O PESO LEVE DA IDADE
O filosofo Rousseau dizia que “na juventude deve-se acumular o saber e na velhice fazer uso dele.” E Clint Eastwood soube seguir bem esta regra. Aos 78 anos de idade, esbanjando virilidade, o astro, que desde os 25 acumula experiências por seus números trabalhos no mercado cinematográfico, se tornou parte da cultura popular americana e a prova viva da tese de que não paramos de nos divertir por ficarmos velhos, e sim envelhecemos porque paramos de nos divertir e por isto Eastwood se diverte e muito até hoje. Ele já se tornou nome de canção Pop, já foi homenageado por bandas de rock, uma delas leva até seu nome, já virou personagem de vídeo game e de quadrinhos, teve referências à sua pessoa ou seus personagens em inúmeros filmes, já foi prefeito de uma cidade da Califórnia, já faturou duas vezes a dobradinha melhor diretor/melhor filme na premiação do Oscar e concorreu em diversas categorias pro seus filmes, sem contar as centenas de prêmios que já recebeu por sua vasta obra, resumindo, Clint é retrato perfeito da boa velhice, que disposta acumula experiência e as põe em prática constante, podendo enrugar a pele, mas nunca enrugar a alma, com tamanho entusiasmo e disposição que o jovem senhor distribui.
No Oscar deste ano, sentiu-se a falta da presença constante de Eastwood que mesmo lançando dois bons filmes no ano, não concorreu em nenhum deles. O primeiro foi a comovente e verídica história de uma mãe (Angelina Jolie, indicada ao Oscar por sua atuação neste filme) que ao ter seu filho sequestrado, tenta provar a todo custo que o garoto encontrado e entregue a ela, pela polícia, não é seu filho. Clint assinou também a trilha sonora do filme. Já em Gran Torino, o segundo filme em questão, Clint não só dirige como também protagoniza uma história comovente sobre racismo e intolerância. Sem atuar desde 2004, o ator-diretor aqui resolveu fazer uma homenagem talvez a dois de seus grandes personagens de sua vasta filmografia: o misterioso “Homem sem Nome” da trilogia dos dólares, criada por Sergio Leone e o memorável Dirty Harry, policial durão de São Francisco, que já se tornou parte da cultura americana. Clint condensou ambos no rusticamente carismático personagem Walt Kowalski, um ex-combatente da Guerra da Coréia e montador de carros aposentado que passa seus dias na porta de casa vendo o movimento da rua, tomando cerveja e xingando seus vizinhos asiáticos. O filme começa em torno desta xenofobia americana, mas após um incidente com a paixão de Kowalski, seu Gran Torino – carro esportivo de 1972,conservadíssimo – o filme toma outro rumo e aqueles que aparentemente eram vistos como inimigos, se tornam amigos próximos e a vida até aquele momento, vazia do protagonista começa a tomar uma forma mais consistente junto ao surgimento de uma nova razão para se viver ou de um novo ideal para morrer. O filme peca pela atuação de novatos no elenco, mas as cenas com Clint já valem o ingresso. Com um ritmo previsível, mas um final imprevisível a mensagem é clara e comovente. Uma grande parte da juventude em inúmeros pontos do mundo anda se perdendo por falta de objetivos, de rumo, cultura e acima de tudo por falta de amor e isto acaba trazendo conseqüências drásticas e talvez como nas tribos, esteja na hora dos caciques, pajés e xamãs – homens que acumulam anos e sabedoria - comecem a interferir para que possamos viver num mundo mais justo, onde os erros dos antigos não sejam copiados e sim reparados, pois para os ignorantes, a velhice pode ser o inverno da vida, mas para os sábios, é a época da colheita. O respeito pelo próximo é uma arte que deveria envelhecer como os bons vinhos e ficar a cada dia mais encorpada, pois nesta vida, meus caros sete leitores cada um tem a idade que seu coração quiser e este não tem rugas. A velhice produz mais rugas no espírito que no rosto e Clint, Keith Richards e Hebe - que fez 80 anos - que nos dêem a fórmula desta eterna juventude.
Nenhum comentário:
Postar um comentário