A ÚLTIMA DANÇA DE PATRICK SWAYZE
Em 1983, o grande Copolla conseguiu uma proeza e quase uma profecia reunindo em um único filme, jovens que se tornariam grandes astros. Entre eles estavam: Matt Dilon, Ralph Macchio, Rob Lowe, Emilio Estevez, Tom Cruise, C. Thomas Howell, Daiane Lane e Patrick Swayze. Alguns destes jovens astros se mantem no topo até hoje, alguns se perderam no tempo e outros optaram por uma carreira discreta, mas produtiva, como foi o caso de Swayze. Filho de um engenheiro com uma bailarina, ainda jovem se tornou dançarino de ballet, porém ao conquistar a cobiçada vaga de primeiro bailarino de uma companhia famosa de NY foi vítima de um golpe do destino - o primeiro em sua vida - ao ver-se obrigado a abandonar um espetáculo ao lado do maior bailarino do mundo Mikhail Baryshnikov, quando uma velha contusão dos tempos de futebol o obrigou a interromper sua carreira. O destino havia fechado uma porta, mas aberto uma porteira, já que na carreira de ator - sua segunda opção - Patrick fez seu nome. Ironicamente estreando na Broadway como Danny Zuko no musical Grease - papel de John Travolta no cinema - e depois em alguns papéis coadjuvantes no cinema, foi em Dirty Dancing que debutou como protagonista, onde claro, ele dançava de novo. A música perseguia Swayze de tal forma, que o mesmo até compôs e cantou “She’s like the wind”, uma das canções da trilha de Dirty Dancing, que junto com a canção tema “I've had the time of my life” (vencedora do Oscar) fez muito sucesso nas paradas de sucesso pelo mundo afora. Em seguida fez o filme “Matador de Aluguel” – mais uma tradução brasileira de título, sem pé e nem cabeça -, onde interpretava um leão de chácara num bar de estrada, embalado pelo blues contagiante de Jeff Healey. Olha a música aí de novo lado a lado com Swayze neste vídeo-clip de longa metragem. Mas o grande filão de Patrick veio mesmo em Ghost, uma comédia romântica sobrenatural que emocionou o mundo e fez com que a música – Swayze e música, de fato nasceram um para o outro – dos Righteous Brothers depois de décadas voltasse às paradas de sucesso. Depois de Ghost um outro sucesso do astro foi Caçadores de Emoção onde ele interpretava um surfista ladrão de bancos com uma filosofia de vida no mínimo invejável e um final , mais do que honrado, assim como foi o final deste astro que preferiu morrer em seu racho – com o estranho nome de BIZARRO – sob os olhos de toda sua família. Uma despedida digna a um astro ímpar que venceu a luta contra o alcoolismo, a luta contra as drogas, a luta contra a fama fácil e o assédio constante, mas foi derrotado por uma doença absurdamente cruel e fatal. Patrick deixa um legado de alguns filmes bacanas, mas seu maior legado sem dúvida foi a história de amor com sua esposa Lisa Niemi com quem era casado há 34 anos, numa eterna paixão cada vez mais ascendente. Num mundo fútil como o que circulam astros e estrelas, onde se casa numa capa de revista, se separa em outra e se casa novamente na edição do dia seguinte, só mesmo um grande homem , para abolir o sexo gratuito fast- food e abdicar da fama vazia e nula para viver uma longa história de amor ao lado de sua prometida. A última carta de Patrick deixada para sua esposa foi sem dúvida a sua última dança e talvez uma das mais dignas de aplausos em sua carreira. Encerro com as palavras deste ator bacana e marido exemplar: "Sou muito grato por você ter escolhido me amar. Eu sei que, por causa de você, achei minha alma e me tornei o homem que sempre quis ser. Você é minha mulher, minha amante, minha amiga e minha dama. Eu sempre te amei, eu te amo agora e vou amá-la ainda mais". Ao som de Unchained Melody a vida imitou a arte ou a arte que imitou a vida...ou neste caso: a morte!
