quinta-feira, 30 de junho de 2011

AO PROFETA RAUL



Raul Seixas completaria 66 anos ontem, e me bateu uma questão: será que o rei do baioque estaria na atividade se ainda vivo? Difícil crer que haveria espaço para um Raul, mesmo se por utopia de fã,ele não estivesse tão debilitado e sim com o apogeu dos seus 45 kilos de força poética esmagadora. Vivemos um tempo no mínimo estranho, onde até mesmo as novelas estão se rendendo à canções de outrora para ilustrar a vida de seus personagens, pois há uma falta de material irremediável no nosso país. Artistas sem histórico algum de palco e acima de tudo, de vida, dominam as rádios e as arenas lotadas. Será que a população tão desgastada resolveu optar pelo “pule, bote as mãos pra cima, grite, mas por favor, não pense?” Seríamos regidos pela profecia emblemática de George Orwell e seu Big Brother algoz e vigilante? O pai do rockbrazuca lançou seu primeiro disco em 1968 ao lado dos Panteras e desde criança já filosofava e já devorava os livros da biblioteca de seu pai, usando todo este alimento para a imaginação para criar desenhos, personagens, e enredos, onde o personagens principal era um cientista maluco chamado "Mêlo" que viajava para diversos lugares imáginarios como o Nada, o Tudo, Vírgula Xis Ao Cubo, Oceanos de Cores. Melô, seu alter ego, o acompanhou por toda a vida buscando as respostas para nossas maiores dúvidas: quem somos, de onde viemos e para onde vamos? Plunct, Plact, Zuuum e o pequeno baiano roqueiro se tornou nosso Dylan, nosso Elvis, o suprasumo do nosso anêmico rock and roll, pois a essência de toda arte é o DNA, mas não o DNA de um pai famoso que te põe na mídia, mesmo você sendo um mentecapto, mas sim o DNA de vida, de história, de trajetória, que deixa uma marca indelével na sua mente e que te faz produzir grandes obras que atinjam o alvo: o sentimento de alguém. Roberto viveu histórias de amor lindas, trágicas, e refletiu e reflete isto bem na sua obra. Chico entende a beleza da alma feminina como ninguém pois assumidamente é um amante e um eterno admirador de mulheres e suaobra está lá, impregnada de poesia femina, e assim com Raul e outros mais que vivem sua obra, esta nasce e permanece rígida e inquebrável. Quem hoje em nosso país vive sua obra? O artista de hoje vive (e muito bem) de sua obra, mas não vive sua obra. Ele desfila com pulseira e corrente no peito feita do mais caro ouro de tolo. É tanta mosca em nossa sopa que nem mesmo o Maluco Beleza no auge sua fome, quando tentou carreira no RJ, entornaria este caldo elaborado na mais autêntica panela do diabo. Mas não dá para viver apenas tentando decifrar por quem de fato os sinos dobram, já que nossa música hoje é dominada por Al Capones e Judas.Não há S.O.S. que nos socorra destes tantos carimbadores malucos que nos impedem de ir a lugar algum sem o “selo de qualidade” postado por tais egoístas. Mas mesmo que com a sua arte não seja sorteado nesta loteria da Babilônia, saiba que você ainda pode sonhar e antes que o trem das sete te leve para a viagem final, não pare na pista, meu caro leitor, porque é muito cedo para você se acostumar com esta maça podre que te socam na goela. O segredo do universo talvez seja ser cowboy fora da lei e se não deu na primeira, na segunda, na vigésima, na 743, não importa, tente outra vez.Saia desta paranóia e seja sempre você. Não vista uma placa de aluga-se junto ao peito! Reze à Ave Maria da Rua, e cante bem alto toda a sua verdade. Quando acabar de ler, talvez possa até pensar que maluco sou eu, mas sou apenas um maluco beleza, uma eterna metamorfose ambulante!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Dzi Croquettes



