terça-feira, 31 de maio de 2011

NÓS VAMOS INVADIR A SUA BIBLIOTECA



Impossível falar sobre a produtiva década de 80, sem mencionar a primeira banda de rock nacional a ganhar um disco de ouro e ) de platina da história: Ultraje a Rigor, com o álbum (eleito como o melhor do rock nacional“Nós vamos invadir sua praia”. Me recordo, que na época, ainda garoto, para comprar este vinil peguei fila na loja e o meu, que era o último ainda veio com a capa danificada, mas o disco estava intacto e era o que importava. O álbum praticamente teve todas suas canções no hit-parade da época. Só para lembrar algumas: Nós vamos invadir sua praia, Inútil,Zoraide, Ciúme, Mim quer Tocar, Eu me amo, Marylou e Independente F. C. Ultraje teve agenda de shows lotada; fez par com Roberto Carlos no sagrado show de final de ano; compôs temas de novela; fez show surpresa em cima de uma loja na Paulista congestionando o trafego, enfim, muita aventura, que a jornalista paulistana Andreá Ascenção, resolveu transformar em um livro sobre a banda, lançado pela editora Belas Letras.O livro conta biografia da banda, histórias de shows, bastidores, entrevistas com os integrantes e ainda trás diversas fotos da coleção particular dos mesmos. Para os fãs do Ultraje, um registro mais do que obrigatório e para a nova geração, um documento a ser devorado para tentar compreender porque bandas atuais (melhor nem citar nomes) são tão desmerecidas pela crítica, pelos mais velhos e claro, por aqueles jovens que exigem algo mais do que calças coloridas ou dor de cotovelo desafinada e aos berros. A geração de 80 produziu gente como Cazuza, Renato Russo e sua Legião Urbana, Lobão, Titãs, Camisa de Vênus, Barão Vermelho, e até mesmo o Capital Inicial, que ainda perdura nas paradas até hoje, se reinventando para não largar o osso. O ponto comum entre esta moçada era a poesia, a ousadia, a rebeldia e uma vontade política inexistente nos dias de hoje. Sobrava inteligência e bom humor, que é algo meio que abolido atualmente por gravadoras (ou o que restou delas) e empresários. A palavra da moda hoje é FUTILIDADE. Quanto mais fútil, mais chance de sucesso. Já dizia a Plebe Rude (outro bom fruto dos anos 80), que “a música não importa e que o importante é a renda”. A ironia e malícia do Ultraje, hoje não teria espaço, infelizmente.Bandas como AeroSilva (da qual faço parte e que até fez homenagem ao Ultraje no programa do Jô), que mesclam com maestria esta vertente social, política e de ironia e sacanagem, dificilmente tem espaço entre cowboys bilionários, filhos acéfalos de famosos e produtos criados em laboratório de investimentos.Ultraje e boa parte da turma dos 80 fazem ainda falta.Canções que retrataram nosso povo e nossa vida, como “Inútil”, que até hoje nos serve de hino da nação, são abortadas.Os tempos pelo visto, não mudaram, apenas cortaram a nossa voz. Nos empurraram calças coloridas, abadás e chapéus de cowboy texano, para que atrofiássemos nosso cérebro. Nos tempos de hoje o que vale mesmo é o “mim quer tocar, mim gosta ganhar dinheiro”
ou então, o supremo SEXO.Como ficaria nossa atual MPB, sem sexo, já que é regida hoje por um falo. Basta ver nossa parada atual repleta de funks chulos, axés pornográficos e sertanejos misóginos. Enfim, esta falta de emoção e criação, digamos assim, não é uma exclusividade tupiniquim.O mal gosto assolou o planeta e repito, hoje, uma imagem vale muito mais do que a canção, que até tempos atrás andavam de mãos dadas. Será que a tal Lady Gagá será reconhecida musicalmente no futuro, como por exemplo Michael Jackson? E cadê o Justin Bieber? Já sumiu? Bom, enquanto Roger Rocha Moreira, o maior QI do rock nacional com seus 165 mole e 190 duro - como o próprio diz possuir e já até mostrou na G magazine -, prefere não ter mais nada a dizer, no meio de tanta bobagem que hoje nos é empurrada, eis que uma menina decide contar a história de gente que já provou que música inteligente vale muito mais que qualquer palavrão para garantir refrão. Meu caro, Roger, sua obra é indelével e nos anais (olha o axé e funk aí) da história do rock nacional, Ultraje sempre terá lugar de honra, já que como fã devo admitir que outro “Nós vamos invadir sua praia” só mesmo o AeroSilva (www.aerosilva.com) será capaz, afinal eu me amo e não vou mais deixar eu fugir de mim, então cadê a minha farofinha, Roger?