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
B B BRUNO
Depois de Ali G e Borat, o infame, porém inteligente e versátil, comediante, Sacha Baron Cohen chega as telas novamente, agora com seu personagem homossexual Brüno. Para entender melhor este inglês que vem inovando o mercado da comédia com influências óbvias de seus conterrâneos Peter Sellers e a trupe do Monty Python, recomendo sua biografia não autorizada, que me surpreendeu em cada detalhe da jornada deste maluco genial, até o auge de seu sucesso, e claro, seus inúmeros processos e inimigos. Desta vez o alvo do bombardeio de Cohen é a fama instantânea, que dá margem a astros cada vez mais vazios que se proliferarem como pulgas. Cohen, com seu Brüno – assim como Borat -, incomoda, ofende e esfrega na cara de seus interlocutores todo preconceito homofóbico e racial, que a maioria mantém enrustida. Num mundo onde futilidade e o sucesso instantâneo e descartável se tornaram prioridades, Sacha consegue nos fazer rir do óbvio. Consegue ainda juntar Bono Vox, Slash, Elton John e mais um time de estrelas da música para brindar toda a nossa estupidez latente numa espécie de USA for Africa em prol da imbecilidade. A falta de talento do personagem Brüno, alinhada a sua falta de escrúpulos e de caráter o transforma num astro, assim como 85% (chutei baixo, porque estou de bom humor) de todos astros que engolimos a seco diariamente. É inacreditável como chegamos num ponto onde o senso crítico das pessoas foi fulminado. Na música há décadas não há nada novo, aliás, a dinastia do axé com sua batida absolutamente idêntica e suas letras vazias e monossilábicas ainda mexem com a cabeça (ou seria a bunda?) das pessoas. Grupos de forró e bandas Emo nem preciso comentar nada. É o supra sumo do fake, perdendo apenas para o sertanejo (até hoje não entendi porque este título, se o que eles menos fazem é música sertaneja) com sua produção manufaturada de cabeças ocas e egos gigantes. Mas ao invés de disparar minhas poucas balas a esmo, prefiro deixar a artilharia no comando de Sacha, que deveria ser ministro do Exército, em especial na guerra contra a demagogia. Brüno põe em discussão temas polemicos como a homossexualidade, o mundo da moda, guerra, religião, troca de casais, show business, e nos 80 minutos de filme e de muita baixaria, claro, nos da uma imagem muito próxima da nossa trsite realidade, já que pelo andar da carruagem o que vemos é uma perspectiva bastante negativa no futuro. A inversão de valores chegou a tomar uma dimensão tão assustadora, que já passa despercebida entre nós. O que tem valor hoje é o que está na mídia e quem a comanda. Não importa se você ficou famosa por ter um filho bastardo de uma estrela; se você espanca mulher e jornalistas mas na TV faz cara de anjinho barroco; se você se degladiou e mostrou seu lado maquiavelico monitorado por câmeras 24 horas enquanto seus “amigos” eram eliminados; se você vende seu corpo a qualquer preço; se canta tudo aquilo que não acredita; se nunca sequer subiu num palco de teatro, mas jura que é ator; o que importa tudo isto? Afinal o importante é o sucesso, não é mesmo? O fim justifica os meios. Hitler, que Brüno admira, também pensava assim. Enfim, se você faz parte deste seleto grupo de psicopatas – pessoas sem sentimento algum, guiadas por um egoísmo infinito – pode ser que venha a se tornar um astro. Lembre-se as inscrições do BBB 10 já estão chegando e caso você não consiga entrar, não se preocupe pois tem a Fazenda do Bispo. Pode até ser que você saia de um destes realitys famosos e Brüno lhe entreviste, não é mesmo? Se Sacha conhecesse o Brasil teria material de sobra para mais um de seus filmes documentários, onde a ironia e a inteligência abate sem pena a estupidez e a imbecilidade. Na eterna guerra de egos, na vitória da falta de talento sobre a arte e claro na batalha surreal que emissoras de TV travam em troca de “artistas” que nada valem e que nada tem a nos oferecer ou acrescentar, creio que Brüno de fato seria a nossa pomba da paz a cagar eternamente sobre nossas cabeças já tão vazias!