Em plena ditadura militar, sobretudo logo após o AI5, ato institucional que impunha censura em toda e qualquer obra, de acordo com o braço forte do governo, eis que surge o grupo Dzi Croquettes, trazendo uma nova linguagem teatral e musical, causando furor, surpresa e encantamento. O grupo serviu como fonte de inspiração para Ney Matogrosso, Miguel Falabella, Claudia Raia, Pedro Cardoso, As Frenéticas e mais uma porrada de gente de sucesso que bebeu da fonte destes homens que se vestiam de mulheres e criavam espetáculos de fazer inveja à Broadway, com o glamour de primeiro mundo, em condições de terceiro. Formado por 13 atores bailarinos, a família (como era considerado o grupo) era comandada pela mãe (Mammy), o excepcional ator Wagner Ribeiro, que praticamente foi um dos precursores no país a quebrar a quarta parede, ou seja, trazer o público para dentro do espetáculo, e a instituir os números de humor besteirol e stand up em nossas terras.Wagner era um gênio da comédia física e verbal. Ao seu lado, o pai (Pappy), o excepcional bailarino americano Lennie Dale, que foi considerado a ovelha negra da Broadway nos EUA, por não suportar ficar num espetáculo sequer e star sempre à frente do seu tempo. Dale acabou achando seu lugar no Brasil, onde fez amigos, e se tornou um ícone da dança, cultuado por seus brilhantes números musicais. Seu talento era descomunal e conquistou tietes fervorosas e até uma fã crítica, a estrela da época, Elis Regina, que o tinha como sua maior escola e referência artística. Dale imortalizou a versão de Elis para “Dois pra lá, dois pra cá” de João Bosco e ainda fez um dueto com a pimentinha cantando “Samba do Avião” do maestro Tom Jobim. O documentário Dzi Croquettes, recentemente lançado e recordista de prêmios, faturando 13 até o momento desta coluna, conta a trajetória deste grupo que revolucionou o teatro brasileiro. O filme é orquestrado pela filha de um dos Dzi, o cenógrafo do grupo, Américo Issa. Tatiana Issa conviveu com a trupe desde quando era criança e trás na sua memória muitas histórias dos “palhacinhos”, como carinhosamente os chamava. Repleto de imagens perdidas do grupo e de depoimentos de Miele, Betty Faria, Falabella, Pedro Cardoso,Claudia Raia, Jorge Fernando, Gilberto Gil, Norma Bengel e mais uma porção de estrelas, é um registro obrigatório para quem quer entender um pouco mais sobre a cultura teatral e musical de nosso país. Os Dzi Croquettes conquistaram carreira internacional e foram sensação em boates da Europa, após cativarem Liza Minelli, fã e apoiadora do grupo, que os apresentou para Mick Jagger, Catherine Deneuve, Omar Sharif, entre outros ilustres que se tornaram fãs destes homens fortes que tinham a força do macho e a graça da fêmea; estes andrógenos que causavam reações adversas de teor sexual na platéia. Eram ousados,irreverentes, eróticos, ou como o nome já diz, eram apenas croquetes de carne, assim como qualquer ser humano. O que mais nos admira é saber que numa época de ditadura militar, onde o país regido sob censura, guardava espaço para grupos deste porte, hoje, onde por teoria avançamos e muito, somos obrigados a presenciar casos de intolerância sexual. É um absurdo imenso vivermos sob a censura do preconceito, onde tudo que seja diferente de nossos padrões estéticos,religiosos e culturais tenha a marca da discórdia. O mantra de Wagner Ribeiro - a mãe - era “só o amor constrói”, o que me parece ser a regra básica para a criação de uma sociedade mais justa.A imagem que os Dzi Croquettes nos deixaram é a imagem da irreverência, da alegria, do bom humor, da liberdade sexual e da busca pelo prazer de cada um, afinal, eles não eram homens e nem eram mulheres, eles eram apenas GENTE! Respeito e amor é só o que nos falta para construirmos um mundo melhor onde a fome, a miséria, a guerra e a intolerância seja abolidas e a graça e o bom humor voltem a reinar.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

