sexta-feira, 19 de abril de 2013

MARATONA DA VIDA

Pouco antes de meu pai morrer, ainda bem jovem, me disse olhando nos olhos para que eu tirasse o peso do mundo das costas e tentasse viver, porque a vida valia a pena. Mas este mesmo homem me ensinou a ser altruísta e como vejo o mundo deficiente e moribundo, insisto em carrega-lo nas costas, inutilmente. A vida é bela, eu sei, mas viver não é fácil, e muitas vezes não é nada divertido. Temos contas, obrigações e para isto temos de sofrer as piores humilhações possíveis, trabalhar muito a troco de nada, na maioria das vezes como prostitutas, alugando nossos corpos em fábricas e escritórios, enquanto nossa mente vagueia livre, leve e solta por aí. Mas eu realmente acho a vida um belo presente, talvez por isto fique indignado ao ver tantas pessoas perdendo as suas a troco de nada. Seja atropelada por um bêbado, seja subtraída por um menor delinquente protegido por leis patéticas e por intelectuais que nunca viveram a realidade, seja por qualquer outro fator, onde este bem tão valioso seja extirpado. Talvez meu pai esteja triste, de algum lugar deste universo me vendo melancólico, cabisbaixo, enquanto a vida segue. Mas ao mesmo tempo deve sentir orgulho ao ver que meu tempo é direcionado de uma forma ou de outra para a arte de iluminar as pessoas, onde meu pagamento é só o sorriso na face delas. Acredito que a cada reflexão, cada texto, cada peça, cada música composta, uma parte dentro de alguém atingido por esta arte, é modificada. A vida de quem opta pela arte sem ter fundos para sustentar este vício (sim, a arte é um vício) não é fácil. É repleta de dor, insegurança, medo até, mas há algo dentro da gente que nos faz crer e seguir em frente nesta jornada quixotesca. Esta semana o menino Martin de apenas oito anos, vítima da mais sórdida estupidez humana, o terrorismo, acendeu o coração daqueles que amam e lutam por um mundo melhor. O garoto expôs um cartaz, há um ano, onde pedia que as pessoas parassem de matar umas as outras e que vivessem em paz. O menino morreu no atentado de Boston, ao correr para abraçar o pai que cruzava a linha de chegada da maratona. Me admira ver religiosos imbecis cometerem tais atos ou ainda apoiarem “líderes” mais idiotas e não notarem num ato como este a presença divina. Pois é, o Deus que tanto clamam estava ali na cara de todos, na pele do menino que nasceu Martin e morreu mártir. Isto não lhe diz nada? A vida de fato é bela, mas pode ser mais bela ainda num mundo repleto de paz, mas para isto ocorrer depende de mim, de você e de todos que não se importam em carregar o mundo nas costas e chacoalhar para fora dele vermes e ratos de esgoto. Porque ao invés de seguir tais líderes espirituais ou qualquer idiotice destas, não segue o amor, tal qual fez Jesus, homem, que vocês tanto clamam e pedem favores? Vamos celebrar a vida e não mais a morte. Plante uma árvore, adote um animal, uma criança ou se puder, adote alguém que precise de alguém. Seja padrinho do sonho de alguma pessoa. Exercite-se. Leia livros; veja bons filmes, veja filmes ruins; ouça a música que lhe faz bem; converse; explore o mundo munido apenas de uma mochila e um sorriso nos lábios. Ame alguém, encontre-a e não a perca. Se você não achou, saiba que há bilhões de pessoas e uma também está à sua procura. Quem sabe a encontre para levá-la para um piquenique. Ir ao cinema. Fazer uma sessão pipoca em casa na madrugada. Contar suas histórias e ouvir as dela. Passear de mãos dadas pelo parque. Faça amigos, fotografe seus melhores momentos, ame sua mãe e seu pai enquanto estão do teu lado, ame seu irmão, ou sua irmã, ainda mais se for bela e fascinante como a minha. Dance acompanhado ou sozinho. Com música ou sem música. Dance de qualquer maneira, seja qual for o som do silêncio que te acompanha. Mantenha viva a sua criança. Corra a maratona da vida e não se importe com a chegada, mas sim com o percurso. Viva em paz.

2 comentários:

Márcio disse...

Este texto me atingiu! Perdi meu pai cedo, eu com 23 e ele com 51 anos, aproveitei pouco. Também considero a vida bela e não deveria existir ideologia ou religião que levasse seres humanos a se matarem, mas o fato é que existem milhares. Imagino a dor destes pais que perderam este filho. Grato pelo texto.

Unknown disse...

Aprendi que a vida é bela não com os meus pais, e sim com as porradas que levei dela,e não permite que elas me tornassem uma pessoa fria e sem alma, e sim a pessoa que não desiste de acreditar não só na vida e sim no ser humano, por isso vivo os meus dias intensamente, acreditando sempre que o amanhã será melhor e que o ser humano também se tornará mais amável como foi o grande projeto de Deus para a humanidade......bjs....Josy( josybarreto_@hotmail.com)