sexta-feira, 5 de setembro de 2008

MILUJI TE*


Meus caros sete leitores, eu não sou adepto da pirataria, mas o que fazer quando o filme que você tanto amou, não foi relançado em DVD? Caso do excelente The Commitments de Alan Parker, que fui obrigado a baixar pelo e-mule para revê-lo, pois não encontrei em lugar algum. Nem em VHS pelos sebos da cidade. Então estou perdoado!O filme conta a história de uma banda de baile, desde sua formação inicial até o fim da banda (a trilha sonora é fantástica) e o interessante é que ele foi feito por atores desconhecidos e todos eles, músicos. Usei The Commitments como pano de fundo para apresentá-los ao ator Glen Hansard,coadjuvante no filme de Alan Parker e protagonista do filme que motivou a coluna de hoje: ONCE – Apenas uma Vez.
O filme recebeu inúmeros prêmios, entre eles a estatueta do Oscar de Melhor Canção Original, que foi composta por ele mesmo, nosso ator/músico de hoje, Mr. Glen Hansard. O filme foi rodado com um orçamento baixíssimo, quase que nos padrões da turma do Dogma (movimento dinamarquês que apostava no roteiro e na interpretação, ao invés da qualidade técnica), e conta a história de um músico de rua que após ser abandonado pela namorada se apaixona por uma imigrante vendedora de rosas (Marketa Irglova), que também é pianista. Quebrando todas as regras de Hollywood, os personagens não tem nomes, não transam, não ficam numa verborragia desenfreada como a de Ethan Hawke e Julie Delpy no “cabeça” Antes do Amanhecer (um de meus filmes favoritos) e muito menos fecham a cena com o eterno beijo Happy End. Muito melhor que isto tudo, o filme transborda em sentimentos puros. O s atores falam e alto, apenas com os olhares. Já os diálogos são traduzidos em canções, transformadas em elo de ligação entre o casal de músicos, que se encontram naquela idade em que as pessoas têm que deixar os sonhos de adolescência de lado e cair na real para sobreviver num mundo hostil, duro, que não perdoa os românticos, como eu...ou como nós, meus caros sete leitores! Com uma trilha sonora altamente recomendável, que nos remete muito ao trabalho do suicida Nick Drake (recomendo e muito), com sua melodia folk e letras profundas que ferem ou alimentam a alma de pessoas sensíveis como vocês, meus sete leitores...ou como eu...o filme tem um tom de documentário e é belamente fotografado pela câmera digital sem tripé do diretor John Carney, que aliás era baixista da banda onde Glen hoje é guitarrista e vocal, ou seja, claaaaro que o filme é autobiográfico, tanto que o vídeo-clipe que o protagonista assiste com imagens de sua ex, na verdade são vídeos caseiros da real ex do diretor Carney. Simples, direto e emocionante, “Once” conquistou crítica e público e tem tudo pra se tornar um CULT do cinema irlandês (ou seria cinema mundial?). O grande segredo deste sucesso está no uso inteligente da música visceral, completamente orgânica composta pela dupla de protagonistas e claro na ousadia e sensibilidade do diretor. O resultado é uma produção pequena, honesta, o tempo todo realista, mas sem abrir mão do romantismo. Seria uma aforismo à vida??? Uma dose de esperança ao amor em sua magnitude? Um ode ao amor correspondido mas nunca consumido?? Num pais como o nosso que ainda engatinha no cinema e dependemos teoricamente de projetos de lei de incentivo para realizar nossos sonhos em película, talvez o filme nos dê uma cutucada no lema “do it yourself”, lembrando-nos de que uma boa idéia na cabeça e uma câmera na mão, ainda podem e devem fazer a diferença.



* EU TE AMO em tcheco

PUBLICADA NO JORNAL GUARULHOS HOJE DIAS 06 E 07 DE SETEMBRO DE 2008

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