MAMONAS SE FORAM, MAS QUE O HUMOR RENASÇA



Estréia nesta sexta feira nos cinemas, o documentário Mamonas para Sempre. Tive o prazer de assistir a pré estréia e devo ,confessar que o diretor Claudio Kahns conduziu com muita sensibilidade a direção do filme mostrando ao público de fato quem eram estes cinco garotos de Guarulhos, que realizaram a utopia de transformarem-se no maior fenômeno da música pop deste país. Eu fiz parte desta história, de maneira discreta, pois minha antiga banda “Pena Máxima” chegou a fazer vários shows tendo a banda Utopia como banda de abertura. Pois é, já fui mais famoso que Mamonas nos tempos de outrora. Brincadeiras à parte, claro, convivi tempo suficiente com eles para atestar o documentário e todo seu teor, inclusive a cena do desabafo no Thomeuzão que não foi lenda. Aliás, o fato foi além daquilo e o diretor foiaté sutil, assim como também mostrou respeito e sensibilidade ao ocultar detalhes sobre o acidente que infelizmente pôs fim a carreira desta trupe. A trajetória de sucesso da banda foi muito bem roteirizada usando como condutores, o empresário Samy Elia e o produtor e empresário Rick Bonadio, auxiliados por depoimentos de familiares mesclados à cenas, muitas cenas de shows e bastidores dos Mamonas. Bonadio, em certo momento, descreve a personalidade de cada um dos meninos e conta detalhes desta trajetória do apático Utopia ao fenômeno Mamonas, incluindo o convite que Boni (na época o todo poderoso da Globo) fez para que mamonas assinassem contrato de exclusividade com a Globo, já que na guerra Gugu x Faustão, a banda foi protagonista de dois recordes de audiência, mantidos até hoje, o que prova que o Brasil abraça com carinho a irreverência musical, até porque o rock and roll na sua essência sempre foi irreverente, vide Beatles e os Rolling Stones. Muitos produtores acéfalos acham que Mamonas inventaram o humor no rock e que qualquer coisa que surja depois deles é mera cópia. Leso engano, meus caros, pois Mamonas tinham influência total de vários grupos irreverentes que também foram sucesso no Brasil como Secos & Molhados, Ultraje a Rigor, entre outros, incluindo até o brega pop Falcão, descaradamente imitado por Dinho. Uma de minhas composições,já na fase AeroSilva, a música Piu Piu, seria regravada pela banda Mamonas, pois Dinho e Samuel curtiam a música ainda quando cantavam “sério”, digamos assim, na extinta Utopia e depois já como Mamonas, dentro do carro do Dinho, rindo muito e falando besteira, Piu Piu foi “comprada”. Evidente que nunca fora regravada por eles, então lancei ao lado de meu amigo Roger do Ultraje a Rigor, numa participação mais do que generosa na canção. Em meu último encontro com Dinho, dois meses antes do terrível acidente que finalizou a carreira dos Mamonas, ele estava feliz e dizia que era a prova viva de que tudo é possível. Há mistérios que desconhecemos e a história desta banda faz parte desta incógnita, porém o Brasil merece sorrir novamente e muita gente bacana com este mesmo espírito rebelde, descontraído e bem humorado, merece ter uma oportunidade para que se abra um caminho no meio deste oceano de rockzinho sonso e sertanejos universitários. Mamonas não só provaram que o sonho é possível como também provaram que o brasileiro é eclético e acima de tudo um povo de extremo bom humor, que deseja voltar a mostrar seus dentes cariados ao som de uma bela gargalhada, afinal como diria Beethoven: “A música que é capaz de reproduzir, em sua forma real, a dor que dilacera a alma, também reproduz o sorriso que inebria.”

