quinta-feira, 24 de março de 2011

O SONHO ACABOU, MAS SOBRARAM AS ROSQUINHAS...



Pode parecer saudosismo de minha parte, mas analisando a lista de atrações do Rock in Rio 4, impossível se abster frente ao destino que a música, em especial o rock tem tomado nos últimos anos. Para os mais jovens, basta lembra que guardadas as proporções históricas de cada manifestação musical desta espécie, o Rock in Rio (1985) foi o maior evento de rock do planeta e superou Woodstock e qualquer outro no quesito atrações. Para se ter uma idéia, o evento teve Queen, AC/DC, Scorpions, Ozzy, Iron Maiden, Whitesnake, entre outros, além das bandas e artistas nacionais como Barão, Paralamas e até um Pepeu Gomes que ao invés de ser vaiado, como temia, foi ovacionado pela platéia. O evento até hoje é citado por grandes astros do rock, inclusive eleito pelo finado Freddie Mercury como o palco onde “Love of my Life” teve a sua melhor execução em toda carreira do Queen. A banda alemã Scorpions também imortalizou a canção “Still Loving You” – eleita a
melhor balada de rock de todos os tempos – nos palcos desta grande cidade do rock. Ozzy foi proibido em contrato de morder qualquer animal vivo, após o acidente ocorrido com o morcego. Recebeu uma galinha (galináceo mesmo e não uma groupie) da platéia e a entregou aos roadies intacta. Angus Young incendiou a platéia com seus riffs imortais do mais autêntico e puro rock and roll e claro, mostrou sua bunda bem antes de Carla Perez sequer existir. O Brasil também teve manifestações inesquecíveis como a bronca que Herbert Viana deu na platéia que vaiou Kid Abelha e a homenagem que fez a Ultrage a Rigor, que não haviam sido convidados para o evento. Herbert no auge da carreira não se sentia rei, ao contrário de muito artista de hoje, e queria que o time aumentasse, diferente deste egoísmo predominante onde poucas bandas se dão as mãos. Era de fato rock nas atitudes e não apenas na musicalidade. Hoje quem faz isto? Vivemos no mundinho colorido do politicamente correto. Se você não é aceito pela diretoria da MTV que visa adolescentes de 12 a 16 anos ou cair na graça de um produtor mafioso que gerencia o cartel atual, você está morto. Hoje você tem de ser político, no pior sentido da palavra, para obter uma chance. Por falar em política, no dia do show do Barão Vermelho o Brasil elegia Tancredo Neves como presidente e Frejat e Cazuza brilharam no palco.Frejat usava uma calça verde e uma camisa amarela, que apesar da pieguice, para o momento foi tão perfeito quanto seus solos. Já Cazuza exalando rebeldia pelos poros gritava por um novo Brasil ao som de “Pro dia nascer Feliz”. Quem viveu está época sabe que foi emocionante e o rock ali mostrava para que veio, pois foi e sempre será a maior forma de revolução musical da história. O rock quebrou preconceitos, derrubou muros, criou polêmicas construtivas, cessou guerras, fez parte da história. Aí nos pegamos hoje onde bandas como Fresno são empurradas a força por questões estupidamente comerciais a abrir um show de rock no Morumbi e levam uma vaia de 90% do público (eu estava in loco) e me pergunto:porque isto? Quem decide isto? Será que o público merece isto? Ficou claro que não! Quem já teve a oportunidade de ver o rock teatral e visceral do AeroSilva no Jô ou em platéias de 20 mil pessoas sabe do que estou dizendo. Quem já viu Velhas Virgens tocar para milhares de pessoas e ouvi-las cantando juntas frase a frase das histórias de Paulão, sabe do que estou dizendo. Sem contar Pedra letícia com carisma e letras engraçadas, sem ser estúpidas, além das inúmeras bandas bacanas e verdadeiras, perdidas por aí, que criam, pensam, agem, reformulam e fazem de fato rock and roll. Hoje me aponte uma letra inteligente? Uma musiquinha sexy vai? Uma histórinha interessante? Uma postura que tenha valido um grito de euforia? Não tem nada, meus caros amigos. Desejo sucesso ao Rock in Rio e claro a todos participantes, mas que me perdoem a sinceridade, o público do rock merecia coisa melhor do que metade do casting escolhido. Talvez Neil Young estivesse com razão ao proferir que o rock and roll nunca morreria, num plano metafórico, pois no plano comercial creio que o tiro de Kurt levou bem mais do que sua pobre alma. A Variety de 1955 dizia que o rock não duraria mais dois meses. Bom, durou bastante, até meados da década de 90, mas de lá pra cá, como diria Lennon, o sonho acabou, e só nos restaram as rosquinhas.

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