sexta-feira, 1 de junho de 2012

SUBPRODUTOS NO MERCADÃO DA VIDA

O culto ao subproduto cresce no Brasil a cada segundo. São programas de TV ressuscitando subcelebridades da música ao nível dos subapresentadores e da audiência; são realitys com subcelebridades tão ocas quanto à mente
de quem assiste; são subdepoimentos de subsenadores protegidos por advogados subhumanos. Esta semana até a banda Legião Urbana, da qual ironicamente, seu líder, Renato Russo, tinha uma compostura revolucionária e anticomercial, foi ridicularizado com um “tributo” ao perfil da MTV atual, dirigida para acéfalos, onde o espetacular ator Wagner Moura resenhou seu primeiro papel canastrão em sua rica biografia desafinando horrores e comprovando que como cantor é um ótimo Capitão Nascimento. Deixo claro minha admiração por Moura e afirmo sem dúvida que é um dos maiores atores do Brasil (e do mundo), por sua extrema competência e habilidade, mas neste projeto creio que a vaidade falou mais alto que a razão. A TV é hoje uma verdadeira
fábrica de subprogramas e subprodutos. A inteligência foi demitida por justa causa há um bom tempo. Até a poderosa Globo, que tinha um padrão de qualidade, vem dando bola fora como o burlesco depoimento de Xuxa que só ajudou a ridiculariza-la mais ainda tamanha afirmações estúpidas escritas por cinco roteiristas que, a meu ver, não muito fãs da “rainha”, numa atitude revanchista usaram de sua arma para suicidar a depoente. Discurso falso, patético e digno de piada, que rendeu bons momentos de humor na TV e na net. Em outro caso, a emissora anunciou uma luta importante do UFC e ao invés do óbvio que é transmitir ao vivo, exibiu um filme imbecil e transmitiu a gravação da luta onde o Cigano, brasileiro vencedor e estrela do combate,
quase conseguiu assistir “ao vivo” comendo pipocas em sua casa. O que acontece com o mundo? Será que já fomos tão estúpidos assim? Tudo é maquinado e programado para subestimar a sua inteligência. Músicas criadas para lhe adestrar tal qual um macaco escravo de um realejo; artistas vaidosos e egocêntricos que investem mais na imagem que no conteúdo, refletindo-se em sua plateia. O lance é ser famoso a qualquer preço. Batalhões de atrizes que confundem Shakespeare com produto de emagrecimento; modelos que não modelam e bailarinas que pensam que Frappé é só um doce. Para fazer par com estas, surgem diretores que nunca dirigiram e olheiros míopes de subrevistas e sites enganando-se, acasalando-se e dando à luz gerações e gerações de subprodutos, numa verdadeira orgia onde a inteligência foi barrada porque brochou.
Dois escritores têm uma importância muito grande nesta situação. Um é George Wells que profetizou em seu 1984 este clima de estupidez insólita e vigiada em que vivemos. O outro é Chuck Palahniuk que em suas obras tenta destituir esta regra e expor ao ridículo todos seus seguidores. Em seu Clube da Luta - que se tornou filme pelas mãos competentes de David Fincher - disparou uma metralhadora giratória, tendo como alvo toda uma sociedade fútil, declarando guerra espiritual e interna contra o fantasma do consumismo para que você descubra que não é o carro que dirige e muito menos a roupa que veste.
Você é aquilo que acredita e não o que a TV te faz acreditar. Para que ser mais um tijolo neste muro já coberto de pichações? Você pode e deve seguir seu rumo, seu caminho e se tiver força, coragem e inteligência, pode agregar pessoas à sua jornada, à sua luta, sem o uso estúpido da violência que nada mais é do que subproduto do consumo. Por que será que vivemos trabalhando para produzir o que não consumimos? Trabalhar num emprego que odeia, só para comprar porcarias de que não precisa. Somos os filhos do meio da história, sem propósito, como afirma Chuck. Não tivemos Grande Guerra. Nossa guerra é espiritual, e nossa grande depressão é a nossa vida.
Fomos criados pela televisão para acreditar que um dia seríamos ricos e estrelas da TV. O desejo de ser subproduto! Nós podemos passar nossa vida deixando o mundo nos dizer quem somos ou mostrar a ele o que de fato somos. E talvez seja esse o seu trabalho, a sua missão: inventar algo melhor e se recusar a ser subproduto.

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