quinta-feira, 26 de abril de 2012

AMORES EXTRAORDINÁRIOS

Recentemente, fazendo uma pesquisa para uma matéria encomendada, pude notar que há centenas de malucos obsecados pelas idéias de mensagens subliminares.
Gente que crê, por exemplo, que certos astros do rock incluem mensagens satânicas em suas obras, se ouvi-las ao contrário. Fica a pergunta: quem ouve disco desta maneira? Aliás, quem ouve disco hoje e não cd? Se o diabo é tão inteligente como a gente espera, tu acha que ele ia querer passar sua mensagem a um idiota que nem sequer sabe inserir um cd corretamente no aparelho? Entre inúmeras outras babaquices deste porte, há um ponto em comum nesta gente: tentar provar que Walt Disney era o demônio e deixou a marca da besta em suas obras. Teve um cidadão que descobriu a palavra sexo 46 vezes, disfarçada nas cenas de A Bela e a Fera. Bom, uma pessoa com esta “capacidade” deveria ser internada em estado grave,
pois é nitidamente viciada em sexo. Quem fica procurando a palavra sexo “frame by frame”? Não seria melhor alugar um pornô? Ao invés de procurar mensagens subliminares porque não dar atenção para as explícitas? Se ouvir um disco do Black Sabath ou do Iron Maiden ouvirá mensagens satânicas com o cd girando da maneira correta. Resta você distinguir o que é arte e ficção do que pode vir a ser uma mensagem estúpida para você. Talvez as mensagens que mais nos destruam sejam as contidas nos discos dos Bee Gees ou do Roberto Carlos, afinal, conhece algo mais letal do que a paixão? Negociada e vendida há séculos para que nós, meros mortais possamos absorver a idéia de que
só o amor nos salva. Mas ai estes mesmos cidadãos nos vendem em suas canções a dor e a desilusão de uma separação que é inevitável em 99% dos casos. Todo mundo que respira já sofreu uma desilusão amorosa e todos aqueles que amam, continuam destruindo seus corações, seguindo mensagens explicitas e não subliminares. Nos desenhos da Disney o bem sempre vence e o amor dura pra sempre, então esta imagem vendida é bem pior do que os 46 “sexos” espalhados pelo desenho. Amiguinho (a) o amor acaba um dia e um lado vai sofrer muito. O mal às vezes vence o bem, ainda mais num país como o Brasil onde você vê todo dia a impunidade. Não caia no conto do “aqui se faz aqui se paga” porque isto é blefe para iludir
você sobre um senso de justiça celestial, que a história já provou que não há! A vida é um jogo de sorte ou azar e isto não tem nada a ver com sua bondade ou maldade. A pessoa é boa, porque a índole é boa. A pessoa é má porque sua índole é má e fim de papo. Não seja bom esperando recompensas, seja bom, porque você o é. Seguindo as mensagens explicitas da Disney, a que mais me comove e que de fato é uma verdade absoluta é a do excelente Mogli. O segredo da vida é buscar o necessário, pois é o extraordinário que nos consome. Você pode comer uma comida simples (necessário), mas deseja comer uma comida mais sofisticada e cara (extraordinário); pode ter um carro comum que te leve onde quer ir, mas deseja o último modelo possante e luxuoso; pode usar uma roupa simples, mas quer usar uma roupa com uma etiqueta cara;
pode viajar para qualquer parte do mundo com uma mochila nas costas, mas você só vai se for pra ficar em hotel caro, comer em lugar caro e comprar tudo que vê pela frente;você pode ter cinco amigos de verdade que sabem quem é você e o amam, mas você quer ter cinco mil no Face, que mal sabem e nem querem saber de sua existência; você pode ter um amor sincero e que te cative, mas você quer aquele que cause inveja nos amigos (as) e que sempre será puro jogo de interesses; você pode ser feliz com tudo o que tem, mas quer tudo o que o SISTEMA coloca diante dos seus olhos. Ao invés de buscar palavras como sexo, escondidas nos desenhos Disney ou marcas do mal nos CDs, porque não observar as mensagens simples e práticas da vida para se viver bem?

