terça-feira, 6 de abril de 2010
ETERNAMENTE JOVENS DE CORAÇÃO
Dante Alighieri se passasse férias no Brasil com certeza rasgaria sua obra mais notável, A Divina Comédia, por considerá-la gibi infantil perto de nossas barbáries. Um casal executa o próprio filho, é condenado e daqui oito anos estarão livres como pássaros, assim como o falso ator que matou a atriz a tesouradas e o assassino que arrastou o menino João Hélio, pelas ruas do RJ até sua morte, todos livres pela justiça, não é divino e cômico? Malufs, Sarneys e mais um bando de “cidadãos exemplares de nossa justa política” são investigados até fora de nosso país e aqui em casa mandam, desmandam, e continuam se apossando ilegalmente de fortunas incalculáveis e também não dá em nada. Bom, eu poderia descrever no mínimo noventa infernos nesta terra ao invés dos nove de Dante, mas creio que nem o poeta Virgilio, guiaria o já velhinho Dante, dentro de um trem da EMTU. Algum dos meus sete leitores, por acaso já utilizou (ou tentou) os serviços de trens metropolitanos em horário de pico? O inferno é playground comparado a esta viagem. Por acaso alguém já esteve no serviço público hospitalar em emergências e viu como pessoas idosas são tratadas? E emprego? No Brasil quarenta anos já é considerado velho para ser empregado, imagine quem tem setenta? Claro que tem a aposentadoria, evidente. Basta você pagar pro governo a vida inteira e torcer para que o rombo da previdência (olha o dinheiro que sai do país na mão de bandidos eleitos pelo povo) tenha deixado ao menos algumas migalhas para você ao menos comprar remédios de pressão e fraldas geriátricas. Por estas e outras, envelhecer no Brasil é padecer das chagas de Cristo. Claro que nossos políticos, em sua maioria velhos, caducos e cada vez mais experientes para o crime e a corrupção,se preocupam e muito com nossos pais, avós e bisavós. Não viram a lei do estacionamento em shoppings e mercados? Tudo que nossos idosos precisavam: vagas para comprar! Agora inventaram que até dentro de shopping você pode ter seu veículo multado. Dante pensou nisto? Não, pois nem o diabo pensaria em radares mal calibrados, amarelinhos picaretas e gananciosos e o xeque mate da genialidade: as vagas de idosos. Quem vai a favor de um canalha que leva multa porque parou numa das 90 vagas vazias para idosos? Ponto para os idosos, já que toda a arrecadação das multas será destinada a centros de referência de idosos, correto? Claro que não! Ainda bem que o mundo não é só feito de Brasil e em outros países mais desenvolvidos idoso, criança, homem, mulher,enfim, ser humano é tratado como ser humano. O belíssimo filme Young at Heart é uma declaração poética a este respeito e amor a gente que não envelheceu, mas sim amadureceu e ao contrário daqui onde se jogam para um canto qualquer da sala, lá se torna centro das atenções. O documentário do diretor Stephen Walker retrata a vida de um coral formado por idosos liderados pelo genial Bob Cilman com um repertório popular que varia de James Brown a Cold Play, além de muito rock and roll, tanto no som quanto na postura da turma. Aliás, os velhinhos dão uma aula de bom humor, rebeldia e acima de tudo carisma e emoção, levando às lágrimas por exemplo uma platéia formada por presidiários, além é claro do público de teatros por onde passam. No documentário eles fazem piada com sexo geriátrico, incontinência, habilidades na direção e até mesmo zombam da morte, nos jogando na cara que o moço que não chora é selvagem e o velho que não ri é um tolo. Em tempos de bandas fakes ou bandas emos, eu tatuaria no meu braço o nome de cada um destes senhores (as) que nos dão uma aula sobre a vida. Cada um tem a idade que seu coração deseja ter, pois tem gente que já nasceu velho e tem outros que jamais irão envelhecer. Young at Heart é poesia pura com momentos memoráveis, como a saudade deixada por dois membros do grupo que morrem antes da estréia do show. A canção Fix You da banda ColdPlay, interpretada visceralmente por um senhor que perdeu seu melhor amigo e com quem faria um dueto na canção, é de emocionar até o mais frios dos seres vivos e de uma qualidade digna de ser considerada uma das mais belas cenas que o cinema já produziu, com a diferença de ser REAL! Feliz daquele que nasce num país livre e justo, porém mais feliz ainda daquele que envelhece num país onde o respeito e o amor são maiores do que qualquer coisa. Meus caros e futuramente, sete leitores anciões, mas eternamente jovens de coração lembrem-se de que uma bela velhice é, ordinariamente, a recompensa de uma bela vida.
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Um comentário:
Aii que fofoooooo...
Me emocionei...quero assistir, onde acho?
Bom seria se nossos idosos agissem e fossem tratados mais dignamente não é? (vóoooo saudadeee)
Olha, não dá pra falar do CRlho da situação desse país....só posso dizer: misericordia senhor!!!
Sim sim já andei de trem (fui apalpada) e já vi as situações nos hospitais...lastimavel.
Sumemoooooooooo.
Bjotas sonoras.
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