domingo, 12 de julho de 2009

CONFISSÕES DE UM MACHO



Recentemente li “O astro sombrio de Hollywood” - a biografia de Heath Ledger lançada no Brasil há alguns meses - e conclui o óbvio: num mundo de artes tão repleto de pessoas sem talento algum, é lamentável perder um astro com todos opcionais. Ledger era brilhante em seus trabalhos e prova maior disto fora sua versão do Coringa em Cavaleiro das Trevas - já descrito nesta coluna e agraciada com Oscar - e o divisor de águas de sua carreira: o lacônico personagem Ennis Del Mar do polêmico “Segredo de Brokeback Mountain”. É triste saber que o cinema perde um ator deste calibre com esta coragem e vontade suprema de enfrentar personagens difíceis e introspectivos. Para quem recusou milhões de dólares para ser o Homem Aranha, porque não se sentiria bem pulando prédios vestido num collant justíssimo, aceitar interpretar o fardo de um cowboy macho apaixonado por outro cowboy macho é no mínimo de uma opinião contestadora e bravamente admirável. Sem ser pejorativo, digo cowboy macho no sentido mais explícito da palavra: homem de atitude e coragem. Há uma diferença enorme entre o machão e o macho. O primeiro fala alto, grita, vive em bandos, ofende a esposa, só fala de futebol e jamais demonstraria sentimentos porque isto não é coisa de machão, enquanto que o segundo tem coragem de enfrentar as situações mais adversas; tem espírito de menino, bravura de guerreiro, mas acima de tudo não tem vergonha de chorar quando preciso for e de amar acima de sua limitação de compreensão herdada do homem de Neandertal. A comovente história de amor entre Ennis Del Mar e seu colega Jack Twist (o competente ator Jake Gyllenhaal) nos toma de assalto e nos prova de que o amor - sentimento muito mais indomável do que qualquer cavalo bravo de rodeio - quando chega não nos dá a opção de escolha. É o sentimento mais democrático e ao mesmo tempo mais ditador que existe. Este tal de amor, nos coloca à prova quando menos esperamos e tem a força e o poder absoluto de fazer com que um judeu se apaixone por uma palestina, que um corintiano ame uma são paulina, que padre morra de amores por uma prostituta, que um líder da ku klux klan se derreta no colo de uma negra e porque não, um amor que faça com que dois homens ou duas mulheres não consigam controlar este sentimento desenfreado e se entreguem a total paixão, mesmo que proibida aos olhos de uma sociedade falida, mas pragmática, que coloca o dedo na ferida que ela mesma causa com sua lança afiada de intolerância, dogmas e preconceitos. Falando em preconceito, muito homem se recusou a ver o filme por ser um filme de gays, mas não nada de gay nesta história, no sentido alegre, ou paródico do termo e muito menos se levanta bandeira – sem piadinha de duplo sentido - ou tenta influenciar alguém a mudar de opção sexual. Ninguém ali curte uma perversão ou uma sacanagem. Transcende um pouco isto e vai muito além de onde a imaginação do machão consiga chegar, pois é um filme dominado por um violento e poderoso amor. Amor de “macho” que talvez assuste “machões” influenciáveis, daqueles que seguem o rumo da conversa dos amigos, aqueles que espancam um torcedor adversário porque os “amigos” de torcida acham que é o correto, aqueles que mentem sobre suas aventuras sexuais com mulheres apenas para impressionar os amigos na roda e serem aceitos por eles, estas pessoas sim tem de temer verem um filme e serem influenciadas, afinal se dois cowboys, símbolos de macheza pura sucumbiram a este prazer involuntário e animalesco, quando um desejo milenar explodiu entre eles, imagine você meu caro amigo “macho pero no mucho” como seria mais fácil se entregar a tal sentimento “influenciável”. Portanto, aqueles que assim como eu, estão resolvidos sexualmente, amam suas namoradas, esposas e amantes heterossexuais e não se sentem constrangidos em se emocionarem por uma bela história de amor, recomendo o filme, que é uma reflexão sobre a ânsia de desejo que nos move para os outros, sobre a vontade animalesca e irrefreável da busca pelo prazer absoluto, contido no amor ente dois seres apaixonados, sejam eles heteros ou homos, não importa, pois o amor não se define; sente-se. Você curte pagode e ela é fã de Miles Davis. Você ama os filmes do Van Damme e ela viu e reviu a trilogia das cores de Kieslowski. Você curte revista pornô e ela estuda sexo tântrico. Você curte uma balada e ela um jantar na casa de amigos. Você é gordo e está ficando calvo e ela linda e com um corpo de deusa. Meu caro, graças a Deus o amor de fato é inexplicável, pois só isto explicaria você ter alguém assim do teu lado. É um sentimento humano por outra pessoa elevado ao grau máximo de admiração, onde geralmente não se escolhe, se é escolhido. E não tente compreende-lo pois qualquer pergunta permanecerá retórica. Quem somos nós para julgar um ato de amor, se aquilo que se faz em nome dele estará sempre além do bem e do mal. Brokeback Moutain pode ser apenas uma metáfora para as colinas de dúvidas e incompreensões que habitam o vale montanhoso de nossa solidão, onde o amor em horas irradia de sol, em outras ilumina como lua cheia, em outras ataca com fortes tempestades, nos dá flores, transforma-nos em desertos, não importa, o fato é que ninguém está livre deste sentimento. Nietzsche, um dos maiores filósofos que o mundo conheceu - que chorou e morreu de amor também - afirmou que até Deus tem um inferno: é o seu amor pelos homens.


3 comentários:

Manunamoral disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Manunamoral disse...

Caraleoooo Mau, que post! Confesso chorei.

1º - Vc ficou uma lindeza "peleco" (provou que é macho).

2º - Quer me matar é????
PQP, eu sou fã do meu querido heath....desde sempre!!

Heathcliff Andrew Ledger

Nossa esse era o cara mais fodástico entre os meus atores favoritos.

Quem me conhece sabe que desde que assisti "10 coisas que eu odeio em você", acompanhava o trabalho dele...

Quantos filmes maravilhosos, "O segredo de B....", "Casanova", "Coração de cavaleiro"...esses são os meus preferidos. Ontem por coincidencia eu tava assintindo "10..."

Você arrasou nas palavras..tô aqui com um nó na garganta lembrando que ele não está mais entre nós (Porque os bons sempre morrem jovem e são tão idiotas (às vezes))com aquela carinha de bad man e o coração do tamanho do mundo, que só ele tinha.

É a vida é assim mesmo....

Quero essa biografia há tempos, mas a minha descapitalização tá foda...huahauhauha

3º - Adorei sua definição de "machão e macho"....oh cabra macho vc heim Mau.

4º - Obrigada pelas palavras sempre.

Sumemooooooooo.

Bjotas sonoras.

Heath Ad Infinitum.

Daniel Kid disse...

Muito bom os textos Mau!!!!

Se o mundo inteiro tivesse mais amor, quem sabe as guerras não aconteceriam....

Estamos na luta mano!!!
Abração! http://danielkid.blogspot.com