
Há uma década, o cinema perdia um de seus personagens mais enigmáticos: o gênio Stanley Kubrick, considerado o diretor dos diretores, tamanha admiração de seus companheiros de profissão pelo seu trabalho,

Cinema é obra de diretor e isto é incontestável, afinal com recursos como montagem e edição tem-se a liberdade de manipular os planos, a ordem das imagens, os volumes de som, o ritmo do roteiro, a entrada ou saída de uma trilha musical, além é claro da(s) cena(s) dos atores.

No teatro, por exemplo, os atores têm mais autonomia e acabam, com o tempo, mudando a marcação, a intenção, o timing, modificando assim o espetáculo concebido pelo diretor. Às vezes para melhor, mas na maioria para pior. Eu - assim como inúmeros diretores - fui vítima disto em alguns espetáculos, mas o que mais me doeu foi em LOLITAS, onde com o tempo quase destruíram uma peça que já era sucesso em cima do que fora marcado por mim e aprovado pela crítica e público,

Em cinema, isto jamais aconteceria. Esta lá: feito, gravado e acabou! O que você vê na tela é total responsabilidade do diretor. Os erros e acertos. O sucesso e o fracasso. Tudo vai pro crédito da direção. Kubrick sempre foi um diretor exigente neste ponto. Era considerado um gênio e com temperamento difícil, até mesmo porque estas duas características sempre andam de mãos dadas, pois não há gênio submisso, porque somente um gênio tem a coragem de não tentar ser agradável a toda a gente o tempo todo e aí é que mora sua liberdade de expressão e a amplitude de seu talento.

Quando um gênio deste calibre aparece no mundo você pode reconhecê-lo pelo seguinte sinal: os ignorantes estão todos unidos contra ele.
O cinema, como indústria, emprega inúmeros profissionais de direção, vindos de escolas, universidades, dispostos a seguirem o cronograma e cumprirem o contrato, sem nunca deixarem sua marca cravada no filme, mas sim seu cartão de ponto marcado na “fábrica dos sonhos”. Realizam filmes mecânicos, sem emoção. São operários da indústria de entretenimento, executando o que aprenderam na escola.
Já o “auteur cinema” (cinema de autor) leva a expressão pessoal do diretor – a sua assinatura. Neste tipo de filme se consagra o gênio, porque um gênio criativo não pode ser treinado. Eu sempre bati na tecla de que não existem escolas para criatividade. Gênio é alguém que desafia todas as escolas e regras, que se desvia dos caminhos tradicionais da rotina e abre sempre novos caminhos através de terras inacessíveis antes.

E Kubrick seria o expoente máximo desta categoria, já que dominava todas as áreas de uma produção cinematográfica, desde roteiro até a fotografia (fotógrafo profissional desde garoto), direção de atores, produção executiva, absolutamente tudo. Criou o cinema evento, onde seus filmes sempre causavam polêmica, abriam discussões em jornais e em revistas, já que sua assinatura nos filmes era filosófica, contestadora e retratava a perplexidade do indivíduo frente a desumanização e alienação da sociedade contemporânea. Kubrick abria portas para nossa percepção diante daquilo que não podemos dominar ou compreender.
Assim como este grande mestre, o cinema de autor nos abre portas para distintos mundos. O mundo sombrio de David Lynch, o cor de rosa de Almodóvar, o mundo pop

E o seu mundo? O que abriga? O que nos revela? O que nos esconde? Nos faz rir? Chorar? Ter medo? A sua vida é regida por um diretor do Cinema de Autor ou um diretor da indústria?


Um comentário:
Cara, essa postagem foi excelente. Melhor não dizer parabéns pela milésima vez, o que seria meio inadequado, e não muito Criativo...
xD (repare que Criativo está grafado com inicial maiúscula)
Fiquei um boom tempo refletindo sobre essas coisas da postagem.
"Quando um gênio deste calibre aparece no mundo você pode reconhecê-lo pelo seguinte sinal: os ignorantes estão todos unidos contra ele."
Putz, você não sabe como eu fiquei feliz quando li isso xD
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