na fonte que nossa linda terra e seus personagens bizarros e malucos teriam a oferecer, para quem sabe um terceiro livro da série, mas a roteirista de Rei leão e Bela e a Fera - Linda Woolverton - tomou a dianteira e reescreveu a história à sua maneira, com toques feministas agraciados pela bizarrice enigmática do mestre Tim Burton que reproduziu do papel para as telas em 3D do mundo todo uma Alice revigorada. A versão da Disney do clássico inicia-se uma década depois, já com Alice mais velha e voltando ao mundo que havia visitado na infância, reencontrando assim antigos personagens, entre eles o fabuloso gato Cheshire e o alucinado Chapeleiro Maluco, que deixou de ser um personagem secundário, como no livro, para se tornar um coadjuvante importante, interpretado pelo pupilo de Burton e agora, “queridinho” da Disney, o aqui performático Johnny Depp, em mais uma atuação fascinante. Em todos filmes de Burton, a fantasia sempre foi uma forma de explorar a realidade e nesta versão de Alice a coisa não fica atrás. Além do deslumbramento visual (em especial às cópias 3D), Burton soube manter a linguagem de Carroll, apenas deixando esta nova versão menos enigmática e mais pragmática com pitadas de apologias revolucionárias, aqui lideradas pelo Chapeleiro de Depp. Por mais que centenas de análises, já tenham sido feitas, "Alice no País das Maravilhas" – o livro - permanece um enigma até hoje. Entrar em contato o tema e tentar absorver os personagens é como quebrar o "Código Da Vinci". Fato este que talvez se deva à origem de Carroll, que para quem não sabe, era matemático e usou de seus conhecimentos da artes dos números e da lógica para construir proposições em Alice no País da Maravilhas, sendo muitas vezes o significado particular da frase superado até pela própria forma, sugerindo jogos comuns em sua época. Lewis Carroll cresceu num ambiente familiar, onde aprendeu a contar histórias, cuidar e distrair crianças. Ele nunca assumiu sua paixão por meninas muito mais jovens, mas este fato ficou registrado através de várias fotos de nu infantil feitas por ele, que também era fotógrafo de sua época. A própria história de Alice foi criada em homenagem a uma menina de dez anos por quem Lewis era fissurado. Vale ressaltar antes que mandem cortar a cabeça do moço, que NUNCA houve qualquer suspeita ou acusação de envolvimento sexual com crianças, mas sim uma admiração além do normal, o que aliás, este estava longe de ser um adjetivo para Carroll. Assim como na Bíblia, há inúmeros códigos a serem decifrados em seus textos, e claro, infinitas interpretações de uma única frase ou um tema qualquer. Muito dizem que a porta que Alice abre para este mundo mágico, na realidade seria uma metáfora de eventos que poderiam ter acontecido se as pessoas tivessem aberto certas “portas”, ou como filosofara William Blake no passado: “Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito”. Aliás, frase esta que deu o nome da banda de Jim Morrison: The Doors. O livro Alice influenciou –e influencia – muita gente até hoje. Alguns exemplos são: o álbum Sgt. Peppers dos Beatles, o seriado Lost, a a trilogia de Matrix, os quadrinhos de Batman, até na medicina há influência de Alice, com o diagnóstico da síndrome de Alice, quando os objetos – ou coisas, situações - nos parecem muito maiores do que são na verdade. Voltando ao caso de Carroll e da jovem Alice - a real - as doze mudanças de tamanho sofridas por Alice – a personagem - ao longo da história poderiam estar ligadas ao desejo dele de que Alice Liddell fosse adulta para que pudesse se casar com ela. Entre outras suposições e códigos metafóricos, o Coelho Branco simbolizava o Parlamento Inglês, ironizando políticos, que geralmente correm muito em círculos, sem chegar a lugar algum. O enigmático Gato de Cheshire tem referência aos queijos do condado de Cheshire (onde Carroll nasceu) que tinham a forma de um gato sorridente. Ao partir o queijo, em seu formato felino, a tendência seria começar pela calda até que finalmente só restasse na travessa a cabeça sorridente, o que nos remete ao episódio no qual o gato desaparece a começar pela cauda e termina com o sorriso, tanto no livro, como no filme. A Rainha Vermelha – no filme, interpretada pela esposa de Burton, a atriz Helena Bonham Carter, apresenta um quadro de narcisismo exacerbado, apesar da cabeça gigante, uma ausência de compaixão e de empatia por seres vivos, além de tendência a comportamento violento. A centopéia é dependente de alucinógenos, assim como diriam as más línguas, o próprio Carroll. Fato é que estes personagens fantásticos e o mundo maravilhoso de Alice merecem serem conferidos nas telas e claro, revistos para quem já leu, e descoberto por quem ainda não leu, nas duas obras de Lewis, “Alice no país das maravilhas” e “Alice através do Espelho”. Um bom incentivo para se atirar buraco adentro para este mundo real ou imaginário - depende da ótica de quem lê - é conferir mais uma grande obra de Tim Burton e seu cavaleiro alado, Johnny “O Cara” Depp. Afinal, como diria Cheshire: “Vocês também devem ser loucos, caso contrário não viriam para cá”. Um brinde de chá com Chapeleiro Burton em homenagem a esta grande obra!
