quinta-feira, 21 de junho de 2012

SORRIA, VOCÊ NÃO ESTÁ SENDO FILMADO

Andy Warhol, que convenhamos, fora produto de marketing altamente super estimado, profetizou que no futuro todos teriam seus quinze minutos de fama. O que ele não imaginou é que estes quinze minutos de alguém poderiam durar uma eternidade para seres com três dígitos de QI. Afinal ex-bbbs, ex-fazendeiros, ex-telionatários e bandas de rock da MTV podem causar um AVC facilmente naqueles que ainda pensam. No filme “Para Roma com amor”, mais recente obra do genial Woody Allen, o diretor prolífico e sempre sagaz em seus geniais roteiros, adapta a obra Decamerão para uma crítica muito bem humorada sobre celebridades. O filme se passa em Roma e conta simultaneamente quatro histórias envolvendo direta e indiretamente famosos, mentiras e prestígio gratuito. Numa das histórias, o ator Roberto Benigni interpreta um sujeito comum, pacato trabalhador,que do dia pra noite inexplicavelmente se torna uma celebridade por nada. Dá entrevistas sobre assuntos importantes como por exemplo, o que tomou no café da manhã e como gosta de cortar seu cabelo, sem nem bem entender porque esta ali, mas aproveita, claro dos privilégios sociais e sexuais de ser um famoso, mesmo sem conteúdo algum. Em outra história, o próprio Woody faz um executivo da indústria fonográfica que não aceitando a aposentadoria, resolve investir na carreira do sogro de seu filho, um simples agente funerário que canta óperas no chuveiro. Entre piadas inteligentes e situações que nos fazem refletir, o diretor avesso à fama ironiza em diversos momentos sutis esta febre mundial em se tornar celebridade a qualquer custo. São cantores de churrascaria tentando vaga para serem superstars; aspirantes a atrizes; cirurgiões plásticos anabolizados e até mecânicos e confeiteiros vendendo seu peixe, ou bolo, em infinitos shows de TV em busca da fama. No mundo de hoje todos querem ser famosos, não importa como e nem por que. Até assassinos confessos dão entrevistas coletivas e recebem até cartas de fãs apaixonadas. Vale lembrar que o maníaco do parque casou com uma e dentro da cadeia. Subcelebridades viram formadoras de opinião até sobre física nuclear mesmo sem terem sequer completado o primário. O sujeito faz um vídeo tosco em casa, banca o idiota e três milhões de idiotas o transformam numa nova celebridade. Em terra de cego quem tem olho é rei e em terra de imbecis quem tem cara de pau e nenhum talento vira celebridade. Tem até programa para escolher um novo astro, onde o júri é repleto de sub-celebridades, num verdadeiro sushi de mau gosto,feito por chefs acéfalos. É azia cultural na certa. A celebridade no Brasil acaba sendo aquele que é conhecido por aqueles que não o conhecem e em tempos onde qualquer imbecil vira celebridade, é para mim um orgulho ser considerado um "ninguém" e poder me dar ao luxo da privacidade honesta que meu trabalho proporciona. Eu vivo em greve de fama, mas não por opção, mas sim por vocação. Nenhuma capa de Playboy me pede exame de DNA, não me surpreendo com malucas escondidas em minha casa e nem tão pouco, gente da televisão frequenta a minha cama. Poxa, isto é triste demais. Agora me deprimi e senti uma enorme vontade em ser famoso, afinal não há afrodisíaco mais potente do que a fama. De que outra maneira jogadores semi-analfabetos, sertanejos grosseiros e pagodeiros desprovidos de uma estética visual compatível com os desejos femininos,conseguiriam prazer sexual de alto nível? Mas como diria Fernando Pessoa, que não era celebridade, mas em tempos atuais se tornou no face book assinando textos que por ventura nunca saíram de sua mente: “A celebridade é uma contradição. Parecendo que dá valor e força às criaturas, apenas as desvaloriza e enfraquece.” Mas pior do que este fardo de celebridade que tentam nos sufocar, é aquela celebridade criada em nossa mente. Aquela que a gente endeusou e transformou em mártir, por algum pouco talento que nos representou muito. Um ex-amor, por exemplo, que insiste em desfilar em nossa mente numa passarela de rosas e com ar triunfante. Neste caso, se esta pessoa não sair da sua cabeça, o jeito é você, como bom anônimo, mover um processo por invasão de privacidade. Pode ser que você até fique famoso por isto.

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