quinta-feira, 25 de março de 2010
QUEM É O PAI DO BEBÊ DE ROSEMARY?
Era uma vez um sobrevivente do Holocausto, que tem sua mãe morta na câmara de gás e perde seu pai num campo de concentração, consegue fugir para a América e lá vir a se tornar um dos maiores diretores de cinema do mundo, desenvolvendo sua própria voz e se mantendo artisticamente íntegro contra o poder da máquina de Hollywood. Só isto, já seria a sinopse de um bom filme-biografia, mas quando se fala de Roman Polanski a história não para por aí. Soma-se a ela filmes polêmicos, taras por adolescentes, uma esposa assassinada por Charles Manson, crimes de pedofilia, fugas, Oscar conquistado, mas sem poder recebê-lo, entre outras coisas que fazem de Polanski um dos diretores mais controversos da história. Fez seu primeiro longa metragem em 1963 – Knife in water – e já recebeu sua primeira indicação ao Oscar, neste caso como melhor filme estrangeiro. O talento do moço já estava ai afirmado e seu sucesso já premeditado, pois em seguida filmou Repulsion com a bela Catherine Deneuve, o primeiro de sua Trilogia do Apartamento, que incluem o assustador Bebê de Rosemary e ainda O inquilino. Ainda no assunto terror, se bem que neste caso, terrir, Polanski bem antes da febre de Crepúsculos da vida, já havia feito um clássico no assunto, com o filme Dança dos Vampiros,onde ainda contracena ao lado da estonteante e bela Sharon Tate, que viria a ser sua esposa tragicamente assassinada pelo psicopata pop-star Charles Manson num crime que abalou a América pelo requinte de violência e crueldade, levando ainda em conta o fato de Tate estar grávida de Roman. Este lamentável incidente abalou e muito - por razões óbvias – emocionalmente Polanski, mas para piorar ainda mais, a imprensa sensacionalista imputou uma culpa ao diretor por ter de certa maneira influenciado o crime, já que tratou de obras satânicas, como Bebê de Rosemary,o que para qualquer pessoa com o mínimo de inteligência, não passa de um absurdo e Polanski não se calou e bateu de frente contra seus agressores. Estava decretada a guerra e a imprensa já tinha agora seu novo vilão nas mãos. Seus filmes obscuros, seu sotaque estrangeiro, sua direção controversa e pra completar carregando nas costas o assassinato de sua esposa, era um prato cheio pra imprensa marrom. Como o personagem – vivido por Jack Nicholson – em sua obra Chinatown lutava contra o lado negro da corrupção,Polanski fazia o mesmo contra o lado negro da imprensa, mas por um grave deslize de conduta, perdeu a guerra. Sua tara por meninas já era explícita e até invejada,claro, afinal foi namorado de Nastassja Kinski quando ela tinha quinze anos. Sem demagogia que homem não invejaria isto? Mas Polanski nunca teve limites e foi além. Como fotógrafo para um ensaio da Vogue, levou uma garota de treze anos a casa do amigo Jack Nicholson para fazer o ensaio, mas sua mente pervertida (Repulsion) ultrapassou os limites do bom senso e claro, foi acusado de pedofilia e a imprensa havia enfim encontrado o pai do bebê de Rosemary: POLANKSKI! O ataque foi pesado e a opinião pública unânime: culpado! Para completar o circo surge um juiz com complexo de estrala de Hollywood e que se sentia o diretor do filme “O julgamento de Polanski”. Claro que não absolvo Roman da culpa, mas o assunto pedofilia é complexo, pois convenhamos que tem muita menina de 16 anos com mais experiência e libertinagem que muita balzaquiana. E em casos como o dele, a mãe da garota deveria também ser indiciada, afinal quem em sã consciência deixa a filha ficar numa casa, em trajes sumários e sensuais com um homem com fama de conquistador, depravado e amante de ninfetas? Ah, mas é claro que tem o detalhe dele ser um grande diretor, milionário e a mãe – que aliás era atriz – que não é boba, enxergar a chance da filha ser descoberta pro estrelato. Isto não seria cafetinagem? Bom, mas o fato é que a coluna ta no fim e a liberdade foragida por trinta anos de Polanski também,já que o mesmo escolado de Varsóvia e fugindo de países com acordo de extradição com EUA, foi preso na Suíça ao não resistir receber o Prêmio Golden Icon Award. Pelo visto Polanski tem algo em comum com o verdadeiro pai do bebê de Rosemary: a vaidade é seu pecado favorito!