terça-feira, 6 de abril de 2010
ETERNAMENTE JOVENS DE CORAÇÃO
Dante Alighieri se passasse férias no Brasil com certeza rasgaria sua obra mais notável, A Divina Comédia, por considerá-la gibi infantil perto de nossas barbáries. Um casal executa o próprio filho, é condenado e daqui oito anos estarão livres como pássaros, assim como o falso ator que matou a atriz a tesouradas e o assassino que arrastou o menino João Hélio, pelas ruas do RJ até sua morte, todos livres pela justiça, não é divino e cômico? Malufs, Sarneys e mais um bando de “cidadãos exemplares de nossa justa política” são investigados até fora de nosso país e aqui em casa mandam, desmandam, e continuam se apossando ilegalmente de fortunas incalculáveis e também não dá em nada. Bom, eu poderia descrever no mínimo noventa infernos nesta terra ao invés dos nove de Dante, mas creio que nem o poeta Virgilio, guiaria o já velhinho Dante, dentro de um trem da EMTU. Algum dos meus sete leitores, por acaso já utilizou (ou tentou) os serviços de trens metropolitanos em horário de pico? O inferno é playground comparado a esta viagem. Por acaso alguém já esteve no serviço público hospitalar em emergências e viu como pessoas idosas são tratadas? E emprego? No Brasil quarenta anos já é considerado velho para ser empregado, imagine quem tem setenta? Claro que tem a aposentadoria, evidente. Basta você pagar pro governo a vida inteira e torcer para que o rombo da previdência (olha o dinheiro que sai do país na mão de bandidos eleitos pelo povo) tenha deixado ao menos algumas migalhas para você ao menos comprar remédios de pressão e fraldas geriátricas. Por estas e outras, envelhecer no Brasil é padecer das chagas de Cristo. Claro que nossos políticos, em sua maioria velhos, caducos e cada vez mais experientes para o crime e a corrupção,se preocupam e muito com nossos pais, avós e bisavós. Não viram a lei do estacionamento em shoppings e mercados? Tudo que nossos idosos precisavam: vagas para comprar! Agora inventaram que até dentro de shopping você pode ter seu veículo multado. Dante pensou nisto? Não, pois nem o diabo pensaria em radares mal calibrados, amarelinhos picaretas e gananciosos e o xeque mate da genialidade: as vagas de idosos. Quem vai a favor de um canalha que leva multa porque parou numa das 90 vagas vazias para idosos? Ponto para os idosos, já que toda a arrecadação das multas será destinada a centros de referência de idosos, correto? Claro que não! Ainda bem que o mundo não é só feito de Brasil e em outros países mais desenvolvidos idoso, criança, homem, mulher,enfim, ser humano é tratado como ser humano. O belíssimo filme Young at Heart é uma declaração poética a este respeito e amor a gente que não envelheceu, mas sim amadureceu e ao contrário daqui onde se jogam para um canto qualquer da sala, lá se torna centro das atenções. O documentário do diretor Stephen Walker retrata a vida de um coral formado por idosos liderados pelo genial Bob Cilman com um repertório popular que varia de James Brown a Cold Play, além de muito rock and roll, tanto no som quanto na postura da turma. Aliás, os velhinhos dão uma aula de bom humor, rebeldia e acima de tudo carisma e emoção, levando às lágrimas por exemplo uma platéia formada por presidiários, além é claro do público de teatros por onde passam. No documentário eles fazem piada com sexo geriátrico, incontinência, habilidades na direção e até mesmo zombam da morte, nos jogando na cara que o moço que não chora é selvagem e o velho que não ri é um tolo. Em tempos de bandas fakes ou bandas emos, eu tatuaria no meu braço o nome de cada um destes senhores (as) que nos dão uma aula sobre a vida. Cada um tem a idade que seu coração deseja ter, pois tem gente que já nasceu velho e tem outros que jamais irão envelhecer. Young at Heart é poesia pura com momentos memoráveis, como a saudade deixada por dois membros do grupo que morrem antes da estréia do show. A canção Fix You da banda ColdPlay, interpretada visceralmente por um senhor que perdeu seu melhor amigo e com quem faria um dueto na canção, é de emocionar até o mais frios dos seres vivos e de uma qualidade digna de ser considerada uma das mais belas cenas que o cinema já produziu, com a diferença de ser REAL! Feliz daquele que nasce num país livre e justo, porém mais feliz ainda daquele que envelhece num país onde o respeito e o amor são maiores do que qualquer coisa. Meus caros e futuramente, sete leitores anciões, mas eternamente jovens de coração lembrem-se de que uma bela velhice é, ordinariamente, a recompensa de uma bela vida.
