quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

CASO ELOÁ: O BBB MACABRO E PASTELÃO




Mais um caso de violência que chocou e mobilizou nosso país, voltou a mobilizar de novo com seu julgamento: o caso Eloá. A mídia novamente produziu um espetáculo de horrores com um final que todos já sabíamos qual seria, afinal num país, como já citei, com leis de mentirinhas e brechas absurdas a favor de advogados ricos e inescrupulosos,a vida não vale nada e o crime quase sempre compensa. O infeliz Lindemberg foi condenado a quase um século de cadeia, após uma brilhante atuação da promotoria e de uma juíza exemplar, mas como o Brasil é uma mãe para corruptos, assassinos e bandidos, ele, coitadinho, não cumprirá mais do que dez anos, então antes dos 40 talvez será solto às ruas para começar uma nova vida enquanto a pobre vítima, que ele condenou à morte, sequer teve julgamento. Nossas leis retrógradas parecem ter sido escritas por criminosos (se bem que se analisar nosso quadro político, isto parece óbvio demais), tamanha injustiça contida nelas. A família das vítimas são ridicularizadas e os pobres membros do júri, obrigados a encontrar o réu que condenaram, tomando sorvete na esquina de sua casa completamente livre pela justiça, por ter pago alguns simples aninhos. O Brasil não perde o estigma de ser uma grande piada de mau gosto, um filme trash com atores canastrões e diretores incompetentes. Aliás, o remake do caso Eloá mistura referências pra diretor nenhum reclamar. Um namorado abandonado resolve invadir a casa da namorada e discutir a relação. Adrian Lyne poderia escrever o roteiro e Arnaldo Jabor os diálogos. A direção poderia ficar com Bergman, pois seria lenta, mas faria com que casais discutissem a relação pós-sessão. Porém uma arma carregada, uma terceira pessoa (a amiga do casal) e um seqüestro declarado mudaram o rumo da história. Como se fugíssemos do cinema pra TV, em questão de minutos, um BBB macabro foi exibido com suas cem horas de duração, quase que em tempo integral, evidentemente editado para se obter o efeito de “reallity” show. Uma hora as reféns apareciam gritando na janela, em outras apareciam sorrindo, depois surgiam com óculos escuros, como se já fossem personalidades. Até sobremesa a vítima fez para a turminha da bagunça, de acordo com o réu.Tudo como num roteiro de filme adolescente de quinta. Num certo momento, a polícia mais perdida que a de Springfield, consegue com a ajuda de um Al Pacino que fazia uma ponta na história, que Lindemberg libertasse uma refém, mas logo em seguida numa ação ao estilo “Corra que a polícia vem aí”, ela é DEVOLVIDA pela polícia ao criminoso (!!!). Sem muitas esperanças de sucesso após tanta confusão, eis que surge um Bruce Willis para botar ordem no terreiro e protagonizar um desfecho feliz após muita emoção, ação e suspense, mas eis que contrariando as regras do bom senso, a tela é invadida pela turma da “Loucademia de Polícia” e o que se vê é um espetáculo nonsense digno de Monty Python, mas com um final trágico, conseqüência de uma ação tão atrapalhada que até o Inspetor Clouseau se envergonharia, caso estivesse à frente dela. Pra completar o roteiro com uma dose de Almodóvar,num ataque de emoção, ao ser amparado por médicos, descobre-se pelo close da TV, que o pai da vítima nada mais é do que um procurado da justiça, acusado de liderar um grupo de extermínio, incluindo o de sua ex-mulher, destruindo sonhos e famílias, assim como Lindemberg destruiu os seus. Agora na Parte 2 do filme (O Julgamento), surgem advogados que roubam a cena e os holofotes, com a acusação fazendo o “mocinho” amigo da imprensa e a defesa exposta pela mídia como a nova Cruella de Ville, que ofende a juíza e é vaiada por populares, num espetáculo dantesco. Com todo este show à mostra o povo se esquece de Marcos Valério, condenado pelo crime de mensalão e livre; esquecem também do ficha limpa tramitando no congresso e quase sendo arquivado, enfim, se esquece de tudo, só para saber qual será o destino do pseudo-Romeu transgressor e marginal. Nesta onda de finais alternativos,bem que num deles, Lindemberg poderia ser atingido no córtex e as meninas liberadas com vida, mas será que a polícia também não seria criticada por tirar a vida de um jovem trabalhador, sem ficha na polícia e que agiu desesperado pelo ciúmes? Em outro final, ele se entregaria, escreveria um livro, viraria conselheiro do amor e as reféns sairiam na Playboy ou protagonizariam a nova temporada de Malhação. Mas infelizmente o que vimos na tela da TV foi mais um final chocante, fruto de uma violência alimentada pela TV dia após dia. Pra fechar com um THE END digno de filme CULT, só faltou um dos apresentadores de programa policial na TV se emocionar e numa espécie de Darth Vader pós-moderno encarar o jovem Lindemberg e dizer: Lindemberg, EU SOU SEU PAI!

Um comentário:

Kesia Avelino disse...

Seu texto traduziu tudo o que penso sobre os acontecimentos dos últimos dias...Parabéns pelo blog.

Kesia