Depois de Ali G e Borat, o infame, porém inteligente e versátil, comediante, Sacha Baron Cohen chega as telas novamente, agora com seu personagem homossexual Brüno. Para entender melhor este inglês que vem inovando o mercado da comédia com influências óbvias de seus conterrâneos Peter Sellers e a trupe do Monty Python, recomendo sua biografia não autorizada, que me surpreendeu em cada detalhe da jornada deste maluco genial, até o auge de seu sucesso, e claro, seus inúmeros processos e inimigos. Desta vez o alvo do bombardeio de Cohen é a fama instantânea, que dá margem a astros cada vez mais vazios que se proliferarem como pulgas. Cohen, com seu Brüno – assim como Borat -, incomoda, ofende e esfrega na cara de seus interlocutores todo preconceito homofóbico e racial, que a maioria mantém enrustida. Num mundo onde futilidade e o sucesso instantâneo e descartável se tornaram prioridades, Sacha consegue nos fazer rir do óbvio. Consegue ainda juntar Bono Vox, Slash, Elton John e mais um time de estrelas da música para brindar toda a nossa estupidez latente numa espécie de USA for Africa em prol da imbecilidade. A falta de talento do personagem Brüno, alinhada a sua falta de escrúpulos e de caráter o transforma num astro, assim como 85% (chutei baixo, porque estou de bom humor) de todos astros que engolimos a seco diariamente. É inacreditável como chegamos num ponto onde o senso crítico das pessoas foi fulminado. Na música há décadas não há nada novo, aliás, a dinastia do axé com sua batida absolutamente idêntica e suas letras vazias e monossilábicas ainda mexem com a cabeça (ou seria a bunda?) das pessoas. Grupos de forró e bandas Emo nem preciso comentar nada. É o supra sumo do fake, perdendo apenas para o sertanejo (até hoje não entendi porque este título, se o que eles menos fazem é música sertaneja) com sua produção manufaturada de cabeças ocas e egos gigantes. Mas ao invés de disparar minhas poucas balas a esmo, prefiro deixar a artilharia no comando de Sacha, que deveria ser ministro do Exército, em especial na guerra contra a demagogia. Brüno põe em discussão temas polemicos como a homossexualidade, o mundo da moda, guerra, religião, troca de casais, show business, e nos 80 minutos de filme e de muita baixaria, claro, nos da uma imagem muito próxima da nossa trsite realidade, já que pelo andar da carruagem o que vemos é uma perspectiva bastante negativa no futuro. A inversão de valores chegou a tomar uma dimensão tão assustadora, que já passa despercebida entre nós. O que tem valor hoje é o que está na mídia e quem a comanda. Não importa se você ficou famosa por ter um filho bastardo de uma estrela; se você espanca mulher e jornalistas mas na TV faz cara de anjinho barroco; se você se degladiou e mostrou seu lado maquiavelico monitorado por câmeras 24 horas enquanto seus “amigos” eram eliminados; se você vende seu corpo a qualquer preço; se canta tudo aquilo que não acredita; se nunca sequer subiu num palco de teatro, mas jura que é ator; o que importa tudo isto? Afinal o importante é o sucesso, não é mesmo? O fim justifica os meios. Hitler, que Brüno admira, também pensava assim. Enfim, se você faz parte deste seleto grupo de psicopatas – pessoas sem sentimento algum, guiadas por um egoísmo infinito – pode ser que venha a se tornar um astro. Lembre-se as inscrições do BBB 10 já estão chegando e caso você não consiga entrar, não se preocupe pois tem a Fazenda do Bispo. Pode até ser que você saia de um destes realitys famosos e Brüno lhe entreviste, não é mesmo? Se Sacha conhecesse o Brasil teria material de sobra para mais um de seus filmes documentários, onde a ironia e a inteligência abate sem pena a estupidez e a imbecilidade. Na eterna guerra de egos, na vitória da falta de talento sobre a arte e claro na batalha surreal que emissoras de TV travam em troca de “artistas” que nada valem e que nada tem a nos oferecer ou acrescentar, creio que Brüno de fato seria a nossa pomba da paz a cagar eternamente sobre nossas cabeças já tão vazias!
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
O DIA EM QUE VAN DAMME ENCAROU BELCHIOR!