quinta-feira, 25 de março de 2010
QUEM É O PAI DO BEBÊ DE ROSEMARY?
Era uma vez um sobrevivente do Holocausto, que tem sua mãe morta na câmara de gás e perde seu pai num campo de concentração, consegue fugir para a América e lá vir a se tornar um dos maiores diretores de cinema do mundo, desenvolvendo sua própria voz e se mantendo artisticamente íntegro contra o poder da máquina de Hollywood. Só isto, já seria a sinopse de um bom filme-biografia, mas quando se fala de Roman Polanski a história não para por aí. Soma-se a ela filmes polêmicos, taras por adolescentes, uma esposa assassinada por Charles Manson, crimes de pedofilia, fugas, Oscar conquistado, mas sem poder recebê-lo, entre outras coisas que fazem de Polanski um dos diretores mais controversos da história. Fez seu primeiro longa metragem em 1963 – Knife in water – e já recebeu sua primeira indicação ao Oscar, neste caso como melhor filme estrangeiro. O talento do moço já estava ai afirmado e seu sucesso já premeditado, pois em seguida filmou Repulsion com a bela Catherine Deneuve, o primeiro de sua Trilogia do Apartamento, que incluem o assustador Bebê de Rosemary e ainda O inquilino. Ainda no assunto terror, se bem que neste caso, terrir, Polanski bem antes da febre de Crepúsculos da vida, já havia feito um clássico no assunto, com o filme Dança dos Vampiros,onde ainda contracena ao lado da estonteante e bela Sharon Tate, que viria a ser sua esposa tragicamente assassinada pelo psicopata pop-star Charles Manson num crime que abalou a América pelo requinte de violência e crueldade, levando ainda em conta o fato de Tate estar grávida de Roman. Este lamentável incidente abalou e muito - por razões óbvias – emocionalmente Polanski, mas para piorar ainda mais, a imprensa sensacionalista imputou uma culpa ao diretor por ter de certa maneira influenciado o crime, já que tratou de obras satânicas, como Bebê de Rosemary,o que para qualquer pessoa com o mínimo de inteligência, não passa de um absurdo e Polanski não se calou e bateu de frente contra seus agressores. Estava decretada a guerra e a imprensa já tinha agora seu novo vilão nas mãos. Seus filmes obscuros, seu sotaque estrangeiro, sua direção controversa e pra completar carregando nas costas o assassinato de sua esposa, era um prato cheio pra imprensa marrom. Como o personagem – vivido por Jack Nicholson – em sua obra Chinatown lutava contra o lado negro da corrupção,Polanski fazia o mesmo contra o lado negro da imprensa, mas por um grave deslize de conduta, perdeu a guerra. Sua tara por meninas já era explícita e até invejada,claro, afinal foi namorado de Nastassja Kinski quando ela tinha quinze anos. Sem demagogia que homem não invejaria isto? Mas Polanski nunca teve limites e foi além. Como fotógrafo para um ensaio da Vogue, levou uma garota de treze anos a casa do amigo Jack Nicholson para fazer o ensaio, mas sua mente pervertida (Repulsion) ultrapassou os limites do bom senso e claro, foi acusado de pedofilia e a imprensa havia enfim encontrado o pai do bebê de Rosemary: POLANKSKI! O ataque foi pesado e a opinião pública unânime: culpado! Para completar o circo surge um juiz com complexo de estrala de Hollywood e que se sentia o diretor do filme “O julgamento de Polanski”. Claro que não absolvo Roman da culpa, mas o assunto pedofilia é complexo, pois convenhamos que tem muita menina de 16 anos com mais experiência e libertinagem que muita balzaquiana. E em casos como o dele, a mãe da garota deveria também ser indiciada, afinal quem em sã consciência deixa a filha ficar numa casa, em trajes sumários e sensuais com um homem com fama de conquistador, depravado e amante de ninfetas? Ah, mas é claro que tem o detalhe dele ser um grande diretor, milionário e a mãe – que aliás era atriz – que não é boba, enxergar a chance da filha ser descoberta pro estrelato. Isto não seria cafetinagem? Bom, mas o fato é que a coluna ta no fim e a liberdade foragida por trinta anos de Polanski também,já que o mesmo escolado de Varsóvia e fugindo de países com acordo de extradição com EUA, foi preso na Suíça ao não resistir receber o Prêmio Golden Icon Award. Pelo visto Polanski tem algo em comum com o verdadeiro pai do bebê de Rosemary: a vaidade é seu pecado favorito!
