MILK – O OSCAR DA IGUALDADE
Meus caros sete leitores, as semanas que antecedem ao Oscar são o “crème de la creme”, para os amantes do cinema, afinal nesta época surgem as melhores interpretações, os melhores roteiros, diretores, todos em busca da tão sonhada estatueta fálica. Por falar em fálica, o filme sobre a história do ativista gay Harvey Milk – aliás, personagem já agraciado com a sonhada estatueta em 1985 com o documentário sobre sua vida: The Times of Harvey Milk – que foi assassinado por um concorrente político, é uma bela cinebiografia dirigida pelo assumidamente gay Gus Van Sant e que trás no papel de Harvey o camaleônico Sean Penn em mais uma atuação deslumbrante, visceral e absurdamente corajosa. Para mim, Sean Penn e Meryl Streep, ambos concorrendo de novo ao prêmio de melhor atuação deveriam ser considerados “hour concours”, para não ficar chato para a Academia dar o prêmio para outros, mesmo cientes de que não chegaram sequer à sombra da atuação destas duas figuras. Sean, além de um grande ator e um brilhante diretor, também é conhecido por seu discurso agressivamente anti-Bush; pelas surras que dava na Madonna; por dar tiros em jornalistas; ser amigo pessoal e de bebedeira de Bukowski; ter fama de machão; aceitar sempre fazer papéis nada lineares, entre outros estereótipos que a fama lhe proporcionou, porém aqui neste filme o moço que já foi retardado mental, um assassino à beira da execução, um músico egoísta e cleptomaníaco, um depressivo suicida, uma pai transformado pela tragédia de sua família, entre várias outras máscaras, desta vez se transforma radicalmente. Sean está muito mais magro, de certa forma mais elegante e completamente afeminado. As cenas de beijo e sexo são tórridas e de certa forma corajosas para um ator hetero e com fama de machão, mas como em tudo que faz, Penn se entrega e convence a todos. Eu vi por duas horas o próprio Harvey. É impressionante a transformação de Sean Penn e do elenco todo que está soberbo. Chega a dar calafrios em alguns momentos, assim como a atuação do subestimado pela Academia, Jim Carrey no filme “O mundo de Andy”, onde todos viam Andy Kaufman e não o criador de Ace Ventura. Já deixo claro aqui, que meu voto pra melhor ator vai pro Sean, mesmo eu tendo gostado muito do trabalho de Brad Pitt e da volta triunfal de Mickey Rourke. Já quanto ao filme e diretor, creio que Milk e Gus não levem, mas isto não tira em momento algum o mérito do filme, que pode ser cotado sem sombra de dúvida como o melhor ou um dos melhores de Van Sant. História forte, gritante, emocionante e infelizmente real. O que nos mostra que apesar da tecnologia avançada nos comendo a cada dia, a nossa mente parece cada vez mais retrógrada e situações de preconceito, seja ele racial, cultural, religioso ou sexual ainda produzem suas vítimas na mesma velocidade dos avanços tecnológicos. Harvey foi o primeiro político americano assumidamente gay e que após inúmeras derrotas nas urnas, em função do preconceito, conseguiu se eleger vereador de São Francisco e lutou fundo pelos direitos dos homossexuais, ou para ser mais claro, pelos direitos humanos, afinal a opção sexual pertence a cada um e sua escolha deve ser respeitada. Ninguém é canalha por ser gay! O fato é que tem muito canalha gay, assim como políticos canalhas (se bem que aí é pleonasmo), médicos canalhas, advogados canalhas e por aí afora. Parece que o pai da relatividade, Einstein não estava errado ao profetizar que era mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.
Assim como Harvey - porém hetero assumido e feliz com a minha escolha - recruto vocês a lutarem em nome do respeito pela vontade de cada um. Os direitos humanos foram feitos para humanos direitos, portanto somos muito pequenos para julgar alguém por sua pele, por sua opção sexual ou por sua religião. Tão pequenos que deveríamos ter a humildade e sabedoria dos vermes que se alimentam de todos, após a morte, sem escolher o cardápio. Afinal no fundo, somos todos iguais, e o que nos diferencia de nós mesmo, é o nosso preconceito, este eterno retrocesso intelectual.
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