Um nasceu em Bruxelas e o outro no Ceará. Tão distantes, tão diferentes, completamente divididos, porém em mais um destes mistérios da vida, estavam tão próximos. O menino de Bruxelas aprendeu karatê e balet e se tornou dono de uma força e de uma agilidade sem limites no corpo para golpes certeiros, dando-lhe títulos de campeão. O do Ceará estudou piano e se tornou um compositor também com agilidade para coreografar sons fortes e palavras afiadas como uma navalha dançando na carne de quem ouve e ferindo sem querer aqueles cantam como se convém. Com ídolos como Bruce Lee, o lutador de karatê se mandou para Hollywood e virou astro de cinema. O compositor, que admirava Bob Dylan, se mandou para o Rio de Janeiro e depois São Paulo e se tornou um astro da MPB. Mundos de sonhos, de ilusões e de mensagens sugeridas de ambas as partes. A mensagem de um, mesmo que subliminar era a violência - que sempre será o último refúgio dos incompetentes. Já a mensagem do outro era o amor, ali implícito e explicito em frases bem construídas que nos atingem o coração com a força de uma pernada ou um soco no estômago do moço de Bruxelas. Qual será a verdade de um e qual será a verdade do outro? Será que a mão fechada do lutador grita mais segredos que a boca aberta do compositor? E o peito de ambos seria um deserto, como aquele medo na hora do almoço em família, que o compositor nos contou? Na eterna luta do dia a dia a caminho do sucesso, seriam estes dois homens vencedores? Para eles o Oscar ou o troféu abacaxi, modificaria suas almas? Marginais bem sucedidos, amantes da anarquia ou renegados sem causa? O que aproximaria tanto estas duas pessoas? Seriam as dividas provindas da carreira bem sucedida, porém mal administrada? As brigas judiciais de ex-esposas? Seria o cansaço de fazer algo que já não mais os satisfaz? Ou seria acima de tudo a desistência de se manter no pódio do vencedor, onde mesmo com a alma partida exige-se o eterno sorriso nos lábios para todo e qualquer admirador que você não faz a menor idéia de quem seja. A cada rosto sem nome, a cada pedaço de papel com tua caligrafia saudando algo que desconhece, o que de fato te acrescentaria? De todas as lutas que o moço de Bruxelas, Jean Claude Van Damme enfrentou, no filme JCVD ele retrata metalinguisticamente a sua maior batalha – o declínio de sua carreira. E de toda revolução que Belchior incitou, talvez seja a rebelião dentro de si mesmo a que mais lhe tenha afetado. Estaria aí sua obra prima? Seriam os quadros que Belchior pinta, retratos guardados de um Dorian Gray enrustido que mais lembra o Nietzsche que o belo jovem? Van Damme por outro lado, põe de vez a carreira ou o que restou dela à prova em seu novo filme JCVD, onde ficção se mistura com realidade e ele, Jean Claude, se desprende de seus vazios personagens e nos apresenta um complexo astro desnudo em plena decadência com golpes mais precisos e mais duros em sua alma do que os que atingiu seus inúmeros oponentes. A sede de sucesso fez com que JCVD trocasse a sua faixa preta pela tarja preta dos medicamentos proibidos e da cocaína – um verdadeiro knockout em sua carreira. Numa bad trip quase sem volta, perdeu amigos, filha e trabalhos, como depõe neste filme, que beira até documentário em alguns momentos. Mas não se iluda: é mais um filme de bandido e de mocinho, só que desta vez você não sabe quem é quem no jogo.Van Damme é preso numa agência de correios, confundido com assaltantes, e vê sua vida de astro virar de cabeça para baixo. Numa ligeira adaptação de tal trama, bem que o anti-herói poderia ter encontrado Belchior em Bruxelas - na agência de correios sitiada por ladrões -, mandando uma carta para seu amigo John lembrando-o que a felicidade é uma arma quente. Bem mais quente que o sangue que circula nas veias de quem aprendeu que a arte de vencer se aprende nas derrotas, sejam elas em tatames, sejam elas em festivais da canção ou nas derrotas da vida, que nos catapultam para a verdadeira vitória: vencer nosso ego. Belchior talvez tenha soprado no ouvido de JCVD que uma nova mudança em breve pode acontecer e o que os filmes do astro, que há algum tempo era jovem e novo, hoje já é antigo e precisa ser rejuvenecido. Caro Van Damme, parabéns pelo filme JCVD, pois demonstra que o passado de fato é uma roupa que não lhe serve mais e este novo trabalho ficou na medida exata de seus verdadeiros músculos e nervos. Onde antes, estes saltavam e brilhavam agora “jazz” seu coração. Infeliz do homem cuja fama torna suas desgraças famosas. Que o último ato do herói Van Damme seja livrar Belchior do medo de avião e o trazê-lo de volta para nossa terra, onde ele, nosso último dragão branco da MPB tem feito falta!
