quarta-feira, 21 de agosto de 2013

CINQUENTA TONS DE LARANJA

Um dos grandes clássicos do cinema e talvez a obra prima mais popular do genial Stanley Kubrick é sem dúvida o filme Laranja Mecânica. Baseado no livro escrito em 1961 e publicado pela primeira vez em 1962, “Laranja” não só está entre os clássicos eternos da literatura universal como representa um marco na cultura pop do século 20. Meio século depois, a perturbadora história de Alex Delarge
– líder de uma gangue que se reúne para praticar assaltos, espancamentos e estupros pela cidade – continua fascinando, e desconcertando leitores mundo afora. Após involuntariamente cometer um homicídio, Alex é capturado pela polícia. Na prisão, é submetido à Técnica Ludovico, uma terapia cuja finalidade é reeducá-lo psicológica e socialmente, eliminando seus impulsos violentos e seu comportamento desviante, a base de imagens violentas e Beethoven como trilha. Uma experiência extremamente dolorosa e tão desumana quanto a ultra violência que o próprio Alex costumava praticar. A obra foi eleita pela revista Time um dos cem melhores romances de língua inglesa do século 20. Sendo um dos ícones da cultura pop do século 20, as referências ao livro e ao filme são incontáveis, nas mais diversas áreas: artes (dramáticas, plásticas, gráficas),
moda, esporte, comportamento e muito mais. Os seriados South Park e Os Simpsons, esbanjam referências a Alex e seus camaradas. Bono e The Edge, do U2, assinam a trilha da primeira adaptação musical de Laranja Mecânica. A banda Sepultura lançou, em 2009 o álbum A-Lex, totalmente inspirado em Laranja Mecânica e em 2011, até o estilista Alexandre Herchcovitch apresentou uma coleção inteira inspirada no filme. Poucas pessoas sabem, mas seis anos antes da consagrada versão de Kubrick, o livro já havia sido adaptado para o cinema por Andy Warhol, que se baseou na história para escrever o roteiro de “Vinyl”. Ao contrário do que se pensa, Anthony Burgess,
autor da obra, não reprovou a versão cinematográfica de Kubrick, mas não ficou muito satisfeito com o fato do cineasta em larga medida, ter se apropriado da história. Burgess não perdeu a oportunidade de fazer uma pequena maldade com Kubrick e na versão de seu livro para o teatro, um personagem fisicamente parecido com o diretor leva uma surra da gangue de Alex. O livro edição especial de 50 anos, lançado pela editora Aleph, é obra obrigatória a fãs e admiradores da boa arte. Inclui material extra composto por textos inéditos,
a maioria do próprio Burgess como texto restaurados e notas, como uma preciosidade curiosa onde ao citar o nome Elvis Presley no livro o autor se pergunta se o nome será conhecido quando o livro sair. Esta nova versão traz também m ensaio e dois artigos escritos por Burgess entre 1961 e 1973, nos quais explica a origem do nome "Laranja Mecânica" e o porquê de escrever o livro, além de comentar o filme de Kubrick. Há entrevistas com o autor e um texto introdutório da versão musical para os teatros. Cinquenta anos se passarão nestes cinquenta tons de laranja, onde o genial Burguess se imortalizou como um dos maiores escritores de todos os tempos e a obra se consagrou. No meio de tanta violência, aliás contemporânea, a criação do livro
pode ser considerada uma grande história de amor, já que foi escrito de forma intensa, quando ao receber um diagnóstico de um tumor na cabeça, Burguess, pensou no sustento de sua esposa pós sua morte e se dedicou plenamente na criação. O diagnóstico estava errado e o autor viveu até os 76 anos. Ao morrer, em 1993, deixou uma grande obra em quantidade e qualidade, entre romances, peças de teatro (inclusive a versão musical), estudos literários e roteiros de cinema e TV. A fusão de linguagens e idiomas para a criação de novos dialetos também é uma característica marcante de seu trabalho, sendo o nadsat – mescla gírias de gangues inglesas e palavras do idioma russo que deu vida a Alex e seus druguis – seu legado mais conhecido e até hoje revisitado. Para os cinquenta tons de cinza de sua massa encefálica, fica a dica destes imortais cinquenta tons de laranja.

Um comentário:

Thay disse...

O título do post foi a primeira coisa que me chamou a atenção. Laranja Mecânica realmente é fantástico, uma obra prima da literatura. Achei altamente pertinente o comentário final. O público perdeu o paladar por livros bem escritos e com a trama interligada. Critico apenas o que leio e li Cinquenta tons de cinza para poder criticá-lo. Mesmo porque caso alguém consiga fazer um elogio eloquente àquele tipo de livro merece um prêmio. De longe uma das tramas mais mal escritas que já li. Ao contrário, é claro, dos clássicos como Laranja Mecânica. O post faz jus à ambos os livros e sua qualidade. Pena que ainda haja pessoas capazes de transformar livros como Cinquenta tons de cinza em "mais vendidos" ou "best-sellers", sem nunca terem lido Laranja Mecânica.