BAFÔMETRO CINEMATOGRÁFICO
E mais uma vez o Oscar de melhor ator foi para atuação de um personagem alcoólatra, o que prova mais uma vez que se você falar sobre nazismo ou criar um personagem viciado na água que passarinho não bebe, você tem fortes chances de ganhar um Oscar para enfeitar sua estante comprada em suaves prestações. Bom, o tema holocausto agrada e muito a academia, já que a mesma é formada em sua vasta maioria por judeus, mas será que sua vasta maioria também seria de alcoólatras? Tudo bem que a votação para dar o Oscar de melhor atriz à Sandra Bullock não deixa dúvidas sobre esta questão, mas a de ator foi mais que merecida e parece ter sido computada num momento de lucidez dos senhores do Oscar. Jeff Bridges é literalmente O cara (dude) e já estava mais do que na hora de ser agraciado com a estatueta. Bridges é do tipo outsider e distante do glamour e da vaidade comum de Hollywood. Sua dobradinha merecida este ano (Oscar e Globo de Ouro) se deve a sua brilhante atuação no filme Crazy Heart, onde Bridges interpreta um cantor country de muito sucesso no passado, tentando sobreviver bem ao ostracismo presente. Ray Milland (Farrapo Humano) e Nicolas Cage (Despedida em Las Vegas) receberam suas estatuetas douradas pelas atuações parecidas nos papéis de escritores em crise e viciados na “marvada” pinga. Ambos representaram com muita propriedade e uma certa sutileza fugindo do estereótipo de bebum caricato para cair na triste e real situação de um alcoólatra, que diferente dos comerciais de bebidas não possuem glamour algum, muito menos charme.
Em Crazy Heart isto é mostrado com mais emoção ainda, já que o personagem de Bridges não tem nem de longe tendências suicidas e muito menos ataques agressivos, pois ele apenas convive com a solidão e o triste fato de seu tempo já ter passado. A bebida é apenas uma forma de aliviar esta dor e o vício uma conseqüência fatal desta escolha. Colin Farrell faz o discípulo do protagonista com a diferença de ser o cantor mais popular da América (uma espécie de Garth Brooks) despido de estrelismo e sempre pajeando à distância seu mestre amargurado. A música tema do filme “The Weart Kind” foi também vencedora do Oscar e este singelo colunista aqui, fã de Hank Willians (o Papa do country) recomenda a trilha sonora que é bem bacana. Vale lembrar que Jeff é músico e assim como Val Kilmer em Doors e Joaquim Phoenix em Johnny & June cantou em todas as canções, diga-se de passagem, muito bem, aliás, com uma voz grave que lembra bem de perto o timbre do slowhand Eric Clapton. Para os fãs de Bruno & Marrone, Esperma & Tosóide, Tá deu & Tá dando, entre outras duplas cafonas não recomendo o filme apesar do apelo country, pois diferente do que se prega no Brasil com este mundinho “sertanojo”, no filme não há apologia alguma sequer à rodeios e muito menos à bebida, muito pelo contrário, é sutilmente um filme sobre consciência e abstinência. Fato este que deve estranhar e muito alguns, num país onde sertanejos disparam canções machistas e extremamente comerciais ao mercado das drogas legais. Fica uma reflexão barata: é justo um cantor (???) famoso embriagado causar um acidente com vítimas fatais, não ser preso e ainda gritar em seus shows pelo país afora: “É bebedeira, é bebedeira...só zueira, só zueira...” e ficar cada vez mais rico??? Fico por aqui, meus caros sete leitores, com meu suquinho de laranja e a triste certeza que assim como a academia, nós premiamos alcoólatras, com a diferença de que lá pelo menos, os premiados são personagens da ficção e aqui infelizmente são personagens bufões de nossa dura realidade. Fecha a conta para mim, por favor.