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O VENTO QUE TRÁS MUDANÇAS É O MESMO QUE SOPRA VELINHAS



O tempo parece ter mudado em muitas direções na vida deste gênio, poeta, militante, profeta, rock star, escritor, um personagem imortalizado em vida, o senhor Robert Allen Zimmerman, ou simplesmente Bob Dylan. Você pode até achar ele antipático, arrogante e além disto cantar como pernalonga depois de ter ingerido um tambor de gás hélio. Não importa. Dylan não é cantor. Nunca foi. Ele vai além disto. Ele é a voz, o discurso, a poesia, o grito do excluído. A voz inocente e asfixiada de Rubin “Hurricane” Carter, a voz de jovens soldados presos na armadilha Vietnã, a voz de judeus, católicos, protestantes, a voz de negros, mulheres, velhos, desempregados, bebados, poetas de rua. Dylan é a voz anasalada do country, do folk, do rock. Este jovem senhor que já proclamou para todos serem para sempre jovens (Forever Young) completa setenta anos de idade e uma carreira que desafia o tempo e se torna ainda mais inabalável. O primeiro disco surgiu em 1962 e de lá para cá foram mais de 45 albuns, marca praticamente insuperável em qualidade. Em sua obra, Dylan transitou pelo folk, country, jazz e rock, sempre deixando sua marca. Suas canções serviram de temas para filmes, campanhas, ensaios filosóficos, protestos, e lhe renderam títulos como o de segundo maior artista de todos os tempos, de acordo com a revista Rolling Stone, perdendo apenas para os Beatles, que publicamente declaravam terem Dylan como ídolo, em especial John Lennon, fã de carteira assinada. Este senhor teve suas canções regravadas por vários astros, mas é inegável que a versão de Hendrix
com “All Along The Watch Tower" e a "Knocking on the Heaven´s Door" na voz de Axl Rose, quando Guns ainda era uma banda de verdade, provam na prática o poder das canções de Dylan. “Like a Rolling Stone”, como se não bastasse ter sido gravada e imortalizada pelos Rolling Stones, também é considerada a canção mais importante de todos os tempos. Considerado uma espécie de oráculo dos artistas, Dylan foi parceiro de lendas como Cash, Joan Baez, George Harrison e até mentor de poetas poetas como Allen Ginsberg. O jovem que deu voz ativa e política à música só com seu violão e uma pequena gaita de boca desbancou astros em vendagens, críticas, fãs e claro, em sucesso, mesmo se esquivando disto. Para muitos, ele “se acha”, mas na verdade ele simplesmente ele É. Nos tempos atuais onde a imagem fala mais do que a essência e a inteligência, onde canções sobre racismo, injustiças sociais, guerras, desilusões amorosas, poesia, liberdade, parecem serem abortadas sem sequer sentirem a brisa do vento dos tempos na face, fica nossa homenagem a talvez ao último dos Moicanos. Este judeu que se converteu em cristão e depois voltou para sua origens, sem ter medo de errar, mas sempre experimentar. Este gênio tão bem retratado por Scorsese no obrigatório filme “No directions home”. Este mestre das letras e da harmonia, que brilhantemente a editora brasileira Madras retratou tão bem , presenteando fãs e também iniciantes na matéria Dylan, com o belo e necessário livro 100 Canções & Fotos de Bob Dylan. Uma verdadeira aula sobre o evento Bob Dylan, que por trás da tal arrogância pautada por muitos, é um admirador explícito do Brasil, inclusive já tendo feito diversos elogios à nossa pátria e artistas consagrados, como o caso de Elis Regina que carinhosamente chamou de Little Pepper (a pimentinha, como era chamada). Uma vez, Dylan cantou que não importa quem você seja, você vai ter que servir alguém. Pode ser o diabo ou o Senhor, mas você vai ter que servir alguém. Após setenta anos, fica a questão: com tanta genialidade, a quem sera que Dylan serve? A resposta, meu caro leitor, sopra e soprará sempre ao vento...