quinta-feira, 9 de junho de 2011

CIRCO BRAZIL



Parafraseando o saudoso Antonio Marcos, “olhe só que história boba eu tenho pra contar. Quem é que vai querer me acreditar, eu sou palhaço sem querer...” Palhaço de um circo sem futuro,onde ainda se adestram animais. Neste caso, gado. Uma boiada inteira adestrada para comer ração, ficar calada e obedecer o dono do circo. O circo Brazil é triste e não tem a menor graça. As crianças não ganham balas, algodão doce e pipoca. Ganham sim, calos e incisões nas pequenas mãos, por cortarem cana, enquanto criminosos italianos têm passe VIP para assistir ao circo de camarote. O circo Brazil tem senadores malabaristas jogando um para o outro leis e emendas num balé alucinado feito para confundir a mente da platéia. Deputados contorcionistas transformam a mentira numa verdade torta, mal acabada, oriunda da imaginação destes pobres ginastas partidários. Nossos ídolos do futebol fazem acrobacias em suas pernas de pau enfeitadas com anúncios milionários e uma legião de tietes grávidas almejando o tão sonhado alpinismo social, número bastante popular do circo Brazil. O grande número de mágica, vêm das mãos de um ex-chefe da casa “da mãe Joana” civil, que consegue a olho nu duplicar em até vinte vezes qualquer valor, patrimônio, ou algo que o valha, sempre em benefício próprio, alegando que infelizmente o truque só não serviu ainda para transformar seus míseros 6 cm.de ereção, numa anaconda. E por falar em animais, o leão do circo Brazil de tão gordo, graças à ração nutritiva elaborada pela maior carga tributária do mundo, fica deitado na relva como um paxá, elaborando novas formas de abate. Há também o número dos elefantes brancos e superfaturados. Para quem gosta de fortes emoções há o globo da morte que aqui, inovando, é ao ar livre, em nossas estradas esburacadas, rodovias destruídas e marginais infectadas de moto boys suicidas e de homicidas embriagados em seus ataúdes de quatro rodas, coloridos e barulhentos. Os fãs do ilusionismo vão ficar impressionados com a caixa mágica, que consegue fazer desaparecer criminosos ricos e influentes, em questão de segundos. Bastidores nos revelam que esta caixa voa e é chamada de avião, levando para um país distante esta escória, sem que ninguém veja. A banda do circo para fazer jus ao espetáculo, entoa batidões de apologia ao crime, axés de misoginia atestada e ainda sucessos de sertanejo universitário, que reflete bem o que se passa na cabeça de nossos estudantes e futura nova geração do circo: beber cerveja, montar em mulheres e depois chorar uma desilusão amorosa. Como diria, Mrs. Lee, rebelde e madrinha da eterna causa anti-circo: “pegar fogo nunca foi atração de circo, mas de qualquer maneira, neste caso seria um caloroso espetáculo”. Um verdadeiro circo se aproxima. O Cirque de Soleil chega em setembro e quem sabe o dono (os donos) do circo Brazil não aprende como se faz um verdadeiro espetáculo e como se administra um bom circo. Porque não incendiamos de vez este maldito circo Brazil e deixemos a trupe de Soleil e outras mais, cuidarem do espetáculo com maestria, enquanto os ditadores – ou diretores – do Cirque du Brazil investiriam no pão, afinal não é o que o gado, ops, povo, precisa para ser feliz: Panis et circenses! O governo tem de dar o pão e deixar o circo, com os profissionais da área. Não reclame que o ingresso destes circos seja caro, pois no circo Brazil o ingresso é apenas o seu voto, que é grátis, mas gera um prejuízo contínuo. Na próxima eleição faça você o número de mágica, sumindo com toda corja de vigarista que suja o picadeiro. Eu, como Chaplin, continuo sendo apenas um palhaço, o que já me coloca em nível bem mais alto do que o de qualquer político, afinal o mundo sempre foi um circo sem igual, onde todos representam bem ou mal e a farsa de um palhaço é natural...

