quinta-feira, 31 de março de 2011

AVERSÃO POR VERSÃO




Nada contra grupos de forró (!), afinal como diria Fagundes: “Gosto não se discute, lamenta-se”, mas convenhamos que esta onda – um tsunami de fezes – de versões de clássicos do rock para o forró é algo patético e acima de tudo inaceitável pelo ponto de vista estético e no mínimo do bom senso. Eu nunca fui muito fã de versões, mesmo as de grupos de rock nacional, de sertanejos(lado a lado com as de forró) e alguns astros da MPB. Primeiro porque creio que seja ejacular com o pênis alheio, o que seria gozar sem esforço algum e segundo porque na maioria dos casos chega-se a ser um sacrilégio, tal qual você pintar um bigode de Groucho Marx na Monalisa por achar que vai ficar melhor e de mais fácil entendimento popular. Oras bolas, quem disse que a arte nasceu para ser entendida? A arte nasceu para ser venerada, aceita e vivenciada na sua essência e a música é o tipo de arte das mais perfeitas, pois nunca revela o seu último segredo. Mas eis que nestas versões estapafúrdias, este segredo se torna fofoca e daquelas maldosas, de botequim onde nada é verdade. Me pergunto todo santo dia quem autoriza estas versões? Será que o artista ou compositor tem ciência do que estão fazendo com sua obra? Na maioria dos casos é como urinar num muro grafitado por Banksy ou defecar sobre uma tela de Polock para garantir o direito de expor a sua versão da arte, mas para isto existem latrinas ou estúdios de gravação para grupos de forró, o que isentaria boa parte do que ainda resta de bom gosto ou bom senso neste mundo tão esquisito quanto cantores deste gênero. A verdadeira arte diz o indizível; exprime o inexprimível e traduz o intraduzível, entenderam? Portanto não traduzam a arte, pelo amor de Deus. CRIEM, OUSEM, PENSEM. Não é difícil rimar amor com dor e muito menos mãozinha com bundinha, então deixem as obras em paz e criem seus próprios lixos, suas própria músicas, afinal vai ter público do mesmo jeito e pode até ser sucesso, afinal bilhões de moscas idolatram um pedaço de merda e elas não podem estar erradas não é? São tantas. Ou foi daí que Nelson Rodrigues proferiu que toda unanimidade é burra? Mas vamos esplanar estas versões: “Come As You Are” do Nirvana virou “Liga o Som” por um grupo com 23 pessoas no palco, um verdadeiro trem do horror desgovernado atropelando a poesia de Kurt com versos desta estirpe “Som, liga som e o garçon trás whisky bom pra mim e a mulherada chega assim...” vou parar por aqui antes que você siga os passos de Kurt e exploda suas cabeça. Aliás inocentem Courtney Love, pois a causa suicida está nestes versos. O clássico “Wish you Here” de Pink Floyd, com direito a riff de Gilmor em versão acelerada e claro uma versão foneticamente elaborada para a pobreza sonora, algo como: “Sou...sou louca por ti...blá bláblá...” e claro o ápice da canção quando a cantora (!!!) que lembra o Mike Tyson mais magro, acompanha num vocalize onomatopaico novamente os riffs de David Gilmour, o famoso tan tan tan tan tan...tan tan tan...tan...talvez homenageando os tantans que freqüentem este tipo de evento. Mas ainda não acabou, pois tem versão de Scorpions, Nazareth, Kiss e até Guns and Roses com “Sweet Child O Mine” que virou “ow, ow ow, te quero maiiiis...ow, ow, ow, ow, te quero mais” e que ainda trás na letra adaptada versos sutis como “de noite no meu quarto ainda me toco pensando em ti...” Mas a bronha não para por aí, pois o Apocalypso é devastador e não tem fim e até a pobre Billie Jean do menino Michael foi estuprada por estes “artistas”, mas o crème de la crème ou merde de La merde é a versão de “The Final Countdown” – clássico de formaturas e eventos esportivos - que virou “Eu Te Amo Pra Sempre” com um vocal tão desafinado que aciona a contagem final de uma bomba de cafonice e mal gosto a explodir em sua face. Deuses do autêntico forró por favor joguem um raio na cabeça deste povo. Ó São Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Trio Nordestino, Sivuca, Jackson do Pandeiro e tanta gente boa e representativa desta riqueza nordestina, virem este disco. Nosso maior roqueiro do forró, mr. Jerry Lee Genival Lacerda e seu parceiro heavy metal Alceu Valença nos salvem deste holocausto, pois vocês são os representantes absolutos desta arte genuinamente brasileira e não esta mistura capenga de gente cafona, desafinada gritando versões pavorosas e que por falta de criatividade até para batizarem o estilo, se tornaram uma versão fajuto do que de fato é o forró, pena que uma versão tão pavorosa como as que fazem de clássicos. Eu me pergunto a Deus do céu porque tamanha judiação com o rock.

5 comentários:

prima disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
prima disse...

Apesar de forte, o texto expressa muito bem a revolta com o crescente achincalhe a tudo que tem ainda algum valor. Parabéns, Maurício!

JODIL disse...

Era tudo o que eu gostaria de gritar! Sou nordestino mas me enoja o que fazem com o xote, o forró etc., inclusive com excesso de "música" de duplo sentido. Essas "excelentes versões"... Saudade de Chiquinho do Acordeon, de Pixinguinha, de Paulinho Nogueira... Li seu texto no Metrô News. Sucesso perene!

Anônimo disse...

palmas!!! palmas!!! tudo o que eu sempre quis dizer!!! muito bom o texto!!!

Rodrigo Lima disse...

Kara... vc expressou tudo que eu queria gritar!... mt obg... estou divulgando seu blog... Parabéns... o Texto é genuino de um verdadeiro Rockeiro, Forte e Expressa tudo que todos os verdadeiros rockeiros queriam falar; Mt obrigadeiro