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O TREM DAS ONZE DE HIGIENÓPOLIS



Adoniran Barbosa foi um compositor diferenciado, que criou “Trem das Onze”, o hino da cidade de São Paulo, com sua poesia diferenciada sobre gente diferenciada. Pessoas estas, que morando longe e trabalhando em Higienópolis, por exemplo, se perdem a condução, sabe lá Deus que hora virá outra e a pobre da mãe que não dorme enquanto o filho único não chega, deve se acabar no café e na TV. Isto acontece diariamente com pessoas diferenciadas, assim como eu, assim como você, caro leitor, mas que graças aos serviços do melhor meio de transporte urbano já criado, o metrô, encurtamos esta distância. Em tempos caóticos como o que vivemos, onde os congestionamentos atingem filas quilométricas de três dígitos, fica impossível acreditar que ainda há gente que impeça a circulação, e o direito de ir e vir, por puro egoísmo. Caso de uma parcela pequena de moradores da região de Higienópolis,que ao tomarem ciência de um projeto de uma nova estação na região, encaminharam um abaixo assinado e pasmem, conseguiram o cancelamento do projeto. Claro que deu na mídia, o povo protestou com direito até a churrascão frente ao shopping badalado do bairro e o governo retomou o projeto.O Metrô de São Paulo é considerado o melhor sistema de transporte sobre trilhos da américa e quem não é diferenciado e já pôde visitar outros países há de convir que o nosso é motivo de orgulho por ser moderno, seguro e limpo, basta compará-los aos imundos trens e estações de NY por exemplo. Mas a questão maior e que de fato vem tirando a humanidade dos trilhos é a onda de preconceito e intolerância que vem surgindo numa velocidade maior que a do trem bala. Como se não bastasse gente como Bolsonaro, que às nossas custas, prega a homofobia, temos ainda adolescentes babacas praticando bullying, mulheres sendo censuradas em sites e em locais públicos, pelo simples gesto de amamentar, e ainda as observações ácidas oriundas da febre de stand ups, onde alguns confundem preconceito com piada sem graça. Recentemente, Rafinha Bastos, humorista considerado a maior influência mundial do twitter, pisou na bola, ao escrever para milhões de seguidores, que estuprador de mulher feia não merece cadeia e sim uma abraço. Não creio que a mãe dele tenha condições de sair na capa Playboy,e nem por isto ele abraçaria um possível estuprador de sua progenitora, numa hipótese trágica. Ed Motta também quis seu espaço neste holofote e resolveu esculachar o povo brasileiro, como uma raça de gente feia. O que esta havendo? Einstein estava mais uma vez com a razão ao profetizar que seria mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito? O que nos faz melhores do que os outros ou de achar que a dor alheia tem graça? Qual a graça da desgraça? O humor é uma ferramenta de crítica imbatível e inteligente, porém vem sendo usada para criticar vítimas de câncer, deficientes físicos, pessoas diferenciadas ou miseráveis. Onde perdemos o rumo? Pra qual estação distante mandamos o bom senso e a inteligência? A quantidade de preconceito de cada um é inversamente proporcional a de sua inteligência, salvo que nem todos seguem este percentual e atuam de maneira muito mais crítica e visceral, como as mães que protestaram e ganharam o direito de amamentar. Fora daqui houve a marcha das vadias, onde mulheres saíram em defesa de vitimas de estupro e ainda vitimas de comentários misóginos como o de Rafinha, que por ser inteligente e capaz de um humor bem mais refinado que este, creio que reconheça seu erro. Até o Bolsonaro, indiretamente,serviu para que a união estável entre homossexuais fosse aprovada, e a justiça fosse feita, e por falar nela, até estação dos diferenciados vai sair. E eu até consigo imaginar o trem chegando nesta estação inaugurando um novo tempo, como o humor sutil do maquinista Adoniran Barbosa cantando em coro com os diferenciados: “Voceis pensam que nóis fumos embora, mas nóis enganemos voceis. Fingimos que fumos e vortemos. Ói nóis aqui traveis.”