segunda-feira, 9 de abril de 2012

O ROCK VISCERAL DO FOO FIGHTERS



Há quase duas décadas, que o rock vem sendo sufocado pela ganância de empresários de artistas mecânicos com suas músicas eletrônicas e eterna culto ao ego, mas uma única banda continua forte e na luta, não só mantendo a chama do rock viva,como ironicamente faturando todos prêmios e ficando no topo das hit parades. Esta banda é o Foo Fighters, a prova concreta de que o rock alternativo e verdadeiro ainda vende e muito. No Lollapalooza deste sábado, a estrela da noite mostrou ao vivo toda esta fortaleza de som e fúria para 70 mil fãs e consumidores de música que aguardavam ansiosos esta visita por 17 anos. E não foi por menos, já que Dave Grohl, com a ajuda de seus rapazes, pagou sua dívida com São Paulo após o fatídico show do Nirvana em 93, quando ocupava a vaga de baterista da banda liderada por Kurt Cobain. O tempo passou, Kurt morreu, Nirvana acabou e Grohl conseguiu uma proeza: fazer sucesso com suas próprias canções, sem em nenhum momento tocar Nirvana em shows ou sequer fazer alguma média como ex-baterista de tal banda. Seria como se ele nunca tivesse ocupado esta vaga e sim surgido apenas dos bares e festivais, como um artista independente qualquer, assim como eu, você e outros músicos que tentam a sorte neste mercado tão concorrido e profanado. Para não me estender nesta área biográfica recomendo o livro “This is a call - A vida e a música de Dave Grohl”, da editora Leya, que é material obrigatório não só para fãs,mas para quem gosta de música e de aprender algo proveniente de uma vida simples, mas de muito sucesso. O show do FF começou pontualmente às 20:30 depois do sofrimento dos fãs de aguentar bandas sem a menor graça e ainda a desorganização do evento que inexplicavelmente colocou Joan Jett, a segunda estrela da noite, num palco mega distante, antes do show do FF, coibindo indiretamente fãs de Grohl a assisti-la. Ou se via Joan Jett e depois Foo Fighters a muitos metros de distância, ou se aguardava, claro no palco principal a chegada do prato principal. Até porque como não havia um lugar digno sequer para a imprensa ver o show, este humilde jornalista teve de atacar de Leônidas, gritar “Tonight We Dine in Hell” e se atarracar no meio não de 300, mas de milhares, para ver o show ali do gargarejo que é onde se vive de fato o espetáculo e pode-se se escrever com verdade o que se viu. Pergunta que não quer calar: porque Joan no palco distante e a chatíssima e sem graça banda TV on the Radio no principal? Porque não passar no mínimo o show dela pelo telão do palco principal? Mistérios...Mas vamos ao que interessa. O show começou com a favorita de Dave, a música All My Life, que teve na sequência o maior número de hits que uma banda já foi capaz de produzir e reproduzir ao vivo num show de grande porte, levando o público ao delírio. Grohl preenche cada canto do palco e parece olhar nos olhos de um por um dos 100 mil espectadores. Seu sorriso de moleque demonstra a emoção e acima de tudo a satisfação de ser um abençoado na carreira.Exímio e prolífico compositor, já tatuou seu nome na história do rock como um dos maiores “hit-makers” do estilo, além de ser o sujeito mais boa praça da categoria, emprestando seus dotes (e são muitos, pois toca todos instrumentos) em vários shows e gravações de inúmeros artistas conceituados ou não. O baterista consagrado do Nirvana e até hoje considerado um dos melhores do mundo, passou as baquetas para o não menos competente e carismático Taylor Hawkins, que visivelmente chorou de emoção ao ouvir uma multidão de brasileiros gritando seu nome. Mesmo com a voz falhando em função dos gritos absurdos e potentes, Dave não amarelou um segundo sequer e cantou duas horas e meia do mais puro e autêntico rock and roll, com direito a cover do Pink Floyd (In The Flesh), solo de gaita de um fotógrafo de palco e ainda a cereja do bolo que foi a jam com Joan Jett tocando “Bad Reputation” e o hino mundial do rock “I Love Rock And Roll” ilustrando um dos momentos mais emocionantes da história dos shows de arena, sem dúvida. Foo Fighters condensou tudo que há de melhor na história do rock em uma única banda. É aquela turma do fundão, mas que prestava atenção nas aulas e se deu bem. Produziram assim uma banda que caiu na graça não só do público mas de mestres como Jimmie Page e Lemmy. Taylor teve seu momento Freddie Mercury e seu famoso set vocal “iaiaêo”, correspondido pelo público aos moldes de um show do Queen. Já o guitarrista Pat Smear nitidamente empolgado com a multidão, deu seu show à parte, dançando, pulando e estragando duas guitarras no melhor estilo Pete Townshend. No mais, Foo Fighters correspondeu o óbvio, mas com louvor, pois foi a estrela absoluta do festival. Que a promessa de Dave se cumpra, já que coberto de emoção se desculpou por ficar tantos anos sem fazer show em SP, já garantindo uma nova visita para a próxima turnê. A galera agradece e promete ficar no aguardo enquanto lá se vai o nosso herói, um sujeito comum, mas com um talento e um carisma fora do comum.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A VERDADE PODE ESTAR NO OVO



