quinta-feira, 23 de junho de 2011

Dzi Croquettes



Em plena ditadura militar, sobretudo logo após o AI5, ato institucional que impunha censura em toda e qualquer obra, de acordo com o braço forte do governo, eis que surge o grupo Dzi Croquettes, trazendo uma nova linguagem teatral e musical, causando furor, surpresa e encantamento. O grupo serviu como fonte de inspiração para Ney Matogrosso, Miguel Falabella, Claudia Raia, Pedro Cardoso, As Frenéticas e mais uma porrada de gente de sucesso que bebeu da fonte destes homens que se vestiam de mulheres e criavam espetáculos de fazer inveja à Broadway, com o glamour de primeiro mundo, em condições de terceiro. Formado por 13 atores bailarinos, a família (como era considerado o grupo) era comandada pela mãe (Mammy), o excepcional ator Wagner Ribeiro, que praticamente foi um dos precursores no país a quebrar a quarta parede, ou seja, trazer o público para dentro do espetáculo, e a instituir os números de humor besteirol e stand up em nossas terras.Wagner era um gênio da comédia física e verbal. Ao seu lado, o pai (Pappy), o excepcional bailarino americano Lennie Dale, que foi considerado a ovelha negra da Broadway nos EUA, por não suportar ficar num espetáculo sequer e star sempre à frente do seu tempo. Dale acabou achando seu lugar no Brasil, onde fez amigos, e se tornou um ícone da dança, cultuado por seus brilhantes números musicais. Seu talento era descomunal e conquistou tietes fervorosas e até uma fã crítica, a estrela da época, Elis Regina, que o tinha como sua maior escola e referência artística. Dale imortalizou a versão de Elis para “Dois pra lá, dois pra cá” de João Bosco e ainda fez um dueto com a pimentinha cantando “Samba do Avião” do maestro Tom Jobim. O documentário Dzi Croquettes, recentemente lançado e recordista de prêmios, faturando 13 até o momento desta coluna, conta a trajetória deste grupo que revolucionou o teatro brasileiro. O filme é orquestrado pela filha de um dos Dzi, o cenógrafo do grupo, Américo Issa. Tatiana Issa conviveu com a trupe desde quando era criança e trás na sua memória muitas histórias dos “palhacinhos”, como carinhosamente os chamava. Repleto de imagens perdidas do grupo e de depoimentos de Miele, Betty Faria, Falabella, Pedro Cardoso,Claudia Raia, Jorge Fernando, Gilberto Gil, Norma Bengel e mais uma porção de estrelas, é um registro obrigatório para quem quer entender um pouco mais sobre a cultura teatral e musical de nosso país. Os Dzi Croquettes conquistaram carreira internacional e foram sensação em boates da Europa, após cativarem Liza Minelli, fã e apoiadora do grupo, que os apresentou para Mick Jagger, Catherine Deneuve, Omar Sharif, entre outros ilustres que se tornaram fãs destes homens fortes que tinham a força do macho e a graça da fêmea; estes andrógenos que causavam reações adversas de teor sexual na platéia. Eram ousados,irreverentes, eróticos, ou como o nome já diz, eram apenas croquetes de carne, assim como qualquer ser humano. O que mais nos admira é saber que numa época de ditadura militar, onde o país regido sob censura, guardava espaço para grupos deste porte, hoje, onde por teoria avançamos e muito, somos obrigados a presenciar casos de intolerância sexual. É um absurdo imenso vivermos sob a censura do preconceito, onde tudo que seja diferente de nossos padrões estéticos,religiosos e culturais tenha a marca da discórdia. O mantra de Wagner Ribeiro - a mãe - era “só o amor constrói”, o que me parece ser a regra básica para a criação de uma sociedade mais justa.A imagem que os Dzi Croquettes nos deixaram é a imagem da irreverência, da alegria, do bom humor, da liberdade sexual e da busca pelo prazer de cada um, afinal, eles não eram homens e nem eram mulheres, eles eram apenas GENTE! Respeito e amor é só o que nos falta para construirmos um mundo melhor onde a fome, a miséria, a guerra e a intolerância seja abolidas e a graça e o bom humor voltem a reinar.

2 comentários:

Lucas Machado disse...

gostaria de dar os parabéns pela sua coluna falando sobre o STEVE JOBS,foi realmente uma bela coluna; me emocionei,
continue assim.

Graziela C. Drago K. Zeligara disse...

dzi ahazam! smp dignissimo falar deles! vc sabe dizer de quem é essa primeira fotomontagem qe colocou? bj!