quarta-feira, 18 de maio de 2011

METAL FAROFA COM BANANA



A banda americana Motley Crue desembarcou no país esta semana, para tocar pela primeira vez em terras tupiniquins, escolhendo a capital rock and roll: São Paulo. A banda foi formada na década de 80, pelo baixista Nikki Sixx e pelo baterista Tommy Lee. Já vendeu 80 milhões de discos pelo mundo e emplacaram vários hits nas rádios, na saudosa década oitentista. A banda sempre chamou mais atenção para os escândalos envolvendo os integrantes, do que para a música propriamente dita. Talvez o Motley seja uma daquelas bandas que levem a tríade “Sexo, Drogas & Rock and Roll” muito a sério, já que foram presos várias vezes por conta de seus vícios com drogas e bebidas, já se envolveram com fãs, groupies e famosas, inaugurando os vídeos de sexo de famosos na net como o caso de Tommy Lee e Pamela Anderson – para os curiosos, disponível até hoje na rede – e claro, fazendo muito rock and roll. O vocalista Vince Neil, que mais lembra uma Barbie fora de regime com uma voz de anão de comédia vespertina na TV, também se envolveu em confusões homéricas, quando uma bebedeira sua, terminou em um acidente de carro que acabou matando um amigo seu.Vince foi preso, pagou fiança e continuou dirigindo. Viu? Não é só no Brasil que há impunidade. A banda também fez sucesso pela sua maquiagem excessivamente extravagante e suas roupas cafonas, o que mesmo passando quase três décadas ainda permanece como “moda” para os fãs, pois no dia do show em SP, confesso que me senti num concurso de Pantera ou Leopardo,tamanho número de homens e mulheres em calças bailarinas com estampas de oncinha, muito batom e até umas peruquinhas. Mas o que vale é a festa e nisto Motley é pós-graduado. Apesar do show em SP ter sido simples e não terem trazido a parafernália costumeira, como a bateria suspensa, as motocicletas, as mulheres semi nuas, as bailarinas de pole dance, entre outras facetas mágicas do bom e velho rock teatral, a banda mostrou que tem pegada e pôs o povo pra pular durante a execução das quinze faixas, segmentadas em hits. Carismáticos, Vince e Nikk levantavam a platéia.Tommy Lee, além de bater forte na bateria, toca suavemente piano na balada “Home Sweet Home” e ainda distribuiu uma garrafa de Whisky para os fãs afoitos do gargarejo. Apesar de ser uma banda de rock, o instrumento principal, que é a guitarra, apesar de ser pulsante e marcante no som, o guitarrista Mick Mars é discreto, estranho e parece ter saido de um sarcófago minutos antes do show, mas o fato é que o não tão jovem músico (que costuma mentir a idade, mas já tem 60 anos), sofre de uma doença chamada espondilite anquilosante, que praticamente congelou a sua espinha. Mesmo com estas limitações físicas é altamente competente. O glam metal desembarcou na cidade e fez bonito.O show agradou aos fãs e no meio de tanta farofa,as quatro bananas mais atuantes (metaforicamente falando, of course)do Glam, que já dormiram com metade de Hollywood, levaram a platéia ao extase. Aumenta que isto é rock and roll e groupies, baixem as calças, porque isto é Motley Crue.

domingo, 15 de maio de 2011

CULTO A MR. MOJO?



