
O Pop - que já andava mal das pernas literalmente falando - se cala de vez com a morte de seu rei: Michael Jackson. Pra quem que, assim como eu, foi súdito de tão nobre astro desde a década de 80 - quando este menino magrelo, ainda negro na época, revolucionou a música no mundo e inventou o mercado do vídeo-clipe com a maior obra prima do segmento,
insuperável até hoje, Thriller - sabe o que este texto escrito as lágrimas e de última hora (faltando menos de meia hora pra fechar a coluna, soube da notícia) possa representar. Confesso aos meus sete leitores que em 82, quando Thriller - que até hoje é o álbum mais vendido do planeta e agora com a morte do astro as vendas no mínimo triplicarão – era sucesso absoluto, este pobre colunista ganhava seus primeiros aplausos imitando mr. Jackson em festinhas e até na TV no extinto programa “Barros de Alencar”.
Confesso ter recebido a notícia como quem recebe um soco do Mike Tyson, pois sou fã e grande admirador
deste artista mais do que completo. Michael foi a figura mais controversa do show business, sem dúvida alguma, mas todos seus escândalos – que não foram poucos – jamais superarão a sua qualidade artística e legado que deixará para a eternidade. Jackson foi um artista único, ímpar, absurdamente original e que deixou uma influência inestimável para a música mundial. Quando o assunto for talento performático e musical, ninguém chegará aos pés de Michael, mesmo estes ágeis pés insistindo em irem para trás como se fossem para frente assim como a carreira e a vida transtornada deste ser iluminado por holofotes, flashs, olhares, mas, acima de tudo, por uma luz própria que só os gênios possuem, criando o estilo Jackson
que já está cravado na história da arte e, por que não, na história do mundo, afinal Michael se tornou um ícone imortal como Beethoven, Mozart e Elvis Presley. O ídolo deixa órfãos milhões de fãs e admiradores que, assim como eu, vão rever todos seus clipes, ouvir seus discos - desde os tempos da Motown, passando pelo mágico “Off The Wall” e claro Thriller -, imitar suas coreografias e trejeitos e chegar a conclusão que talvez já estivéssemos órfãos deste Michael desde a turnê do disco "Dangerous", quando Michael já branco e absolutamente transtornado já começa a se tornar tão repulsivo visualmente quanto seu personagem em Thriller e com uma vocação bizarra para criar escândalos maior do que seu talento para criar coreografias.
A cada nova plástica
parece que Michael perdia não só um pedaço de seu corpo, mas sim um pedaço de sua alma. A cada mudança de cor era como se o talento musical se dissolvesse transformando em cinzas o que um dia foi preto e se tornou branco. Seria toda esta confusão mental resíduos de uma infância roubada? Seria Michael ainda um menino de sete anos de idade mega dotado e que foi impedido de crescer? Não seria Michael o verdadeiro retrato da síndrome de Peter Pan em estágio avançado? Todas acusações contra ele, que nunca foram comprovadas, não seriam de fato prova maior de sua ingenuidade infantil?
O Deus do Pop não seria um mortal idiota na vida real? O dono de tantos bens não seria na verdade apenas um único bem na mão de tantos donos? Afinal Jackson era meu, era seu, era do vizinho, era de seus advogados, era dos seus agentes, companheiros de palco, era de sua família, era de todo mundo menos de si mesmo. O entertainer insuperável, o excelente cantor, o exímio bailarino criativo, o talentoso compositor que mesclava ritmo, melodia e imagem para criar e promover sua obra e o disco mais bem vendido de todos os tempos e ainda mudar a história da música não passava de uma luva branca coberta de lantejoulas que passava de mão em mão.

Michael deixou uma lacuna irrecuperável no show business mundial, mas nunca deixará esta mesma lacuna na mídia porque, mesmo morto artisticamente há alguns anos, ainda vinha alimentando jornais e revistas com fofocas bizarras e agora, quando se preparava para a ressurreição artística do bom e velho Michael, ironicamente o destino lhe prega uma peça e Michael real morre deixando o retorno do ícone à sombra de um passado distante, mas que ainda suprirá por longos anos a triste e vazia indústria da fofoca que criará novas teorias conspiratórias sobre o artista que, assim como Elvis, mesmo morto jamais poderá ter o descanso eterno, pois aos deuses não pertence este luxo. É o preço de tamanha divindade.

Triste mês de junho para o mundo, mas excelente mês para a mídia que já anunciará em breve que em mês de festas juninas Mr. Jackson morre engasgado com um pé de moleque ou que os anjinhos barrocos no céu terão suas auréolas corrompidas e por aí afora. Inúmeras Billie Jeans vestidas de negro aparecerão se proclamando legítimas viúvas enquanto os paparazzis farão campana na porta da casa de Macaulay Culkin, que seria a verdadeira viúva de Michael para a indústria da fofoca. É, Culkin, acredite que desta vez não vão “esquecer você”.

Entre tantas piadas e conspirações sobre a verdade sobre Michael Jackson nós, pobres mortais fiéis de sua obra, só torceríamos para que Michael revolucionasse não só a indústria do entretenimento, mas sim a vida na forma que conhecemos e nos surpreendesse com seu funeral quando os irmãos Jackson - ao carregarem o seu caixão -seguissem o cortejo fazendo o passo MoonWalker, nos enganando que iam para a cova quando na verdade o trariam de volta ao palco mais próximo, de onde Jackson
sairia de seu ataúde, daria a tradicional voltinha em torno de si mesmo, seguida por seu grito e sairia dançando até se dissolver no ar como pó de estrelas e só ouvíssemos ao fundo a risada de Vincent Price nos provando de que tudo não passa de uma grande brincadeira e ele, Michael, uma eterna criança perdida, permanecerá viva para sempre nos palcos de nossa eterna mente brilhante como a luva de um astro que se recusa a dizer adeus.
