Um nasceu em Bruxelas e o outro no Ceará. Tão distantes, tão diferentes, completamente divididos, porém em mais um destes mistérios da vida, estavam tão próximos. O menino de Bruxelas aprendeu karatê e balet e se tornou dono de uma força e de uma agilidade sem limites no corpo para golpes certeiros, dando-lhe títulos de campeão. O do Ceará estudou piano e se tornou um compositor também com agilidade para coreografar sons fortes e palavras afiadas como uma navalha dançando na carne de quem ouve e ferindo sem querer aqueles cantam como se convém. Com ídolos como Bruce Lee, o lutador de karatê se mandou para Hollywood e virou astro de cinema. O compositor, que admirava Bob Dylan, se mandou para o Rio de Janeiro e depois São Paulo e se tornou um astro da MPB. Mundos de sonhos, de ilusões e de mensagens sugeridas de ambas as partes. A mensagem de um, mesmo que subliminar era a violência - que sempre será o último refúgio dos incompetentes. Já a mensagem do outro era o amor, ali implícito e explicito em frases bem construídas que nos atingem o coração com a força de uma pernada ou um soco no estômago do moço de Bruxelas. Qual será a verdade de um e qual será a verdade do outro? Será que a mão fechada do lutador grita mais segredos que a boca aberta do compositor? E o peito de ambos seria um deserto, como aquele medo na hora do almoço em família, que o compositor nos contou? Na eterna luta do dia a dia a caminho do sucesso, seriam estes dois homens vencedores? Para eles o Oscar ou o troféu abacaxi, modificaria suas almas? Marginais bem sucedidos, amantes da anarquia ou renegados sem causa? O que aproximaria tanto estas duas pessoas? Seriam as dividas provindas da carreira bem sucedida, porém mal administrada? As brigas judiciais de ex-esposas? Seria o cansaço de fazer algo que já não mais os satisfaz? Ou seria acima de tudo a desistência de se manter no pódio do vencedor, onde mesmo com a alma partida exige-se o eterno sorriso nos lábios para todo e qualquer admirador que você não faz a menor idéia de quem seja. A cada rosto sem nome, a cada pedaço de papel com tua caligrafia saudando algo que desconhece, o que de fato te acrescentaria? De todas as lutas que o moço de Bruxelas, Jean Claude Van Damme enfrentou, no filme JCVD ele retrata metalinguisticamente a sua maior batalha – o declínio de sua carreira. E de toda revolução que Belchior incitou, talvez seja a rebelião dentro de si mesmo a que mais lhe tenha afetado. Estaria aí sua obra prima? Seriam os quadros que Belchior pinta, retratos guardados de um Dorian Gray enrustido que mais lembra o Nietzsche que o belo jovem? Van Damme por outro lado, põe de vez a carreira ou o que restou dela à prova em seu novo filme JCVD, onde ficção se mistura com realidade e ele, Jean Claude, se desprende de seus vazios personagens e nos apresenta um complexo astro desnudo em plena decadência com golpes mais precisos e mais duros em sua alma do que os que atingiu seus inúmeros oponentes. A sede de sucesso fez com que JCVD trocasse a sua faixa preta pela tarja preta dos medicamentos proibidos e da cocaína – um verdadeiro knockout em sua carreira. Numa bad trip quase sem volta, perdeu amigos, filha e trabalhos, como depõe neste filme, que beira até documentário em alguns momentos. Mas não se iluda: é mais um filme de bandido e de mocinho, só que desta vez você não sabe quem é quem no jogo.Van Damme é preso numa agência de correios, confundido com assaltantes, e vê sua vida de astro virar de cabeça para baixo. Numa ligeira adaptação de tal trama, bem que o anti-herói poderia ter encontrado Belchior em Bruxelas - na agência de correios sitiada por ladrões -, mandando uma carta para seu amigo John lembrando-o que a felicidade é uma arma quente. Bem mais quente que o sangue que circula nas veias de quem aprendeu que a arte de vencer se aprende nas derrotas, sejam elas em tatames, sejam elas em festivais da canção ou nas derrotas da vida, que nos catapultam para a verdadeira vitória: vencer nosso ego. Belchior talvez tenha soprado no ouvido de JCVD que uma nova mudança em breve pode acontecer e o que os filmes do astro, que há algum tempo era jovem e novo, hoje já é antigo e precisa ser rejuvenecido. Caro Van Damme, parabéns pelo filme JCVD, pois demonstra que o passado de fato é uma roupa que não lhe serve mais e este novo trabalho ficou na medida exata de seus verdadeiros músculos e nervos. Onde antes, estes saltavam e brilhavam agora “jazz” seu coração. Infeliz do homem cuja fama torna suas desgraças famosas. Que o último ato do herói Van Damme seja livrar Belchior do medo de avião e o trazê-lo de volta para nossa terra, onde ele, nosso último dragão branco da MPB tem feito falta!
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