JEANS CHARLES FOI NOSSO 11 DE SETEMBRO
Bem amigos da Lavoura Arcaica, mas o que é isto companheiro? Começa o jogo e já tem Caramuru no céu. E lá vai o caricato Chicó que dá um drible em Lisbela e lança a bola pra Leléu, o prisioneiro, que mesmo desafinado e cheirando ralo passa a bola para Johnny Estrela, o camisa dez que dá um chapéu na mulher invisível e manda um Feliz Natal de bandeja pra Jean Charles que chuta contra o goleiro inglês e é gooooooool. Mais um gol do time de fominhas do cinema: Selton Mello Futebol Clube. Pois é, meus queridos sete leitores e aqui ouvintes deste jooooogo espetaculaaaar...Mais uma vitória nas mãos (ou pés) do grande ator Selton Mello em mais uma produção nacional do cinema que leva o nome do jovem como protagonista. Aliás, são tantos filmes com Selton que se forem filmar no Brasil a vida e morte de Michael Jackson, não se admirem se ele for o Michael. Mas nos atendo ao mais recente trabalho do ator, esta coluna hoje divaga sobre Jean Charles, do estreante (na ficção, já que seus trabalhos anteriores são documentários) diretor Henrique Goldman sobre a vida e morte (estúpida) do brasileiro executado em Londres. O filme, que havia sido encomendado pela rede estatal britânica BBC, foi cancelado por questões legais e divergências artísticas com o diretor, pois ele queria privilegiar o ponto de vista brasileiro da história (e o fez), enquanto a BBC queria algo com a visão inglesa do caso.
Independente de qual hemisfério venha esta visão, a verdade é uma só: Jean foi executado covardemente por policiais incompetentes. Fato este já indiscutível para o mundo, incluindo a Inglaterra que apesar de não condenar os assassinos – o que mostra que impunidade não é produto nosso apenas – tem a sua opinião pública favorável a família de Jean. Apesar do filme ter evidentemente seu enfoque no assassinato do jovem, o filme também é um retrato do cotidiano de brasileiros que tentam uma vida mais digna, fora de seu país. Um Brasil que já foi feito por imigrantes e hoje, infelizmente, produz um número infinito de emigrantes devido sua condição pouco favorável no mercado de trabalho. Um país injusto onde o corporativismo e a corrupção ainda imperam em todas as esferas prevalecendo a incompetência em diversas áreas e ocasionando uma fuga desesperada daqueles que com um diploma (as vezes dois ou três) nas mãos se vêem obrigados a lavar pratos num país distante para ter uma dignidade maior e poder assim sustentar os custos de uma vida menos ordinária. Poucos filmes mostram a visão do brasileiro fora de seu habitat e Jean (o filme) cumpre bem o seu papel com atenção especial ao ator Luis Miranda que com seu personagem não só rouba a cena - levaria facilmente um Oscar de coadjuvante, caso um dia nossas produções tivessem o mesmo respeito e admiração da Academia quanto às de outros países – como nos revela o retrato fiel do brasileiro humilde, com uma cultura pobre, simples, jogado mundo afora pra dar uma vida melhor a sua família aqui. Suas tiradas no filme são geniais demonstrando a sabedoria popular dentro de tamanha humildade. É o que temos de melhor sendo exportado para ser uma espécie de escravo do novo milênio. Lá fora as comunidades estrangeiras funcionam como verdadeiros consulados e às vezes até muito mais precisos e funcionais com os que lá estão do que o oficial. Fora de nossa pátria nos sentimos mais carentes e portanto nos abraçamos mais, uns ajudando os outros, como verdadeiros irmãos filhos de uma mãe não muito gentil que insiste em descansar num berço explendido enquanto a casa rui. Mas nestas comunidades nem todos são confiáveis e muito menos lutam por uma vida melhor lá e cá. A estirpe do mal caráter rompe fronteiras e infelizmente tem o passaporte carimbado em qualquer alfândega, pois ainda não criaram o raio X de alma. Portanto é difícil saber num mundo globalizado e quase que homogêneo quem de fato é bom, quem de fato é mal desde que a onda terrorista pós-onze de setembro assim como um Tsunami inundou a razão e a inteligência de órgãos governamentais criados para conter tal atividade ilícita e hedionda e não equiparar-se a tal como foi feito pela polícia da Inglaterra, quando o assunto é crueldade, preconceito e intolerância. Jean foi covardemente derrubado na mesma proporção que as torres gêmeas e os milhares de vítimas nos EUA com esta tragédia se equivalem aos milhares (ou milhões) de estrangeiros pelo mundo afora que se sentiram derrubados com tamanha tragédia e covardia. Se a intenção era conter o terrorismo, a polícia da Inglaterra conseguiu o inverso causando ela mesma um terror na mente de seus estrangeiros que viverão com a eterna dúvida mortal de serem fuzilados por engano, afinal qualquer um pode ser confundido com um terrorista, ainda mais quando este terror não tem rosto e muito menos pátria definida. Nosso povo pode até ser um pouco malandro, como Jean era na Inglaterra, mas um malandro do bem. Bom coração, boa pessoa, que perdido no meio de tanta injustiça social tenta se virar e sobreviver, mas não temos nem de longe fama de assassinos psicopatas e muito menos terroristas. Não temos vocação para este tipo de coisa e nem uma causa “justa” para lutarmos com tamanha ferocidade. Deus é brasileiro, mas abençoa o mundo todo. Nosso Cristo recebe todos os povos de braços abertos, sejam franceses, ingleses, iraquianos, não importa. A maior prova para o mundo de que não temos vocação para terroristas é ver nosso Congresso Nacional intacto. A única bomba que insistimos em detonar, caros amigos ingleses, em atos suicidas, ainda se chama URNA e seu detonador é o VOTO. Até quando seremos eternos terroristas de nós mesmos?
Um comentário:
Coments por tópicos:
1. Selton Mello é "o cara".
2. O diretor mandou bem demais no filme e em suas opiniões.
3. JC se foi, como tantos que já se foram e a gente nem ficou sabendo.
4. A politica no Brasil (como no mundo) é uma M... mesmo, mas diz ai: quem se propõe a muda-la ou se corrompe ou é retaliado ao extremo.
5. Post Perfect.
Bjotas sonoras.
Manu
Palmas/TO
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