A BELA DA MANHÃ E DE TODAS AS TARDES




Do dia 08 até o dia 16 de junho, acontece o Festival Varilux de Cinema Francês. O evento trás dez filmes inéditos com o melhor da mais recente produção francesa e ainda contará com debates de atores, produtores e diretores em sessões especiais. Nesta quarta, pela manhã, participei da coletiva de imprensa, onde muito se falou, claro, sobre a qualidade artística do cinema francês, apontando talvez para uma nova tendência onde a voz da mulher está ainda mais ativa e presente, como disse uma diretora da bancada: “a mulher é o futuro do homem e os franceses sabem disto”. À disposição dos jornalistas, estavam o diretor Alain Gagnol, a diretora Caroline Bottaro, as atrizes Yahima Torres, Aure Atika e a homenageada do festival, Sandrine Bonnaire. A atriz Audrey Tatou, a eterna Amelie Poulain, também esta no Brasil, mas não participou da coletiva. Eu quase a entrevistei, porque dei a sorte de cruzá-la no elevador,mas o que saiu da minha boca foi apenas um “Bonjour, tu es belle” e uma anotação à caneta feita em meu braço: “procure um curso de francês urgente, idiota”. Voltando a bancada, Bonnaire, extremamente simpática, comentou sobre o documentário que fez sobre sua irmã autista e também sobre o filme que esta dirigindo onde seu esposo, o ator Willian Hurt, protagoniza. A história fala sobre escolhas e a idéia surgiu, após reencontrar 20 anos depois, o primeiro amor de sua mãe (não o seu pai), que após sofrer tal desilusão se tornou mendigo por opção. Ainda sobre amor e escolhas, Sabrine finalizou o debate com uma frase do filme Xeque Mate, que ela promove no festival, onde diz que “quando assumimos um risco podemos perder algo, mas quando não assumimos risco algum, perdemos tudo.” Logo em seguida, iniciou-se a coletiva com a maior estrela do festival e porque não dizer, do cinema francês: a diva Catherine Deneuve. Dona de uma imponência natural e um charme avassalador, a senhora de 67 anos hipnotizou a todos, com sua elegância descomunal. Considerada uma das mulheres mais belas do século, foi descoberta por Roger Vadim, que também revelou Brigite Bardot e Jane Fonda. O sujeito sabia das coisas. Fumando compulsivamente num ambiente fechado, a jovem senhora surpreendeu a todos pela simpatia e bom humor nas respostas. Ao ser questionada sobre quem era melhor diretor, entre Buñuel, Truffaut ou Polanski, ironizou dizendo que cinema não é corrida e não existe isto de melhor ou vencedor, e se considera uma mulher de muita sorte, por ter sido dirigida por mestres do cinema. Sobre o segredo de sua beleza,ela sem falsa modéstia foi categórica ao revelar que é culpa da genética, pois sua mãe também é linda, mas que não se expor muito ao sol e se hidratar bem, ajuda. Não perdendo o senso de humor, fez piada com as fofocas sobre sua exigência de 400 toalhas brancas, alegando que fora confundida com Sharon Stone, pois não vê sentido num pedido destes, a não ser para fazer com tanta toalha um colchão fofo como o de princesas. Sobre seu novo trabalho, a comédia Potiche, se diz muito feliz por contracenar com seu grande amigo Gerard Depardieu, amante de sua personagem, e poder reviver bons momentos do passado, quando ambos, ainda jovens faziam par romântico no cinema. Com relação a eterna guerra dos filmes estrangeiros contra os block busters americanos,Deneuve crê que a maior arma do cinema americano é sua rede gigantesca de distribuição, o que facilita o acesso ao público. Na França ela diz que mesmo atraídos por este mercado, os franceses ainda mantém uma paixão pelo cinema nacional, o que nivela as coisas. Finalizada a coletiva, Deneuve que considera o fato de ser ícone do cinema, um fardo pesado para se carregar, sai da sala leve como uma pluma flutuando em seu vestido azul, na mente dos presentes ainda incrédulos de respirarem por minutos, o mesmo ar que a eterna Belle de Jour.

