quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
A LEALDADE É UMA VELHA CHATA E CARETA QUE AINDA ME SEDUZ
Como cinéfilo assumido, não há melhor época do que o primeiro trimestre do ano, para se ver bons filmes, pois em função do Oscar, é o momento de grandes atores, diretores, roteiristas, e toda turma da sétima arte pôr na mesa o manjar de idéias e imagens. O primeiro filme que vi no ano,logo no dia um, já projetou esperanças de que a safra 2012 promete. Tudo pelo Poder é o quarto filme dirigido pelo galã politizado, George Clooney, que também assina o roteiro e ainda atua no filme. Clooney é o governador Morris, candidato democrata que tenta em campanha conseguir a indicação de seu partido para concorrer à Presidência, e qualquer semelhança com Clinton ou Obama não é coincidência alguma, pois é notório o apoio direto e simpatia de Clooney aos democratas. A trama gira em torno dos intestinos da política, onde o ator canadense Ryan Gosling (excelente ator e a grande promessa de Hollywood), interpreta o porta-voz e assessor de imprensa do governador Morris, sob a tutela do veterano Paul Zara (Philip Seymour Hoffman). Idealista e ambicioso, o jovem se vê no meio do redemoinho da política se deparando com uma jornalista calculista (Marisa Tomei), o gestor da campanha adversária (Paul Giamatti), um senador lobista (Jeffrey Wright) entre outras peças deste xadrez macabro que é a política, onde o povo, seja ele qual for, sempre acaba em xeque. O pivô da trama claro, também é uma estagiária, brilhantemente interpretada por Evan Rachel Wood, mas apesar do elenco descomunal, do roteiro inteligente e da direção precisa deste thriller político que prova que o poder não é, de maneira nenhuma, território exclusivo dos políticos e sim algo inerente à natureza humana,o foco da história acaba sendo outro: a lealdade. Que esta palavra não figura bem entre o mundo da política, seja nos EUA, aqui ou no Zaire, não é novidade alguma, mas o problema é quando esta palavrinha vai se apagando e sumindo do vocabulário da humanidade. Ai a coisa começa a preocupar. A lealdade virou careta, coisa de geração passada. Caiu em desuso, enquanto sua prima-irmã, a hipocrisia, anda cada dia mais na moda. Hoje em dia só se é leal ao sucesso, à grana e ao time de futebol, de resto parece que ninguém mais se importa com isto e quem se importa, é visto como idiota, perdedor, sonhador, inocente, fraco, entre outros adjetivos readaptados para o mundo moderno. O oráculo do novo tempo, a TV, é a principal acionista do esquadrão contratado para exterminar do dicionário a pobre palavrinha “lealdade”, que já tá virando palavrão. Cultuam-se astros desleais, jogadores desleais, políticos desleais e até amigos desleais. Se torce na TV, em realitys banais, pelo mais desleal, afinal, quando se esta preso numa casa como se fosse cobaia, comendo, trepando e dormindo, o que importa é só o queijo, ou neste caso, os milhões em jogo e a lealdade, ah, esta vai pro paredão de fuzilamento. O atleta que é leal ao time é chamado de idiota por recusar as ofertas e ainda é vaiado pela torcida se comete uma falha, por menor que seja, em campo. O sócio leal é quase sempre enganado e o marido leal é o corno de amanhã, de acordo com a vizinhança. Afinal quanto vale ser leal? Qual a cotação de hoje da lealdade? Será por kilo? Self-Service? Fast Food? O que é ser leal? Num mundo onde se mata com crueldade cachorros que são a maior lição de lealdade para a estúpida raça humana, só me faz concluir que o homem de fato extermina tudo aquilo que o incomoda. A lealdade de entregar seu coração aquilo que ele acha importante se dedicar, independente das tentações alheias, incomoda o homem dos tempos modernos, então em contra-partida se mata quem é leal e o que é leal. Matam-se cães, mata-se o amor, mata-se até fé em algo e mata-se toda e qualquer forma de lealdade. Só um tipo de lealdade é imbatível e infalível, que é ser leal à uma única lição, que sozinha vale pelos Dez Mandamentos: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”, afinal, ninguém em sã consciência aprecia um desleal para consigo, não é?
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