segunda-feira, 9 de abril de 2012

O ROCK VISCERAL DO FOO FIGHTERS



Há quase duas décadas, que o rock vem sendo sufocado pela ganância de empresários de artistas mecânicos com suas músicas eletrônicas e eterna culto ao ego, mas uma única banda continua forte e na luta, não só mantendo a chama do rock viva,como ironicamente faturando todos prêmios e ficando no topo das hit parades. Esta banda é o Foo Fighters, a prova concreta de que o rock alternativo e verdadeiro ainda vende e muito. No Lollapalooza deste sábado, a estrela da noite mostrou ao vivo toda esta fortaleza de som e fúria para 70 mil fãs e consumidores de música que aguardavam ansiosos esta visita por 17 anos. E não foi por menos, já que Dave Grohl, com a ajuda de seus rapazes, pagou sua dívida com São Paulo após o fatídico show do Nirvana em 93, quando ocupava a vaga de baterista da banda liderada por Kurt Cobain. O tempo passou, Kurt morreu, Nirvana acabou e Grohl conseguiu uma proeza: fazer sucesso com suas próprias canções, sem em nenhum momento tocar Nirvana em shows ou sequer fazer alguma média como ex-baterista de tal banda. Seria como se ele nunca tivesse ocupado esta vaga e sim surgido apenas dos bares e festivais, como um artista independente qualquer, assim como eu, você e outros músicos que tentam a sorte neste mercado tão concorrido e profanado. Para não me estender nesta área biográfica recomendo o livro “This is a call - A vida e a música de Dave Grohl”, da editora Leya, que é material obrigatório não só para fãs,mas para quem gosta de música e de aprender algo proveniente de uma vida simples, mas de muito sucesso. O show do FF começou pontualmente às 20:30 depois do sofrimento dos fãs de aguentar bandas sem a menor graça e ainda a desorganização do evento que inexplicavelmente colocou Joan Jett, a segunda estrela da noite, num palco mega distante, antes do show do FF, coibindo indiretamente fãs de Grohl a assisti-la. Ou se via Joan Jett e depois Foo Fighters a muitos metros de distância, ou se aguardava, claro no palco principal a chegada do prato principal. Até porque como não havia um lugar digno sequer para a imprensa ver o show, este humilde jornalista teve de atacar de Leônidas, gritar “Tonight We Dine in Hell” e se atarracar no meio não de 300, mas de milhares, para ver o show ali do gargarejo que é onde se vive de fato o espetáculo e pode-se se escrever com verdade o que se viu. Pergunta que não quer calar: porque Joan no palco distante e a chatíssima e sem graça banda TV on the Radio no principal? Porque não passar no mínimo o show dela pelo telão do palco principal? Mistérios...Mas vamos ao que interessa. O show começou com a favorita de Dave, a música All My Life, que teve na sequência o maior número de hits que uma banda já foi capaz de produzir e reproduzir ao vivo num show de grande porte, levando o público ao delírio. Grohl preenche cada canto do palco e parece olhar nos olhos de um por um dos 100 mil espectadores. Seu sorriso de moleque demonstra a emoção e acima de tudo a satisfação de ser um abençoado na carreira.Exímio e prolífico compositor, já tatuou seu nome na história do rock como um dos maiores “hit-makers” do estilo, além de ser o sujeito mais boa praça da categoria, emprestando seus dotes (e são muitos, pois toca todos instrumentos) em vários shows e gravações de inúmeros artistas conceituados ou não. O baterista consagrado do Nirvana e até hoje considerado um dos melhores do mundo, passou as baquetas para o não menos competente e carismático Taylor Hawkins, que visivelmente chorou de emoção ao ouvir uma multidão de brasileiros gritando seu nome. Mesmo com a voz falhando em função dos gritos absurdos e potentes, Dave não amarelou um segundo sequer e cantou duas horas e meia do mais puro e autêntico rock and roll, com direito a cover do Pink Floyd (In The Flesh), solo de gaita de um fotógrafo de palco e ainda a cereja do bolo que foi a jam com Joan Jett tocando “Bad Reputation” e o hino mundial do rock “I Love Rock And Roll” ilustrando um dos momentos mais emocionantes da história dos shows de arena, sem dúvida. Foo Fighters condensou tudo que há de melhor na história do rock em uma única banda. É aquela turma do fundão, mas que prestava atenção nas aulas e se deu bem. Produziram assim uma banda que caiu na graça não só do público mas de mestres como Jimmie Page e Lemmy. Taylor teve seu momento Freddie Mercury e seu famoso set vocal “iaiaêo”, correspondido pelo público aos moldes de um show do Queen. Já o guitarrista Pat Smear nitidamente empolgado com a multidão, deu seu show à parte, dançando, pulando e estragando duas guitarras no melhor estilo Pete Townshend. No mais, Foo Fighters correspondeu o óbvio, mas com louvor, pois foi a estrela absoluta do festival. Que a promessa de Dave se cumpra, já que coberto de emoção se desculpou por ficar tantos anos sem fazer show em SP, já garantindo uma nova visita para a próxima turnê. A galera agradece e promete ficar no aguardo enquanto lá se vai o nosso herói, um sujeito comum, mas com um talento e um carisma fora do comum.

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