sábado, 13 de março de 2010
O mundo imaginário de Terry Gilliam
Um dos maiores grupos de humor do mundo, sem sombra de dúvidas, foi Monty Python. Os caras estavam anos-luz a frente de seu tempo com piadas que nos dia de hoje já incomodariam muita gente, imagine há quatro décadas atrás? Além dos textos inteligentes e completamente non-sense, a maior diferença do Python com relação a outros grupos é que eles eram atores acima de tudo. Excelentes atores, diga-se de passagem, e anarquistas por vocação. Claro que na Inglaterra, assim como nos EUA se tem esta vantagem no quesito liberdade de expressão, pois lá se faz humor com quem quiser e sobre o que quiser, diferente de alguns países sul americanos que até no humor há uma censura velada, porém ativa e nada engraçada. Mas deixando estes pormenores de lado e voltando ao que interessa, umas das crias do Python foi o cineasta Terry Gilliam, que ao lado de outro Python, Terry Jones, dirigiu clássicos do grupo para o cinema, como Cálice Sagrado e a Vida de Brian. Em vôo solo, Gilliam dirigiu Brazil – o filme, não o país, porque se fosse talvez estaríamos melhor -; 12 macacos - com Brad Pitt aliás em ótima atuação -; e Medo e Delírio sobre as viagens do criador do jornalismo Gonzo, mr. Hunter Thompson, entre outros filmes. Terry conheceu Heath Ledger quando o dirigiu em Irmãos Grimm, mais uma fábula - desta vez sobre o mundo das fábulas -, porém como nem tudo são flores, os produtores acabaram finalizando o filme e o resultado não fora o que Terry tinha em sua brilhante mente, mas ao menos nasceu daí a amizade e a promessa de trabalhar com Ledger de novo. Assim que o jovem finalizou as gravações de Cavaleiro das Trevas, com seu inesquecível e alucinado Coringa, a promessa de Terry foi cumprida. O filme seria “O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus”, mas a fama de azarado de Terry (que já perdeu cenários com chuvas, perdeu investidores, brigou com produtores, teve filmes modificados, etc) desta vez supriu as expectativas de qualquer nuvem negra e durante as gravações recebe a notícia inesperada da morte do amigo e protagonista do filme: Heath Ledger. Mas a criatividade de Gilliam, posta à prova de novo, não decepciona e com a ajuda de três grandes amigos de Ledger - Johnny Depp, Jude Law e Collin Farrell, a produção é finalizada com uma jogada de mestre. Como a história se passa entre sonho e realidade, e Ledger havia gravado todas as cenas do plano realidade, o diretor decidiu então que no plano dos sonhos o personagem teria outras aparências distintas, aí entram as três estrelas convocadas para salvar a produção, que aliás não só cumprem esta função como enriquecem a obra, já que somam-se talentos, carismas e a magia, pois em alguns takes (em especial os de Depp) chega-se a confundir-nos se é Heather mesmo em cena. O filme, como em todos de Terry, segue numa sintonia diferente do casual, em seu tom surreal e sinistro, que talvez só Burton entendesse das ferramentas para tal, mas agrada e muito aos olhos acostumados com a obra do ex-Python. Nele, há balões com cara de gente, escadas que chegam às nuvens, bares no meio do nada, policiais travestis (referência aos números musicais de Monty Python), espelhos mágicos, muita cor, muita fantasia e claro as alfinetadas à sociedade de consumo. A história – que lembra as de nosso Ariano Suassuna - é sobre um velho imortal que faz um pacto com o diabo (claro, Tom Waits magnífico) para se tornar jovem novamente por causa de uma paixão. Seu desejo é concedido porém o preço é a alma de sua filha quando ela fizer dezesseis anos. Na jornada que se sucede ele vai apostando almas com seu oponente em números teatrais que fariam Gabriel Vilella se sentir lisongeado. O imaginário de Parnassus convence, agrada e merecia mais indicações neste Oscar, pois baseando-se nos indicados, sem sobra de dúvidas seria uma boa opção. Se bem que Sandra Bullock faturar Oscar de melhor atriz nem a imaginação fértil de Parnassus ou de Gilliam conceberia.
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