A banda inglesa The Cult e seus integrantes não são adeptos da tal pontualidade e polidez britânica. Com mais de 40 minutos de atraso, a banda subiu ao palco do HSBC Brasil ao som de “Every Man and Woman is a Star” - single lançado para download -,em sua quinta passagem pelo Brasil para um quase delírio dos fãs. Quase, porque o show foi morno e o clima um pouco frio, com exceção da euforia dos hits, em especial dos dois melhores álbuns da banda: Electric e Sonic Temple. O vocalista e aniversariante da noite, Ian Astbury, estava irreconhecível dos tempos de outrora. Cabelos longos ensebados, barbudo, gordo e vestindo um moletom surrado, como se tivesse sido acordado naquele instante e obrigado a fazer o show, lembrou uma caricatura de Jim Morrison.Ian que já foi o favorito para ocupar o papel de Jim nos cinemas por Oliver Stone, antes mesmo de Val Kilmer e que também foi escolhido pelos Doors em 2002 para acompanhá-los na turnê “The 21st Century”, parece ter encarnado propositalmente o manto do Mr. Mojo. A imagem rock star daquele índio de cabelos lisos negros, com uma potência vocal surpreendente e uma performance arrasadora de palco foi trocada pela imagem de um junkie chato e reclamão como Morrison no final da carreira (e da vida). Ian zombou de U2, ironizou Bon Jovi, desconfiou da euforia da platéia, criticou um fã, deu bronca e chamou de babaca outro, que por não entender nada de inglês, se emocionou achando que seu ídolo o elogiava. Do outro lado, o conhecido ranzinza Billy Duffy fez o papel inverso. Extremamente simpático com a platéia e preocupado com a qualidade do som, a estrela do Cult e responsável pela mudança de banda gótica anos 80 para um hard rock de ponta, empunhava sua Gibson Les Paul revezando-a com sua semi acústica Gretsch White Falcon, detonando riffs marcantes, solando precisamente e fazendo poses, muitas poses para alegria dos mais de 3000 fotógrafos amadores com seus celulares a postos prontos para atirar. A energia era tanta que Duffy parecia estar num show diferente de seu parceiro, Ian. Para se ter uma idéia, no meio do espetáculo, Astbury interrompeu o set list e obrigou o público assistir o seu curta Prelude to Ruins (chatíssimo e vazio, lembrando uma Bruxa de Blargh com pretensões Lynchianas), sem o menor sentido tal qual os filmes que Morrison fazia nos tempos da UCLA. Mas quando a banda é boa e tem uma história respeitável, parece que tudo é perdoado no final e o público calorosamente recebeu os ingleses de braços abertos, cantou junto e pelo que deu pra notar saíram satisfeitos, mesmo decepcionados por não ouvirem a bela balada Eddie (Cia Baby) e os hits Nirvana e Heart of Soul, apesar dos insistentes pedidos, mas os demais hits foram tocados e compensaram a ausência destas. Ao final,como bis, nosso Jim Morrison de moletom, não podia deixar de cantar uma do mestre, então “Break on Through” explodiu no palco e encerrou a noite de festa, para nos lembrar que The Cult ainda é uma grande banda, mas que Jim Morrison mesmo só tinha um, portanto recuse as imitações.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

MARLEY & EU & TODOS VOCÊS


Não sou consumidor de reggae e muito menos devoto do rastafarianismo e seu uso sacramentado da maconha. Não por questões sociais até porque sou favorável à liberação desta, mas porque sou agnóstico e careta, portanto nem Jah e nem Mariajuna fazem a minha cabeça, mas um certo seguidor de ambas, e que expõe idéias claras sobre paz, o amor e acima de tudo a liberdade, merece todo o meu respeito. Estou falando de Bob Marley que há trinta anos nos deixava ainda moço para ir de encontro com Jah em toda sua fé. Bob foi uma daquelas pessoas mais do que especiais que nos presenteou com uma vasta obra repleta de mensagens positivas e acima de tudo profecias de amor, liberdade e sobretudo, respeito, que infelizmente foram deturpadas, como quase tudo nos dias de hoje. Marley nunca compreendeu porque o homem insistia em amar suas coisas e usar as pessoas, sendo que Deus (ou Jah) havia feito o inverso e criado as coisas para se usar e as pessoas para se amar. Nascido na Jamaica,filho de pais pobres, fora um predestinado despontando logo para a fama, junto com o estilo recém descoberto: o reggae. Praticamente um precursor do movimento musical, em suas letras e atitudes expressava claramente sua posição política, o que quase lhe custou a vida. Dois dias antes de um show gratuito organizado por ele pelo então primeiro-ministro jamaicano durante as eleições gerais, sofreu um atentado onde ele, sua esposa e seu empresário foram baleados. Bob se salvou e como nunca cruzava os braços frente à dificuldades, pregando que o maior homem do mundo morreu de braços abertos, continuou escrevendo e cantando sobre igualdade racial, liberdade, amor, paz e expondo como poucos naquele momento, as injustiças que vivenciamos dia a dia e que a maioria prefere fingir que não vê. Sua carreira repercurtiu mundo afora e seu megafone, agora gigante, divulgava sua música, sua arte e a sua filososfia. Bob era tão rico em suas palavras, tanto no palco quanto em entrevistas, deixando um verdadeiro legado de frases geniais que poucos astros da música produziram. Uma delas em especial sempre me tocou fundo e talvez toque você também, caro leitor. Marley dizia que às vezes construímos sonhos em cima de grandes pessoas. O tempo passa e descobrimos que grandes mesmo eram os sonhos, e as pessoas pequenas demais para torná-los reais! O sonho dele ao menos foi realizado, porém como qualquer história trágica o homem tão inteligente e de mente tão aberta, ao descobrir um câncer, recusou-se a tratar-se devido aos princípios rastafaris que diziam que os médicos são homens que enganam os ingênuos com o falso poder da cura. Um pouco tarde, descobriu que os líderes religiosos, estes sim, talvez enganem mais os ingênuos e no desespero da causa, converteu-se ao cristianismo, que apóia este tipo de tratamento, porém já era tarde e a doença havia lhe tomado o corpo. Uma ironia do destino, onde a ignorância pôs fim à genialidade. Para o homem que pregava que não deveríamos viver para que nossa presença fosse notada, mas sim, para que a nossa falta fosse sentida, podemos dizer que sentimos e muito a sua, já que há 30 anos o reggae deixou de ser um canto de liberdade e de protesto político para virar trilha sonora boba de apologia a maconha. Pobre Marley! Distorceram o que foi dito e vivido por esta mente brilhante. Se a saudade é um sentimento que quando não cabe no coração, escorre pelos olhos, posso afirmar que hoje, três décadas depois,os meus ainda ficam úmidos ao ler e reler toda as mensagens deixada por você, meu caro Leão de Judah. Só desejo que sua profecia se realize e um dia o povo levante, resista e lute pelos seus direitos!