Nunca entendi a veneração pela cruz. Seria como ao invés de venerar Gandhi, venerar a bala que o matou ou venerar a forca que tirou a vida de Tiradentes. Eu sempre achei a cruz algo negativo, pois nela foi pregado o maior homem que o mundo já conheceu. Eu venero a sua palavra, o seu amor e acima de tudo a sua filosofia de vida que infelizmente, muitos que veneram a cruz e se dizem seguidores de Cristo, não agem nem perto disto. Jesus não acumulou riquezas, não teve preconceitos, não julgou e nem condenou ninguém, porém o homem de sua época de nada difere do de hoje, pois a busca desenfreada pela riqueza continua, o preconceito é latente e julgamento e condenação continuam a existir na boca da população como um todo. Quantos outros “Jesuses”, Deus pode ter encaminhado nestes mais de dois mil anos e nós também os matamos? Gandhi, Che,Chico Mendes, e tantos outros que lutaram contra um governo ou uma ordem em prol dos menos afortunados e foram o que? Exterminados! E a população lembra disto? Jesus foi condenado pelo povo que escolheu soltar Barrabás, um criminoso, e condenar este nobre homem que cometeu um pecado mortal até hoje: ser subversivo. Por pregar o bem e propor uma nova filosofia de vida foi invejado por muitos e odiado pela maioria que o achavam excêntrico, louco, chato e que depois da morte, ressurreição e revelação se tornou o que é. Mas será que esta era mesmo a intenção de Deus? Creio que não e que a decepção Dele foi maior. É como disfarçar um astro de mendigo e depois que ele é humilhado e escorraçado, se revelar quem de fato é e as pessoas o cultuarem. Qual o sentido disto? Nenhum, a não ser a triste descoberta de que o homem é fútil, ganancioso e interesseiro, nada mais. O que Jesus Homem tentou provar era exatamente o contrário e parece que não conseguiu. As tentações do diabo que ele sucumbiu no deserto são as mesmas que hoje quem sequer tenta sucumbir é chamado de louco,de boçal e até idiota. Quem recusa uma noite de sexo com uma mulher linda, mas casada, é considerado gay; quem não bebe e vive sóbrio, é careta; quem discursa sobre injustiças e indiferenças é chato; quem não aceita se vender em troca de dinheiro, é estúpido; e por aí afora, mas claro, todos leem a bíblia e fazem o sinal da cruz frente a uma igreja, então todos são bons de alma e coração. Praticamente uma nação repleta de “Jesuses”. Que nesta sexta feira ao invés de você se preocupar em não comer carne vermelha, que mesmo perante a crueldade que os animais são expostos, você come o ano inteiro e se delicia com tal sofrimento, você reflita sim é o rumo que sua vida tem tomado e se de fato és um seguidor de Jesus e tem agido como tal. Olhe no olho do seu filho na hora do almoço em família e perceba o quanto você é importante a ele e o exemplo que tem dado. Seria você digno de um abraço sincero de Jesus Homem ou um aperto de mão de Pilatos? Perante seus amigos, colegas de trabalho, esposa, família, quantas vezes você agiu como um Judas que tanto é criticado e até espancado a cada ano nesta data? Quantas vezes mentiu, difamou, entregou alguém aos leões em troca de nada ou de 30 moedas? Esta na hora de uma reflexão solitária, distante de pastores, líderes, livros, seitas, etc...Refletir a real importância que Jesus teve e do porque de fato ele foi morto e não o “por quem”. Deus é um grande otimista e tenho quase certeza de que ele não mandou apenas um filho para ser protagonista de uma novela trágica, onde a verdadeira mensagem é apagada pelas cenas de intriga, violência e efeitos especiais. Deus mandou e mandará vários para ver quando de fato nós vamos compreender a Sua palavra, a Sua verdade e nos tornarmos dignos de ser filho de quem somos. Neste jogo de xadrez entre Deus e o diabo, por mais vezes que Ele tenha ficado em xeque ainda tem a inteligência suprema e a sagacidade para dar um xeque mate no seu oponente, mas isto, só depende de nós, peças mágicas deste tabuleiro chamado Humanidade.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

