quinta-feira, 19 de maio de 2011

O TREM DAS ONZE DE HIGIENÓPOLIS



Adoniran Barbosa foi um compositor diferenciado, que criou “Trem das Onze”, o hino da cidade de São Paulo, com sua poesia diferenciada sobre gente diferenciada. Pessoas estas, que morando longe e trabalhando em Higienópolis, por exemplo, se perdem a condução, sabe lá Deus que hora virá outra e a pobre da mãe que não dorme enquanto o filho único não chega, deve se acabar no café e na TV. Isto acontece diariamente com pessoas diferenciadas, assim como eu, assim como você, caro leitor, mas que graças aos serviços do melhor meio de transporte urbano já criado, o metrô, encurtamos esta distância. Em tempos caóticos como o que vivemos, onde os congestionamentos atingem filas quilométricas de três dígitos, fica impossível acreditar que ainda há gente que impeça a circulação, e o direito de ir e vir, por puro egoísmo. Caso de uma parcela pequena de moradores da região de Higienópolis,que ao tomarem ciência de um projeto de uma nova estação na região, encaminharam um abaixo assinado e pasmem, conseguiram o cancelamento do projeto. Claro que deu na mídia, o povo protestou com direito até a churrascão frente ao shopping badalado do bairro e o governo retomou o projeto.O Metrô de São Paulo é considerado o melhor sistema de transporte sobre trilhos da américa e quem não é diferenciado e já pôde visitar outros países há de convir que o nosso é motivo de orgulho por ser moderno, seguro e limpo, basta compará-los aos imundos trens e estações de NY por exemplo. Mas a questão maior e que de fato vem tirando a humanidade dos trilhos é a onda de preconceito e intolerância que vem surgindo numa velocidade maior que a do trem bala. Como se não bastasse gente como Bolsonaro, que às nossas custas, prega a homofobia, temos ainda adolescentes babacas praticando bullying, mulheres sendo censuradas em sites e em locais públicos, pelo simples gesto de amamentar, e ainda as observações ácidas oriundas da febre de stand ups, onde alguns confundem preconceito com piada sem graça. Recentemente, Rafinha Bastos, humorista considerado a maior influência mundial do twitter, pisou na bola, ao escrever para milhões de seguidores, que estuprador de mulher feia não merece cadeia e sim uma abraço. Não creio que a mãe dele tenha condições de sair na capa Playboy,e nem por isto ele abraçaria um possível estuprador de sua progenitora, numa hipótese trágica. Ed Motta também quis seu espaço neste holofote e resolveu esculachar o povo brasileiro, como uma raça de gente feia. O que esta havendo? Einstein estava mais uma vez com a razão ao profetizar que seria mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito? O que nos faz melhores do que os outros ou de achar que a dor alheia tem graça? Qual a graça da desgraça? O humor é uma ferramenta de crítica imbatível e inteligente, porém vem sendo usada para criticar vítimas de câncer, deficientes físicos, pessoas diferenciadas ou miseráveis. Onde perdemos o rumo? Pra qual estação distante mandamos o bom senso e a inteligência? A quantidade de preconceito de cada um é inversamente proporcional a de sua inteligência, salvo que nem todos seguem este percentual e atuam de maneira muito mais crítica e visceral, como as mães que protestaram e ganharam o direito de amamentar. Fora daqui houve a marcha das vadias, onde mulheres saíram em defesa de vitimas de estupro e ainda vitimas de comentários misóginos como o de Rafinha, que por ser inteligente e capaz de um humor bem mais refinado que este, creio que reconheça seu erro. Até o Bolsonaro, indiretamente,serviu para que a união estável entre homossexuais fosse aprovada, e a justiça fosse feita, e por falar nela, até estação dos diferenciados vai sair. E eu até consigo imaginar o trem chegando nesta estação inaugurando um novo tempo, como o humor sutil do maquinista Adoniran Barbosa cantando em coro com os diferenciados: “Voceis pensam que nóis fumos embora, mas nóis enganemos voceis. Fingimos que fumos e vortemos. Ói nóis aqui traveis.”

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