
“Eu não sei se o médico do Michael Jackson é culpado ou não, mas eu sinto que ele já estava condenado antes do julgamento.” Assim começa o editorial de Arnaldo Jabor,

que no mesmo discurso retórico e arrogante de sempre, sem saber se Michael era gay ou não, também o condena antes de qualquer julgamento. Jabor, que já foi até interessante no passado, se transformou num velho ranzinza. O perfil de “jornalista” que estamos acostumados no dia a dia é composto por frustrações artísticas e solidão cercada de incompreensão por uma pseudo-genialidade que os mesmos se atribuem. O que vemos é jornalista que nunca escreveu ou dirigiu uma peça, esculachar espetáculos como se as regras do teatro fossem prescritas pelo próprio. Jornalistas que não conseguem fazer duas embaixadas, mas que julgam qualquer jogador de futebol com a propriedade de um Pelé no assunto. Gente que escreve mal, lança livros piores ainda,

mas fazem questão de criar defeitos editoriais na obra alheia, em especial se esta é um sucesso. Estamos cercados de gente hipócrita e magoada, que dispara sua metralhadora no primeiro que riscar o seu ego lustroso. Jabor têm feito parte deste time há um bom tempo, e o que é pior, com um séqüito de pseudo-cultos envernizados, que a cada palavra sua, batem palma e a propagam aos quatro cantos, sem sequer entender o que elas querem dizer. “Ah, se o Jabor disse, é verdade...” Estes dinossauros da TV deveriam já ter entrado em extinção há décadas, mas a ferramenta da mídia é burra e preguiçosa, então para que ouvir o novo se já temos nossa trupe cheirando naftalina e falando bobagens? No infeliz, homofóbico e preconceituoso editorial desta semana, Jabor

ultrapassou os limites do bom senso e da ética deturpando com frases chulas a imagem e a vida de um ser humano, que por destino, também era astro. Você leitor, ou espectador, não pode digerir como um cordeiro bobo tudo o que lhe oferecem antes de ir pro abate. Você deve ter discernimento para filtrar o que é dito por alguém com um microfone, um jornal ou uma câmera na cara, expondo sua opinião sobre um tema, gerando assim o convite para a discussão por sua parte e não a aceitação plena de palavras às vezes vazias. No recente caso Jabor-Michael, para que você entenda o perigo de se absorver bobagens, Jabor afirma categoricamente que Michael era homossexual. Alguma vez será que o nobre cineasta já presenciou in loco Michael fazendo um Moonwalk em seu membro?

Já viu Michael fantasiado de Billie Jean com baby-doll cor de rosa pagando michê na galeria Alaska? De onde saiu tamanha certeza na afirmação, já que gente muito próxima do astro, como ex-seguranças, seu falecido empresário Frank Dileo, a ex-esposa Lisa Marie Presley, biógrafos e amigos relatam provas de que Michael gostava de mulheres? Além disto, caso fosse gay, isto o tornaria menor? Culpado de algo? Isto não se chama homofobia? Afirmar que Jackson morreu em função de sua personalidade inadaptada para a vida comum não seria um exagero além de uma estupidez? Jabor não é simpático, nada sociável e não me parece ter uma personalidade adaptada à vida comum, isto quer dizer então que ele precisda de ajuda médica ou pode vir a morrer da mesma “doença”? A pauta é tão mal informada, a ponto de ignorar a decisão de um júri que condenou o médico Conrrad Murray, baseado em diversas provas, sendo considerado até uma desonra a toda a classe médica, por representar um perigo para a sociedade, com sua ganância irresponsável visando apenas dinheiro, fama, ou qualquer outro benefício que pudesse obter de sua relação com o Rei do Pop, gravando até depoimentos do astro completamente anestesiado, para tirar proveito. Jabor afirma ainda

que Michael era um Peter Pan que queria ser branco, sem o nobre jornalista se dar conta de que na própria autópsia do cantor constava que o mesmo sofria de vitíligo, doença que causa a despigmentação da pele. Quanto a querer parecer a Diana Ross, qual o crime? Jabor sonha em ser Nelson Rodrigues e não consegue. Seu último filme nada mais é do que uma desastrosa colagem de clichês, onde também tentou ser Woody Allen, mas sem sucesso. Michael ao menos superou sua musa Diana no quesito talento e sucesso, ou não? Ninguém aqui é fiscal de bunda e muito menos ditador de regras comportamentais, então a cada um cabe o direito se ser quem quiser e como quiser. Michael nos deixou um legado belo com imagens indeléveis em nossa memória, canções que se tornaram imortais,

clips insuperáveis e acima de tudo ações beneficentes que nenhum jornalista hetero, branco, crítico e ácido tenha deixado. Eu acho que Tic Tac devorou não só a mão, mas a mente do Capitão “Jabor” Gancho rabugento, que assim como o de J. M. Barrie, sonha apenas em ser Peter Pan.