O MÉDICO, O MONSTRO E VOCÊ!
Está em cartaz na cidade o filme as Duas faces da Lei, que trás a dupla Al Pacino e Robert De Niro contracenando, desta vez, o filme inteiro, já que em Poderoso Chefão II não contracenaram e em Fogo contra Fogo, onde um era caça e outro caçador, se cruzam apenas por poucos minutos. Dirigidos por Jon Avnet –diretor do belo “Tomates Verdes Fritos” – a dupla atua como detetives parceiros há décadas, envolvidos em um caso de serial killer, num roteiro intrigante daqueles que surpreendem o público no final. O filme claro que não poderia ser ruim, pois só contando com a atuação destas duas lendas vivas do cinema, até um roteiro da Eddie Murphy e a direção do Jorge Fernando já valeria a pena assistir. Fico imaginando como deve ser dirigir Al Pacino e Robert de Niro. Eu acho que ficaria babando no set, mais como espectador que como diretor. Com direito até baldinho de pipoca pra engasgar na hora de gritar: CORTA! Mas o tema em questão não é minha tietagem por esta dupla de atores e sim a dupla personalidade das pessoas ou o popular DUAS FACES, daí o título em português, não menos óbvio para o filme. Quando se pensa em duas caras, logo me vem a imagem de um político, mas não porque todos agem assim, muito pelo contrário, mas porque uma vez um deles me surpreendeu com uma bela resposta sobre o tema. O político era Espiridião Amin e ao ser confrontado por um jornalista que o julgava como político duas caras, ele respondeu serenamente: “Meu caro jornalista, se eu tivesse duas caras, iria sair com esta às ruas?” Quem já viu uma foto do Esperidião, sabe do que estou falando. Mas deixando a face do humor de lado e partindo pra filosófica, desde 1886, quando Louis Stevenson escreveu o clássico “O médico e o Monstro”, o assunto vem tomando cada vez mais forma na mídia, por tratar-se de um mal incorrigível que abrigamos dentro de nós. Alguns dominam bem seu Mr. Hyde (o monstro) e outros nem tanto. Ele até deve surgir em alguns momentos, mas sempre deixando claro que quem dá as cartas é o seu lado Dr. Jekyll (o médico), e não o inverso. Sobre o tema, o filósofo Schopenhauer afirmava - em sua “negação à vida - de que todas as aparências são manifestações físicas de uma realidade paralela, que seria a nossa VONTADE, ou seja, por detrás de toda nossa ação física e gestos emocionais existe o conflito interno de desejo versus a realidade. Pra fugir da filosofia e partir pro popular, seria a tese do “lobo em pele de cordeiro”. Quantas pessoas duas caras você já teve contato em sua vida? Fácil esta pergunta, não é? Agora responda quantas vezes você assumiu que tem duas caras ou agiu de forma dúbia, seja numa relação profissional ou sentimental? Para os budistas a vontade é sempre vista como a fonte de todo sofrimento, pois todo este querer infinito que temos nunca trás contentamento e sim cada vez mais desejo, nascendo ai a infelicidade da impotência de nunca estarmos satisfeitos. Como cantava aquele baiano magrelo que eu adoro, na canção “Ouro de tolo”. Seria como soprar uma bolha de sabão cada vez mais para que se torne maior, mesmo que saibamos que ela vai estourar. No filme em questão, ela estoura e bem na cara da platéia. Na vida quando ela estoura também em nossa cara, nossos olhos ardem e lacrimejam, não pela química do sabão, mas pela traição e porque não, por reconhecermos nossa ignorância e inocência perene para sermos enganados. O antigo ditado de que as aparências enganam, nunca esteve tão forte como nos tempos atuais. O padre pedófilo, o policial assassino, o professor traficante, a filha matricida, entre outras situações moralmente paradoxais veladas pela dupla face de nosso ego. Resta saber no dia em que suas duas faces se cruzarem na esquina do acaso de sua vida, qual delas sairá viva para que você seja realmente quem você é!
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