BAFÔMETRO CINEMATOGRÁFICO
E mais uma vez o Oscar de melhor ator foi para atuação de um personagem alcoólatra, o que prova mais uma vez que se você falar sobre nazismo ou criar um personagem viciado na água que passarinho não bebe, você tem fortes chances de ganhar um Oscar para enfeitar sua estante comprada em suaves prestações. Bom, o tema holocausto agrada e muito a academia, já que a mesma é formada em sua vasta maioria por judeus, mas será que sua vasta maioria também seria de alcoólatras? Tudo bem que a votação para dar o Oscar de melhor atriz à Sandra Bullock não deixa dúvidas sobre esta questão, mas a de ator foi mais que merecida e parece ter sido computada num momento de lucidez dos senhores do Oscar. Jeff Bridges é literalmente O cara (dude) e já estava mais do que na hora de ser agraciado com a estatueta. Bridges é do tipo outsider e distante do glamour e da vaidade comum de Hollywood. Sua dobradinha merecida este ano (Oscar e Globo de Ouro) se deve a sua brilhante atuação no filme Crazy Heart, onde Bridges interpreta um cantor country de muito sucesso no passado, tentando sobreviver bem ao ostracismo presente. Ray Milland (Farrapo Humano) e Nicolas Cage (Despedida em Las Vegas) receberam suas estatuetas douradas pelas atuações parecidas nos papéis de escritores em crise e viciados na “marvada” pinga. Ambos representaram com muita propriedade e uma certa sutileza fugindo do estereótipo de bebum caricato para cair na triste e real situação de um alcoólatra, que diferente dos comerciais de bebidas não possuem glamour algum, muito menos charme.
Em Crazy Heart isto é mostrado com mais emoção ainda, já que o personagem de Bridges não tem nem de longe tendências suicidas e muito menos ataques agressivos, pois ele apenas convive com a solidão e o triste fato de seu tempo já ter passado. A bebida é apenas uma forma de aliviar esta dor e o vício uma conseqüência fatal desta escolha. Colin Farrell faz o discípulo do protagonista com a diferença de ser o cantor mais popular da América (uma espécie de Garth Brooks) despido de estrelismo e sempre pajeando à distância seu mestre amargurado. A música tema do filme “The Weart Kind” foi também vencedora do Oscar e este singelo colunista aqui, fã de Hank Willians (o Papa do country) recomenda a trilha sonora que é bem bacana. Vale lembrar que Jeff é músico e assim como Val Kilmer em Doors e Joaquim Phoenix em Johnny & June cantou em todas as canções, diga-se de passagem, muito bem, aliás, com uma voz grave que lembra bem de perto o timbre do slowhand Eric Clapton. Para os fãs de Bruno & Marrone, Esperma & Tosóide, Tá deu & Tá dando, entre outras duplas cafonas não recomendo o filme apesar do apelo country, pois diferente do que se prega no Brasil com este mundinho “sertanojo”, no filme não há apologia alguma sequer à rodeios e muito menos à bebida, muito pelo contrário, é sutilmente um filme sobre consciência e abstinência. Fato este que deve estranhar e muito alguns, num país onde sertanejos disparam canções machistas e extremamente comerciais ao mercado das drogas legais. Fica uma reflexão barata: é justo um cantor (???) famoso embriagado causar um acidente com vítimas fatais, não ser preso e ainda gritar em seus shows pelo país afora: “É bebedeira, é bebedeira...só zueira, só zueira...” e ficar cada vez mais rico??? Fico por aqui, meus caros sete leitores, com meu suquinho de laranja e a triste certeza que assim como a academia, nós premiamos alcoólatras, com a diferença de que lá pelo menos, os premiados são personagens da ficção e aqui infelizmente são personagens bufões de nossa dura realidade. Fecha a conta para mim, por favor.
