quarta-feira, 23 de maio de 2012

O CORVO QUE JOGA OS DADOS

Os fãs de Edgar Allan Poe estão em festa, pois o pai da literatura de mistério está em alta cá por terra, onde em três grandes lançamentos, sua figura é homenageada. A primeira delas é a edição de luxo de seus contos lançada pela Tordesilhas, para quem quer apreciar
a obra de Poe. Para quem quer entender um pouco mais sobre a vida do escritor, a escritora Jeanette Rozsas lançou o romance biográfico O Mago do Terror com um texto ágil e simples destinado a adolescentes e ao público adulto que não tem paciência de ler biografias homéricas. Para os fãs de cinema, estreou semana passada o filme O Corvo com John Cusack no papel de EdgarAllan Poe. Não se trata de cinebiografia, mas sim uma boa estória de suspense com a licença poética de usar Poe como protagonista. A trama é repleta de referências à sua obra e também a detalhes de sua conturbada vida, incluindo um final romântico para a misteriosa morte do escritor.
Assim como Mozart foi vítima da inveja e da infâmia de Salieri, Poe teve seu carrasco na pele do invejoso Rufus, que de toda forma tentou prejudicar o escritor tanto em vida como na morte, denegrindo sua imagem e praticamente dando um tiro no próprio pé, pois toda orla de mistério que criou em torno da morte do escritor só fez com que aumentasse o número de fãs de Poe e o tornasse imortal. Já o delator, alguém aqui ouviu sequer um poeminha? Evidente que isto não serviria de consolo para Allan Poe que assim como Van Gogh teve um final trágico para uma vida cheia de desespero e desilusão, por não conseguir atingir o sucesso em vida e ironicamente depois em morte, se tornar gênio. Qual a vantagem disto? Woody Allen tem uma frase ótima sobre o tema: “Não quero atingir a imortalidade com meu trabalho, mas sim não morrendo.” O ponto crucial nesta história é o fator sorte. Por mais que religiosos de plantão queiram jogar tudo nas costas de Deus e achar que só vence quem tem fé e que quem não tem padece no ostracismo,
sabemos que é uma visão inocente e infantil, afinal FHC é ateu e foi presidente. Brad Pitt e Jolie são ateus e formam o casal mais famoso da década. Sem contar o universo de fiéis, crentes e afins que mesmo com toda fé do mundo padecem em suas palafitas. A questão da sorte existe queira você ou não. Chame você de destino, mas o fato é que só talento e trabalho nunca garantiram o sucesso de ninguém. Quantas centenas de talentos não estão por aí ignorados e humilhados enquanto um bando de falsos cantores, atores canastrões, jornalistas incompetentes e apresentadoras ignorantes estão fazendo rios de dinheiro e construindo seus castelos na fama? O Brasil desde seu descobrimento é uma nação nepotista. Aqui sempre valeu quem você conhece e não o que você é ou sabe fazer. Na política é assim. Nas grandes empresas é assim. Nas rádios, TVs, jornais, em todo lugar o verdadeiro talento
é o talento da sorte de conhecer as pessoas certas ou ter nascido numa família abastada ou influente. Nem o verdadeiro pai do mistério, Edgar Allan Poe teria imaginação suficiente para dissecar a fórmula do sucesso, na maioria das vezes envolta de muito, mas muito mistério. Qual a razão de uma música como “Ai se eu te pego” explodir mundo afora? Qual a razão das pessoas acreditarem até hoje em mitos fakes, construídos e comandados pela máquina da mídia? Qual a razão de corruptos serem ovacionados e reeleitos? Não confunda o lamento de invejosos com o lamento de injustiçados. O invejoso quer ser a pessoa que inveja, o injustiçado quer apenas uma migalha da sorte desta. No final o diabo é quem ri destes fatos e os gênios continuarão limpando os sapatos de medíocres como nós.

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