sábado, 4 de junho de 2011

O TEATRO MÁGICO DE ALICE COOPER



Dez da noite e um Credicard Hall completamente lotado, aguarda o momento de uma experiência inesquecível envolvendo rock, horror e teatro. Cerca de 5 mil espectadores, que não se abateram com o terror de um trânsito caótico pós greve de trens e metrôs, aguardavam diante de um palco ocultado por um gigantesco pano com uma sinistra face conhecida por todos presentes, cercada por tumbas e monstros, lembrando decoração de trem fantasma. As luzes se apagam e a demoníaca voz de Vincent Price assombra o ambiente. O pano cai e surge a imagem da estrela da noite, Alice Cooper, em cima de um púlpito gigante, vestindo uma jaqueta de couro condizente à canção Black Widow executada com força e maestria pela brilhante banda que o acompanha. O cenário lembra o dos filmes de James Whale, com máquinas, corpos, sangue, sujeira e uma cortina rasgada, tudo na mais completa perfeição para o pai do rock horror desfilar seus hits. Por falar neles, logo de cara, disparou I'm Eighteen, Under My Wheels e Billion Dollar Babies,armado com um sabre de esgrima repleta de notas empaladas na lâmina, que conforme balançava, caiam nas mãos de felizardos que levariam para casa um belo souvenir. Dando sequência aos hits, foi a vez da música tema da turnê, No More Mr. Nice Guy, enquanto fazia malabares com bastões que também jogava à platéia que se estapeava para obter a prenda. O show muito bem iluminado e com um som absolutamente nítido e potente continuava em ritmo frenético com algumas canções de discos mais recentes e até uma inédita que Cooper apresentou a todos, vestindo uma jaqueta com o nome da mesma escrito em sangue. O momento romântico do show se deu com a balada Only Women Bleed, onde acaricioudançou e beijou uma boneca que lembrava um cadáver em traje de noiva. Mas como não era show do Fábio Jr., mas sim do pai bastardo de Freddy Krueger e da Lady Gaga, na canção seguinte espancou a pobre boneca, encarnando um certo pagodeiro que gosta de bater em mulheres. Um dos pontos altos do show foi com Feed my Frankestein, que com a ajuda de seu auxiliar, que mais parecia um lutador de telecatch, encenou uma típica cena de cientista maluco, com direito a raios, faíscas, estouros, black-out e o surgimento de uma criatura de mais de três metros de altura, invadindo o palco. O monstro coreografava cenas com a banda, lembrando o que Eddie faz no Iron Maiden, com a diferença que aqui o boneco canta e é o próprio avatar macabro de Alice Cooper. Aproveitando o momento de ápice da platéia, emplaca seu maior sucesso, Poison, levando a platéia ao delírio. Mas o teatro não termina por aí e nosso anfitrião surge agora num traje de nazista ao som de Wicked Young Man e assassina um paparazzi no palco, sendo em seguida preso pela SWAT e condenado à morte. O astro homicida é posto numa guilhotina e tem sua cabeça cortada ali na frente de todos. Seu carrasco arranca sua cabeça do cesto e desfila com a mesma como se fosse um troféu, porém numa analogia direta com o rock and roll, que também é imortal, surge Alice com uma camisa da seleção brasileira e empunhando nossabandeira, para o gran finale com Schools Out . Bolas gigantes coloridas, recheadas de confetes são jogadas ao público enquanto Alice com sua esgrima as fura e enfeita com cores as cabeças sorridentes, entoando The Wall de Pink Floyd como musica incidental. Final extasiante de um grande espetáculo, mas o público quer mais e ganha de presente um bis com Elected e um cover de Jimi Hendrix, Fire , finalizado com uma chuva de penas artificiais. Ufa! Com 63 anos de idade, Alice Cooper prova que o rock rejuvenesce e que este garoto da terceira idade ainda é um mestre dos espetáculos visuais.