sábado, 13 de março de 2010
O mundo imaginário de Terry Gilliam
Um dos maiores grupos de humor do mundo, sem sombra de dúvidas, foi Monty Python. Os caras estavam anos-luz a frente de seu tempo com piadas que nos dia de hoje já incomodariam muita gente, imagine há quatro décadas atrás? Além dos textos inteligentes e completamente non-sense, a maior diferença do Python com relação a outros grupos é que eles eram atores acima de tudo. Excelentes atores, diga-se de passagem, e anarquistas por vocação. Claro que na Inglaterra, assim como nos EUA se tem esta vantagem no quesito liberdade de expressão, pois lá se faz humor com quem quiser e sobre o que quiser, diferente de alguns países sul americanos que até no humor há uma censura velada, porém ativa e nada engraçada. Mas deixando estes pormenores de lado e voltando ao que interessa, umas das crias do Python foi o cineasta Terry Gilliam, que ao lado de outro Python, Terry Jones, dirigiu clássicos do grupo para o cinema, como Cálice Sagrado e a Vida de Brian. Em vôo solo, Gilliam dirigiu Brazil – o filme, não o país, porque se fosse talvez estaríamos melhor -; 12 macacos - com Brad Pitt aliás em ótima atuação -; e Medo e Delírio sobre as viagens do criador do jornalismo Gonzo, mr. Hunter Thompson, entre outros filmes. Terry conheceu Heath Ledger quando o dirigiu em Irmãos Grimm, mais uma fábula - desta vez sobre o mundo das fábulas -, porém como nem tudo são flores, os produtores acabaram finalizando o filme e o resultado não fora o que Terry tinha em sua brilhante mente, mas ao menos nasceu daí a amizade e a promessa de trabalhar com Ledger de novo. Assim que o jovem finalizou as gravações de Cavaleiro das Trevas, com seu inesquecível e alucinado Coringa, a promessa de Terry foi cumprida. O filme seria “O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus”, mas a fama de azarado de Terry (que já perdeu cenários com chuvas, perdeu investidores, brigou com produtores, teve filmes modificados, etc) desta vez supriu as expectativas de qualquer nuvem negra e durante as gravações recebe a notícia inesperada da morte do amigo e protagonista do filme: Heath Ledger. Mas a criatividade de Gilliam, posta à prova de novo, não decepciona e com a ajuda de três grandes amigos de Ledger - Johnny Depp, Jude Law e Collin Farrell, a produção é finalizada com uma jogada de mestre. Como a história se passa entre sonho e realidade, e Ledger havia gravado todas as cenas do plano realidade, o diretor decidiu então que no plano dos sonhos o personagem teria outras aparências distintas, aí entram as três estrelas convocadas para salvar a produção, que aliás não só cumprem esta função como enriquecem a obra, já que somam-se talentos, carismas e a magia, pois em alguns takes (em especial os de Depp) chega-se a confundir-nos se é Heather mesmo em cena. O filme, como em todos de Terry, segue numa sintonia diferente do casual, em seu tom surreal e sinistro, que talvez só Burton entendesse das ferramentas para tal, mas agrada e muito aos olhos acostumados com a obra do ex-Python. Nele, há balões com cara de gente, escadas que chegam às nuvens, bares no meio do nada, policiais travestis (referência aos números musicais de Monty Python), espelhos mágicos, muita cor, muita fantasia e claro as alfinetadas à sociedade de consumo. A história – que lembra as de nosso Ariano Suassuna - é sobre um velho imortal que faz um pacto com o diabo (claro, Tom Waits magnífico) para se tornar jovem novamente por causa de uma paixão. Seu desejo é concedido porém o preço é a alma de sua filha quando ela fizer dezesseis anos. Na jornada que se sucede ele vai apostando almas com seu oponente em números teatrais que fariam Gabriel Vilella se sentir lisongeado. O imaginário de Parnassus convence, agrada e merecia mais indicações neste Oscar, pois baseando-se nos indicados, sem sobra de dúvidas seria uma boa opção. Se bem que Sandra Bullock faturar Oscar de melhor atriz nem a imaginação fértil de Parnassus ou de Gilliam conceberia.