O MURO DE ROGER WATERS




Há tempos venho dizendo que artista faz show, mas só mesmo gênios fazem espetáculos. Neste domingo Roger Waters confirmou minha teoria com seu deslumbrante The Wall que deixou 70 mil pessoas em estado de êxtase absoluto. Para quem passou dos 40, o disco que vendeu 25 milhões de cópias pelo mundo já proporcionou grandes momentos e já fez parte da trilha sonora da vida de muitos. O filme, lançado em 82, dirigido por Alan Parker, foi uma verdadeira porrada na época e é até hoje indiscutivelmente a melhor ópera rock de todos os tempos. Para os mais jovens, o titio Roger Waters é o homem que compôs Another Brick in The Wall que você já cantou diversas vezes, mesmo sem saber que raios era Pink Floyd. Ironicamente o espetáculo da turnê de lançamento do álbum teve pouco menos que apenas 30 apresentações em sua época e depois já em 1990, com Roger Waters fora do Pink Floyd, transformou-se num gigante espetáculo conduzido pelo mesmo para comemoração da queda do muro de Berlim. Este show contava com a presença de Cindy Lauper, Scorpions, Bryan Adams e outros ídolos da época. A espetacular nova montagem de The Wall para os palcos realmente impressiona. Com um custo de 60 milhões de dólares e já vista por quase dois milhões de pessoas, impressiona a todos e dispara na liderança de melhor espetáculo, deixando para trás,bem para a trás, artistas como U2, Madonna e Lady Gaga. O set list do show segue a risca a trilha do filme ou o encarte do disco, como queira o leitor. Toda a dor, angústia e solidão frente à violência e estupidez da guerra somada a um toque de 1984 de George Orwell, faz desta obra de Waters, sem dúvida a mais importante e genial de sua carreira. A morte de seu pai, vítima da segunda guerra mundial, de fato o abalou e serviu como fomentadora para a criação de letras maduras e melodias operescas, tornando-o atemporal, pois ainda hoje o tema é completamente verossímil e atual. O muro que serve de metáfora para o isolamento do mundo perante injustiças, dores e neuras, físico ali no espetáculo com seus 137 metros de largura e onze de altura, formado por 424 blocos recicláveis,se transforma no maior telão em alta resolução do mundo. É de tirar o fôlego as transformações com o muro durante o show. Ele se quebra, abre janelas, monta, se desmonta, projeta imagens psicodélicas de Gerald Scarf, efeitos especiais, fotos de vítimas de guerra e claro, muitas mensagens subversivas e anti-governamentais. O muro é constantemente grafitado por ninguém menos do que grafiteiro e ativista político inglês Banksy, ícone da contra cultura e que até, graças a inúmeros efeitos especiais, faz uma ponta no show. O brasileiro Jean Charles, assassinado pela policial inglesa no metrô de Londres é homenageado ao final da canção “Happiest days of our lives”,ao lado de diversas pessoas que perderam a vida em guerras. Waters dedicou o show de SP a Jean, a quem chamou de vítima do terrorismo do estado. A temática do espetáculo, apesar de toda parafernália visual, é política. Há diversas mensagens subliminares e outras explícitas, como a grafitada no gigante porco inflável que voava sobre a plateia, com a frase “O novo código florestal, irá matar o Brasil”. Na belíssima canção Mother, com direito a uma mãe gigante vigiando o filho Waters, na frase “Devo confiar no governo” o muro dava a resposta com um gigante No Fucking Way, traduzido para português logo em seguida e claro, ovacionado pela plateia. A clássica AnotherBrick in The Wall, contou com a participação de crianças de Heliópolis para o coro infantil e uma coreografia junto a um boneco gigantesco de professor. Com um espetáculo realmente impressionante, Roger Waters se mostra em forma e leva sua mensagem anti-guerra e contra-sistema pelo mundo afora como um grande circo multimídia apolítico e contestador. Gratificante saber que ainda há no mundo milhões de pessoas que são tomadas e tocadas por arte e não apenas seguidoras de canções com coreografias para macacos amestrados e letras feitas apenas por vogais. Passaram-se 30 anos, mas a chama do rock ainda flama e as faíscas de uma revolução pipocam pelo ar. Que os muros da ignorância sejam um dia enfim derrubados e a arte nos aponte uma resposta, um novo caminho ou nunca passaremos de apenas mais um tijolo neste eterno muro de lamentações.