quinta-feira, 17 de março de 2011
Não fumava, não bebia, não cheirava e mentia só um pouquinho. Saudade de Tim Maia, nosso síndico!
Penúltimo filho de uma família de 19 irmãos, Sebastião Rodrigues Maia, nosso saudoso Tim Maia, desde a infância já dava traços de que viria pra confundir e não para explicar. Ainda menino, saia para vender as marmitas feitas pela mãe para sustentar a gigantesca família, mas as comia no caminho e depois ainda ia jogar futebol, de onde talvez tenha saído a idéia de um de seus clássicos, a canção “Sossego”, que aliás foi executada pela
banda Guns and Roses em visita pelo Brasil, para homenageá-lo. Dono de uma voz grave e com um swing inconfundível fundou sua primeira banda com ninguém menos que o Rei Roberto Carlos, que na época ainda era plebeu. Amigo de infância também de Erasmo Carlos e de Jorge Ben Jor, arriscou-se indo pros EUA tentar a vida como músico, mas foi deportado por envolvimento com roubo e posse de drogas, iniciando assim a formação acadêmica do polêmico Tim Maia, que apesar de colecionar sucessos, tinha uma galeria enorme também de confusões, processos judiciais e desafetos. Tim bateu de frente com astros da MPB, se desentendeu com a maioria dos músicos que lhe acompanharam, comprou briga com a Rede Globo, acarretando sua proibição em qualquer programa da emissora, se envolveu com drogas novamente, propagou uma religião psicodélica absurda que depois se arrependeu, faltou a inúmeros compromissos, criando assim até um plus em seus shows, que era a surpresa de sua presença, já que nem ele e nem ninguém mais sabia quando ele apareceria no show. Enfim, nosso Tim tem uma biografia de fazer inveja a qualquer astro polêmico do rock, que aliás Nelson Mota registrou muito bem na divertida biografia do cantor, que em breve salta para as telonas. Tim lançou seu primeiro album na década de 70, e já trazia na bagagem "Azul da cor do mar" e "Primavera", duas pérolas. Daí por diante o rei do swing e do soul no Brasil colecionou sucessos e claro, como consequência, diversas regravações de suas músicas por estrelas da MPB. Foi também um dos primeiros artistas independentes no país, afinal como ele mesmo dizia, agora só teria que brigar com ele mesmo e mais ninguém. Difícil saber quem venceria esta disputa acirrada. Uma pena que de certa forma sua vida regada a som e fúria, criou uma cortina de fumaça sobre sua arte. Tim foi um dos maiores gênios da MPB. Produtor, compositor, excelente cantor, mas acima de tudo um contestador, uma figura polêmica e convenhamos divertida, que faz muita falta neste cenário atual tão pobre de música quanto de personalidade. Tudo é calmo e sereno e todos se amam nesta época chata e hipócrita do politicamente correto. Vivemos numa tela de descanso do Windows esperando apenas os Teletubbies descerem do morro ensolarado gritando de felicidade. Aliás, creio que estou vendo-os! Ah não, é apenas a banda Restart! Enfim, há 13 anos atrás, como que numa ironia do destino, o homem que faltava aos shows, por pouco não morre no palco, tal qual Cacilda Becker. Durante a gravação de um espetáculo para a TV no Teatro Municipal de Niterói, Tim compareceu, mesmo sabendo de sua má condição de saúde. Passou mal e teve de se retirar logo no início, sendo levado para o hospital numa ambulância, vindo a falecer dias depois aos 55 anos. A voz grave e rouca se calava. Suas frases polêmicas e divertidas se apagavam, mas sua essência permanece no coração de quem aprendeu a respeitar música e acima de tudo personalidade, qualidade (ou defeito) que anda em extinção neste triste país. Ah! Se o mundo inteiro lhe pudesse ouvir, Tim. Tudo o que nos contou e o que aprendeu, afinal na vida a gente só têm que entender que um nasceu pra sofrer enquanto o outro nasceu para rir, não é? Que falta faz um sindico para por ordem (ou desordem) na casa!
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