terça-feira, 23 de outubro de 2012

RASCUNHOS DE UM PEQUENO GRANDE PRÍNCIPE

Uma das obras mais influentes, ingênuas e simpáticas da literatura mundial, sem dúvida alguma é O Pequeno Príncipe.
A história de um adulto solitário e perdido no deserto do Saara após uma pane em seu avião, que é surpreendido por um nov o amigo na pele de uma criança em vestes de príncipe. O menino afirma ser de um planeta pequeno, quase que do tamanho de uma casa, mas que em sua geografia há três vulcões: dois ativos e um extinto. O que o trouxe à Terra foi uma jornada causada pelo orgulho e grande beleza da única rosa que habitava seu planeta. Nesta viagem, o menino encontrou diversos personagens e a partir destes confrontos conseguiu repensar o que é realmente importante na vida. Esta é a premissa básica deste livro fascinante que pode
ser considerado um livro infantil para adultos ou um livro adulto para crianças. Foi traduzido em mais de oitenta idiomas, lido por vários povos de culturas distintas e comoveu a todos com sua pureza que nos entrega de bandeja a nossa infância de volta, onde questionávamos tudo e não éramos tão imperceptíveis ao óbvio, entorpecidos por esta nossa pressa do dia a dia rumo a lugar algum. O que poucas pessoas sabem é que o autor desta grande obra, Antoine de Saint-Exupéry, além de ser escritor e ilustrador, era também um exímio piloto de avião e sua bela história vai bem além do sucesso com tal livro. Combatente das Forças Francesas Livres, lutou com os Aliados na Segunda Guerra
e numa missão para recolher informação sobre os movimentos de tropas alemãs em torno do Vale do Ródano antes da invasão aliada do sul da França, teve seu avião abatido pelos tiros de um soldado alemão, de nome Horst Rippert, que depois lamentou o acidente, como se o fato de Saint-Exupéry ser importante escritor pesasse mais do que se tivesse atirado em outro piloto, digamos, cidadão comum. O fato é que tudo se tornou uma grande ironia do destino, já que o corpo de Antoine nunca fora encontrado e os mais poéticos diriam que ele foi resgatado pelo mesmo personagem que seu alter ego acolheu em sua importante obra literária. Inesquecíveis personagens repletos de simbolismos, como o rei que achava que tinha algum poder, o contador, o geógrafo, a raposa
e a serpente, todos peças marcantes no tabuleiro da guerra que o abateu. O romance, assim como a vida, nos sugere uma profunda mudança de valores e nos mostra quão equivocados podem ser nossos julgamentos, e como estes podem nos levar à total solidão. O texto e as pinturas em aquarela que
ilustraram o livro, nos levam à uma reflexão, como que num sonho induzido, sobre a maneira de como nos tornarmos adultos, e assim envolvidos e entregues às pressões do dia a dia e à eterna busca pela segurança financeira e o sucesso desenfreado, acabamos esquecendo da criança que fomos e que ainda somos. A editora Tordesilhas lançou recentemente o livro, um conjunto de aproximadamente 500 documentos de Antoine de Saint-Exupéry, entre cartas, dedicatórias de livros, rascunhos, esboços e bilhetes, que praticamente funcionam como bussola para fãs e admiradores entenderem o processo criativo do autor. A obra em edição de
luxo demonstra que, mais que qualquer biografia, os rascunhos e escritos particulares de Antoine são fundamentais para a compreensão deste universo ficcional tão indelével concebido por este homem, que com sua trajetória de vida cabe muito bem dentro de uma de suas célebres frases: “Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.”

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