JOHN FOGERTY - O GENIAL PRIMO CAIPIRA DO ROCK



Foram quatro décadas de espera muito bem remuneradas, já que John Fogerty em sua primeira passagem pelo Brasil não decepcionou os fãs e recompensou a platéia com todos os grandes clássicos do Creedence e claro, de sua carreira solo também, sem nenhuma exceção. Foram 90 minutos de hit atrás de hit para a alegria dos fãs que variavam de senhores de 70 até garotos de 18, que por sorte ainda apreciam o que tem de melhor na música e engrossavam o gigantesco coro liderado pela regência do carismático John, que com sua voz emblemática entoava em unissono com a platéia músicas como Susie Q, Bad Moon Rising, Fortunate Son, Rockin' All Over The World, Proud Mary e claro o hit número um de bandas cover, Have You Ever Seen The Rain, a música que John fez em homenagem à filha e dedicou no show à todas mamães (show foi domingo dia das mães). O Creedence Clearwater Revival se lançou em 1968 e chegou ao fim quatro anos depois com a saída de Tom, irmão de Fogerty. Mesmo neste curto intervalo de tempo a banda acumulou discos de platina e fez shows mundo afora, incluindo a já famosa participação em Woodstock. Qualquer fã de rock and roll que se preze sabe da importância desta banda para a história do rock. No mínimo 5% por cento da lista dos cem maiores hits da história do rock e porque não, do country, Fogerty foi quem compôs. Sua obra já abrilhantou incontáveis filmes e comerciais de TV. Bruce Springsteen, fã confesso de Fogerty, considera-o um dos maiores compositores da musica popular americana e que tem o talento raro de dizer em 3 minutos o que muitos não dizem em toda sua discografia. Após o fim do Creedence, John seguiu carreira solo e em 1973 gravou todos os instrumentos de seu disco de estréia com versões de hits tais como "Jambalaya" que entrou direto para o Top Hit. Nesta época John declarou que nunca mais tocaria os sucessos do CCR em um show solo, mas a promessa durou até 1985, quando Bob Dylan e o ex-beatle George Harrison, convenceram-no de que ele deveria tocar seus antigos sucessos novamente ao público. Harrison lhe disse: “Se você não fizer, todos vão pensar que Proud Mary é uma música da Tina Turner". Em 1993 o Creedence Clearwater Revival foi introduzido no Rock and Roll Hall of Fame, mas Fogerty recusou tocar com seus ex-colegas, devido terem sido favoráveis à antiga gravadora que o processava. Ele se isolou até 1997 quando lançou o excelente Blue Moon Swamp e um ano depois o disco ao vivo Premonition, num show bárbaro gravado num dos estúdios da Warner com um cenário de pântano tão espetacular quanto o set list apresentado. Mas nem tudo são flores na vida do caipirão simpático considerado um dos maiores guitarristas de todos os tempos pela revista Rolling Stone. Desde o fim do Creedence estava brigado com seu irmão e nem no leito de morte do mesmo, vítima de HIV, fizeram as pazes. Triste um homem com tanto talento e poesia deixar nascer dentro de si tanta amargura, mas ninguém é perfeito, não é? Também chove sobre uma carreira gloriosa como o sol.