sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O DIA EM QUE VAN DAMME ENCAROU BELCHIOR!



Um nasceu em Bruxelas e o outro no Ceará. Tão distantes, tão diferentes, completamente divididos, porém em mais um destes mistérios da vida, estavam tão próximos. O menino de Bruxelas aprendeu karatê e balet e se tornou dono de uma força e de uma agilidade sem limites no corpo para golpes certeiros, dando-lhe títulos de campeão. O do Ceará estudou piano e se tornou um compositor também com agilidade para coreografar sons fortes e palavras afiadas como uma navalha dançando na carne de quem ouve e ferindo sem querer aqueles cantam como se convém. Com ídolos como Bruce Lee, o lutador de karatê se mandou para Hollywood e virou astro de cinema. O compositor, que admirava Bob Dylan, se mandou para o Rio de Janeiro e depois São Paulo e se tornou um astro da MPB. Mundos de sonhos, de ilusões e de mensagens sugeridas de ambas as partes. A mensagem de um, mesmo que subliminar era a violência - que sempre será o último refúgio dos incompetentes. Já a mensagem do outro era o amor, ali implícito e explicito em frases bem construídas que nos atingem o coração com a força de uma pernada ou um soco no estômago do moço de Bruxelas. Qual será a verdade de um e qual será a verdade do outro? Será que a mão fechada do lutador grita mais segredos que a boca aberta do compositor? E o peito de ambos seria um deserto, como aquele medo na hora do almoço em família, que o compositor nos contou? Na eterna luta do dia a dia a caminho do sucesso, seriam estes dois homens vencedores? Para eles o Oscar ou o troféu abacaxi, modificaria suas almas? Marginais bem sucedidos, amantes da anarquia ou renegados sem causa? O que aproximaria tanto estas duas pessoas? Seriam as dividas provindas da carreira bem sucedida, porém mal administrada? As brigas judiciais de ex-esposas? Seria o cansaço de fazer algo que já não mais os satisfaz? Ou seria acima de tudo a desistência de se manter no pódio do vencedor, onde mesmo com a alma partida exige-se o eterno sorriso nos lábios para todo e qualquer admirador que você não faz a menor idéia de quem seja. A cada rosto sem nome, a cada pedaço de papel com tua caligrafia saudando algo que desconhece, o que de fato te acrescentaria? De todas as lutas que o moço de Bruxelas, Jean Claude Van Damme enfrentou, no filme JCVD ele retrata metalinguisticamente a sua maior batalha – o declínio de sua carreira. E de toda revolução que Belchior incitou, talvez seja a rebelião dentro de si mesmo a que mais lhe tenha afetado. Estaria aí sua obra prima? Seriam os quadros que Belchior pinta, retratos guardados de um Dorian Gray enrustido que mais lembra o Nietzsche que o belo jovem? Van Damme por outro lado, põe de vez a carreira ou o que restou dela à prova em seu novo filme JCVD, onde ficção se mistura com realidade e ele, Jean Claude, se desprende de seus vazios personagens e nos apresenta um complexo astro desnudo em plena decadência com golpes mais precisos e mais duros em sua alma do que os que atingiu seus inúmeros oponentes. A sede de sucesso fez com que JCVD trocasse a sua faixa preta pela tarja preta dos medicamentos proibidos e da cocaína – um verdadeiro knockout em sua carreira. Numa bad trip quase sem volta, perdeu amigos, filha e trabalhos, como depõe neste filme, que beira até documentário em alguns momentos. Mas não se iluda: é mais um filme de bandido e de mocinho, só que desta vez você não sabe quem é quem no jogo.Van Damme é preso numa agência de correios, confundido com assaltantes, e vê sua vida de astro virar de cabeça para baixo. Numa ligeira adaptação de tal trama, bem que o anti-herói poderia ter encontrado Belchior em Bruxelas - na agência de correios sitiada por ladrões -, mandando uma carta para seu amigo John lembrando-o que a felicidade é uma arma quente. Bem mais quente que o sangue que circula nas veias de quem aprendeu que a arte de vencer se aprende nas derrotas, sejam elas em tatames, sejam elas em festivais da canção ou nas derrotas da vida, que nos catapultam para a verdadeira vitória: vencer nosso ego. Belchior talvez tenha soprado no ouvido de JCVD que uma nova mudança em breve pode acontecer e o que os filmes do astro, que há algum tempo era jovem e novo, hoje já é antigo e precisa ser rejuvenecido. Caro Van Damme, parabéns pelo filme JCVD, pois demonstra que o passado de fato é uma roupa que não lhe serve mais e este novo trabalho ficou na medida exata de seus verdadeiros músculos e nervos. Onde antes, estes saltavam e brilhavam agora “jazz” seu coração. Infeliz do homem cuja fama torna suas desgraças famosas. Que o último ato do herói Van Damme seja livrar Belchior do medo de avião e o trazê-lo de volta para nossa terra, onde ele, nosso último dragão branco da MPB tem feito falta!

Um comentário:

Manunamoral disse...

"Infeliz do homem cuja fama torna suas desgraças famosas."

Disse tudo.

E tais desgraças, ainda aplaudidas, os tornam martires (para muitos.

sabe onde tá o Belchior??? Numa rede lá em casa perto da cachoeira...nem ai pra o mundo mundano.

hauhauahauhauha

Sumemooooooooo.

Bjotas sonoras.;