sexta-feira, 12 de março de 2010
CINELÂNDIA SAI DA COVA
Depois de um tempo fora de circulação, o blog Cinelândia está de volta para entreter, informar e acima de tudo acordar em meus amados e leais sete leitores a paixão pelo cinema, despertando-os para a crítica ácida sobre o que nós humanos nos tornamos a cada dia e como o cinema nos serve de espelho. Um bom exemplo disto, é o filme The Cove (aliás ao lado da premiação de Waltz como coadjuvante, juntos foram a única coisa que valeu a pena no Oscar deste ano, que sem sombra entrou para a história como o mais adocicado e sem graça de todos os tempos), eleito o Melhor Documentário pela Academia. A temática do filme é sobre a matança cruel e desenfreada de golfinhos no Japão, mas o filme, muito bem argumentado não se atém apenas a este fato lamentável da humanidade e abre ramificações de conteúdo político e social, nos mostrando de maneira informativa e emocionante, os rumos que o capitalismo desenfreado nos sugere. O pivô da história é o ativista Ric O'Barry, famoso por ser considerado o maior treinador de golfinhos do mundo e co-criador da série Flipper. O’Barry viu sua vida mudar quando ainda jovem, famoso pelo show na TV e muito rico, viu o golfinho fêmea Kathy (Flipper) morrer em seus barcos num gesto suicida. Você deve estranhar a palavra, mas foi exatamente suicídio o que ocorreu. Os golfinhos são considerados os seres mais inteligentes e sensíveis do planeta, depois do homem, se bem que analisando o filme, chega-se à conclusão que a medalha de prata é nossa. Eles, diferente dos humanos, tem sua respiração voluntária, ou seja, simplesmente conseguem parar de respirar e morrer. E foi o que Kathy fez após encarar Ric com olhos tristes e assim morrer em seus braços. Uma experiência desta é sem sombra de dúvidas, marcante e inesquecível para qualquer mortal, exceto para a turma de japoneses caçadores de golfinhos que se escondem numa espécie de lago onde os animais são capturados numa armadilha covarde e ali seus destinos são decididos: ou viram estrelas de parques aquáticos ou são assassinados sem piedade. Vale lembrar que o sorriso de um golfinho nos parques assemelha-se ao sorriso de Chaplin no cinema; não passa de encenação, pois os olhos não mentem e mostram sua tristeza. Golfinhos criados em cativeiros são dopados diariamente, pois estão fora de seu habitat natural. Para meu caro leitor, ter uma idéia, os golfinhos possuem um sonar que faria o mais evoluído aparelho da marinha se tornar brinquedo de criança. Eles literalmente atravessam vc num mar e conseguem perceber até se sua esposa está grávida,e se bobear,te dizem quem é o pai. Imaginem um ser com uma audição como está agüentar milhares de pessoas gritando desafinadas todos os dias. Seria como você ouvir durante 24 horas seguidas um CD do Calypso trancado dentro de uma privada, aliás, melhor lugar para se ouvir este tipo de coisa. O filme é um grito para o planeta acordar para esta crueldade e tomar uma atitude com relação a isto. Entre inúmeras cenas emocionantes, como a de golfinhos surfando ou pior, sendo literalmente fuzilados, em especial para uma cena onde um golfinho sangrando tenta fugir e inutilmente sobreviver, o que nos remete a clássica cena de Dafoe em Platoon. A coragem destes homens (ativistas) e sua inteligência para conseguirem mostrar ao mundo o que é PROIBIDO ser mostrado, já vale não só o Oscar como nosso total apoio. Por isto como aqui no Cinelândia a Bullock jamais levaria um Oscar e filme sobre Iraque (que já cansou) não passaria nem na sessão da tarde, então não faremos como a Academia fez, censurando descaradamente a placa de apelo para o mundo, numa festa que seria a melhor vitrine para uma boa causa como esta. Então meus caros, vejam o filme, reflitam e AJUDEM: mandando a mensagem de texto DOLPHIN para 44144.
Assinar:
Postagens (Atom)