quinta-feira, 28 de julho de 2011
ERA DAS APARÊNCIAS
Shakespeare já nos advertia de que “Os homens deviam ser o que parecem ou, pelo menos, não parecerem o que não são.” Em tempos atuais, esta frase nunca esteve tão mais forte, já que nada hoje em dia é o que parece ser. Todo mundo na verdade continua sendo o que de fato é, mas ninguém é o que aparenta ser. Botox, silicone, photoshop, pro tools, todas ferramentas criadas para enganar os nossos sentidos e assim tentar convencer nosso coração de que o feio é belo, o mau é bom e o burro é inteligente. Funciona mais ou menos como as fotos de fast foods que enganam os olhos para convencerem o estômago. Você pede aquele lanche da foto e recebe a versão trucidada já quase mastigada por um tubarão e ai de ti se reclamar. O gerente troca por um outro pior ainda. Gerente este, que esta na foto de funcionário do mês, outra enganação, já que na minha tese, sempre quem sai ali é o pior, que de castigo, botam o infeliz naquele quadro na parede com aquela cara de babaca, só para pagar mico. O mais engraçado é que o preço de tudo é sempre baseado na foto e jamais no produto. Existem sites, digamos, de conveniência masculina, o que no popular se chama prostituição, que é a mesma coisa. Na foto tem a Angelina Jolie, o necessitado paga e recebe por uma hora de prazer a Zezé Macedo. Tudo graças ao Photoshop,esta imaginação mecânica criada pelo homem. Na música a coisa não é diferente, afinal com recursos como ProTools, ferramenta que modifica por completo a voz do “cantor” e consegue até afiná-la, geralmente ouve-se gralha por lebre. Não vamos citar nomes, mas quem já viu alguém ao vivo, e preferia que tal astro estivesse ao morto, sabe do que estou falando. Há também o photoshop de nosso passado e se chama biografia. Existe uma febre agora de livros escritos por astros sobre suas vidas. Claro que é mais uma forma de iludir o fã e leitor, pois tudo não passa de ficção. Noventa por cento do que você lê ali é mentira e dez por cento é quase verdade.Mas nesta onda de maquiagens tecnológicas, bem que poderiam criar o photoshop para as palavras que saem de nossa boca. Já pensou? Automático. Você diz o que realmente sente, mas no processo, a pessoa ouve o que de fato ela queria ouvir e assim ambos saem felizes. Um photoshop para as relações também seria atraente. Você esta cansado da sua esposa e ela idem, mas por conveniência não se separam, porém com o auxílio de tal ferramenta, a relação poderia ser transformada numa comédia romântica de Hollywood passada em NY. A vida sexual já gasta, saturada e sem tempero algum, ganharia traços de um romance do marques de Sade. Filhos então, a mesma coisa, pois aquele moleque mal educado, ranhento e estúpido na escola, que você até hoje desconfia que não pode ser seu filho, se tornaria a versão da criança perfeita. Você poderia também se tornar o pai “da hora”, quiçá até um protótipo de Harry Potter, que além de agradar o filho, agradaria também a mamãe, com o auxílio da varinha mágica, consertando pequenos acidentes com a varinha já não tão mágica. Mas no meio de tanta tecnologia iludindo nosso cérebro, ainda não se inventou um photoshop para a alma. Esta insiste em permanecer intacta. Clara e extremamente natural, nos mostrando que num mundo onde se julgam pessoas segundo a aparência, e ninguém segundo a essência, talvez seja a resposta a nossa pergunta sobre qual a razão do mundo estar tão feio. O corrupto que é assediado e que ganha eleições, o time de futebol que é regido por mafiosos, mas que é devotado, o artista fake que mal sabe cantar, e é ovacionado, o escritor que não seria capaz de escrever sozinho, uma carta para a mãe, mas que vira Best seller, e por aí afora. Não está na hora de você instalar um photoshop na sua inteligência, para quem sabe assim melhorar a mesma? Lembre-se de que só a convivência mostra a essência, o resto, meu caro leitor, é aparência.
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