
Na minha insônia diária, eis que ligo a TV para distrair os olhos, não pensar em nada e ver se Morfeu vem enfim me abraçar, mas surge na tela uma figura alta, forte, em cima de um palco, pregando para milhares de pessoas, e como sempre o sujeito fala de dinheiro e claro, pede dizimo. Às vezes fico na duvida se esta pregando a bíblia ou a revista Exame da semana. Aí, eu que jurava que ia conseguir fazer dormir o hamster que vive dentro do meu cérebro 24 horas correndo no arco giratório, me pego, novamente a pensar. Por que o povo não é capaz de enxergar o charlatanismo descarado em nome do pobre Jesus? O tal pastor com jeito de jagunço, chapéu de vaqueiro (!!) e fala mansa, um estilo "mineirês", pede gentilmente que 150 mil pessoas doem apenas 300 reais a ele, para que estas 150 mil prosperem na vida. É isto mesmo que os senhores leram e o que ouvi: o sujeito cobra taxa de sucesso, como se fosse um agiota das vontades divinas. A questão é que não há inocentes em jogos de interesse. As pessoas que dão, entregam os valores, porque também almejam a riqueza e não a paz. O show de calouros continua, quando um sujeito na plateia, canastrão, por sinal, o que sugere a evidência lógica de fazer parte da equipe da turma do "Fé demais não cheira bem", se diz ex-mendigo, ex-viciado em crack, ex-alcólatra e mais uns 20 ex-clichês que você imagina. Mas ao ver o super pastor passar pela rua ele resolveu tocar a canela do mesmo e aí, Fiat Lux, seu mundo começou a prosperar. Juro que a história foi esta e eu não estava dormindo. Aliás, depois disto o próprio Morfeu se enforcou por vergonha alheia e perdi o sono de vez. O ex- mendigo tira do bolso 500 reais e diz: aqui esta metade do meu salário. Graças ao senhor, meu pastor, eu prosperei. E aí, este, faz aquele número de apresentador demagogo de TV, se faz de santo e já emenda na lata, como um Silvio Santos às avessas, que ao invés de gritar quem quer dinheiro, urra quem me dá mais dinheiro e manda: Querem prosperar? Este é o caminho. Era um ex-mindingo (palavras do pastor) e agora vai ser empresário... E a plateia endoidecida grita em extase: aleluia! Foi-se a era do Jesus bom que dividia, agora é a era do que multiplica. Vivemos de fato a era do TER e não mais do SER. O que me admira é um governo corrupto como o nosso e sedento por imposto, isentar todos estes charlatões que milionários prometem até a cura do câncer e do HIV. Realmente dá para se esperar um país digno com pessoas seguindo gente desta estirpe? Porque não colher material destes "moribundos" antes da cura milagrosa, para de fato louvar o nome destes pastores mágicos pelo mundo afora, afinal muita gente necessita destas curas. Não discuto aqui a fé das pessoas e muito menos religião, pois católicos, umbandistas, crentes, etc, todos merecem respeito e sempre o terão de minha parte, o que comento aqui é o descaramento deste culto "Banco Imobiliário". Você acha que Jesus, se vivo fosse, iria ter carros importados na garagem, viagens milionárias, horários na TV, e nos casos mais extremos, como divulgados na mídia, cometeria até estupros com suas fiéis? Não esta na hora de pensar com a cabeça e não com o bolso e chegar a humilde conclusão de que não há canelas mágicas, poções milagrosas e carnês de agenciamento celeste para a prosperidade terrena? Amigos, o bem maior de todos chama-se amor e este é de graça. Se de fato há um céu ou um inferno, creia que seus atos aqui com seu próximo é que contabilizarão seus pontos na sua hora final. O respeito, a dignidade, a fé e acima de tudo o bom senso, este pobre item excluído da cesta básica do cidadão, é o que vão mover você direto para a prosperidade que não a riqueza cantada em uma versão gospel e maquiada do clássico carnavalesco: Ei, você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí...