sexta-feira, 5 de junho de 2009

Anjos ou demônios na arte de contar uma bela história



Assim como seu antecessor, O Código Da Vinci, o filme Anjos & Demônios teve novamente como força motriz de divulgação a tentativa de criar mais uma polêmica contra a Igreja Católica, que desta vez não deu a mínima atenção ao fato, até mesmo porque sinceramente não há polêmica alguma a não ser a que eu levanto agora sem a benção do Papa e nem do padre Marcelo: um bom livro se torna um bom filme?
Que literatura e cinema são formas de arte distintas e que possuem uma linguagem própria já sabemos. Basta analisarmos o fato de que nos livros a dimensão da história é outra e a percepção da mesma pela nossa ótica de leitor se renova sempre a cada leitura e a cada momento de vida em que estamos passando.Você pode ler e reler, até no mesmo dia, que os mesmos parágrafos podem ser compreendidos de outra maneira e a imagem na sua mente é completamente modificada como num caleidoscópio.
O leque de cenários, de tipos físicos, de cores e de emoções é muito mais brando do que no cinema onde alguém - geralmente o roteirista e depois o diretor - apresenta o formato que fora absorvido por ele (s) em cima de tal obra e o leitor - agora espectador - assiste a tudo por outros olhos que não mais os seus e, sim, o olhar da câmera que o levará para onde o diretor quiser levá-lo e construir toda sua emoção em cima desta nova visão.
Você não está mais apto a contribuir à história, pois a sua imaginação foi simplesmente freada e substituída pela imaginação de quem fez o filme. Seria como você ver um quadro, porém nele as nuvens se movem, as luzes acendem e apagam, tem música na tela, as figuras andam, gritam, choram, morrem, matam, e o que antes era estático e tomava forma apenas em sua imaginação hoje em movimento lhe vem como fast food para seu entretenimento. Muitas vezes um alimento nutritivo, de fato, mas em outras, puro e simplesmente um chiclete para os seus olhos.
Os símbolos utilizados no cinema numa adaptação literária dão crédito ao mito de que uma imagem vale mais que mil palavras. Talvez a afirmação até seja real quando o assunto é paisagem, cenários ou a ideia de se vender ou desejo de se consumir algo. Mas quando o assunto é a psique humana e sua gama rica de sentimentos, nada mais elucidativo que a narrativa do autor da obra (livro) que nos guia para uma viagem aos labirintos significativos dentro da alma de suas personagens.
Claro que a obra de Dan Brown, em questão, não tem esta envergadura e não deixa de ser puro entretenimento, porém o livro diverte e elucida muito mais do que o filme que se tornou confuso, extremamente verborrágico e claro, como resultado disto, enfadonho. Não subestimando Tom Hanks que é um grande ator, eu não o vejo como Robert Langdon – protagonista da trama - em hipótese alguma e talvez por isto o descrédito do filme. Interessante que o próprio autor quando dá características físicas ao seu personagem, o compara com Harrison Ford, que evidentemente não deve ter topado a empreitada.
Uma pena, pois faria bem melhor que Hanks e um blockbuster deste porte poderia salvar a carreira pós o vexame de Indiana 4. Aliás, quanto a esta questão de phisic de role (perfil físico) de personagens, na obra de Puzzo - o livro “Poderoso Chefão” - Michael Corleone é loiro, alto e forte e Pacino mesmo sem nenhuma destas qualidades conseguiu convencer os leitores de que o autor poderia ter se equivocado nas características, pois não se imagina um Michael Corleone sem ser Pacino, o que é uma exceção da regra, que transcende até a imaginação do autor.
Claro que para imaginarmos cenas e personagens, tanto o autor ou nós, leitores, temos de pensar e muita gente acha isto um tanto quanto cansativo. Absorvem arte apenas se ela vier por uma tela. Isso encoraja à preguiça. Preguiça que eu confesso ter tido - mesmo sendo um leitor assíduo viciado em livros e rato de biblioteca assumido – e ter escolhido o cinema para conhecer grandes obras como Guerra e Paz, o Conde de Monte Cristo, Madame Bovary, o Homem que Ri, entre outros clássicos que ainda lerei, mas que num momento preferi assisti-los, já ciente de toda carga diminuta que traria à obra. Foi mais matemático que preguiçoso, pois o tempo que levaria para ler a obra de Tolstoi, eu li a obra completa de John Fante, por exemplo. A leitura de um bom livro é um diálogo incessante: o livro fala e a nossa alma responde.
Sinceramente meus caros sete leitores torço para que consigam assistir grandes obras no cinema e lerem no mínimo um clássico por mês, pois além de enriquecer sua cultura e vocabulário, a leitura engrandece a alma e ainda é um ótimo passatempo e inimiga do tédio que vem ao mundo pelo caminho que a preguiça abre. O livro nos traz sempre a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado. Que as pessoas em seu caminho não tenham preguiça para desbravá-lo ou descobri-lo em sua essência, assim como a um bom livro.
Você pode ser uma obra complexa, rica, infestada de manifestações e acima de tudo repleta de emoções. Talvez o mundo queira condensá-lo a uma visão mais rápida e simples do que você realmente seja, para que você possa vir a ser absorvido por muitos, assim como transformam uma obra literária e complexa num filme simples e rápido.
Cuidado para não se deixar ser adaptado para um universo que não seja o seu e regido por uma visão que também não seja a sua. Seja macro como um grande clássico e não permita que uma simples adaptação reduzida e editada do que você de fato é o transforme para o mundo num anjo ou em um demônio.

7 comentários:

Helene Eichel disse...

Muito bem escrito.
Adorei!

teste disse...

Bom, enquanto não ler o livro, não pretendo ver o filme... mania boba talvez mas, ávido por leitura não se permite fazer isso! rsrs
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http://bloggalemdoqueseve.blogspot.com
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nikki disse...

sou apaixonada por cinema e adorei a critica q vc fez. ainda nao vi o filme, embora esteja morrendo d vontade d ler, e confesso q tbm nao li o livro mas depois disso vou procurar fazer os dois!

http://voltoem5minutos.blogspot.com/

Leonardo Assumpção disse...

Bem... Primeiramente, obrigado pelo comentário...
Po cara, tá muito bem escrito o seu blog. Tem conteúdo, não é pra qualquer um. Parabéns também ;)

Deve ser difícil fazer crítica de filmes, livros... Tem que gostar mesmo do tema. Parabéns (mais uma vez?) pelo blog, bem elaborado. =D

Jaqueline disse...

Parabéns pelo Blog!
Eu li o livroo e adorei!
Agora quero assistir o filme!

Márcio disse...

Eu gostei do seu blog, principalmente porque adoro cinema. Mas se me permite uma crítica, o layout deixa a gente meio perdido. No mais, perfeito...

nikki disse...

obrigada pelo comment e pela visita!

bem, ainda nao consegui ver anjos e demonios! HAUSHAUASUHAS
mas estou esperando ansiosa outra critica sua, pois adorei a q vc fez!