segunda-feira, 11 de abril de 2011

A NAVE U2 E SEUS ABDUZIDOS



Uma nave gigante foi vista na noite de sábado pousada dentro do estádio do Morumbi com sua capacidade de lotação quebrando recordes e uma multidão de mortais esperando um contato com os extraterrestes.Ao invés da clássica canção de “Contatos Imediatos do terceiro grau”, eis que “Trem das Onze” ecoa nos poderosos alto falantes do estádio e uma multidão enlouquecida faz um belo coro junto aos Demônios da Garoa. A nave, que uma hora antes havia dado um pequeno sinal de seu poder com o show da banda MUSE, Power trio mais do que competente, descoberto e apadrinhado por Bono Vox, dá seu primeiro sinal de contato com muita fumaça saindo de suas torres ao som de "Space Oddity" de David Bowie. As luzes se apagam e num gigantesco telão em 360 graus, surge a figura dos quatro extraterrestres caminhando junto ao povo. Larry Mullen Jr., Adam Clayton, The Edge e o líder deles Bono Vox,sobem ao palco munidos de seus instrumentos e o contato está estabelecido ao som de Even Better Than The Real Thing pairando sobre as mentes de milhares de pessoas formando uma só voz orquestrada pela regência do carismático ser vestido em couro negro e óculos escuros. Inicia-se assim o mega espetáculo milionário 360º Tour . Bono Vox com um português arrastado dá as boas vindas mostrando que a nave vêm em paz, gritando “Boa noite São Paulo da garoa, São Paulo terra boa!” . Durante duas horas a banda tocou sucessos como Elevation, I Still Haven't Found What I'm Looking For, Beautiful Day, Vertigo,Sunday Bloody Sunday, With or Without You e muito mais, sempre acompanhado pelo maior coral rock and roll que SP já teve notícia. Bono contagia com seu carisma imensurável. Grita, rebola, pula, se pendura em cabos imitando um Tarzan Pop e acima de tudo faz as vezes do roqueiro politizado, dono de uma habilidade diplomática de causar inveja em muitos astros e deixar críticos com nariz virado, afinal é o único Pop Star do mundo que já concorreu a Grammys, Oscars e até ao prêmio Nobel da Paz, por quatro vezes. Durante um dos momentos políticos do show dedicou a canção “Walk On" para Aung San Suu Kyi, Prêmio Nobel da Paz, presa por 20 anos e libertada em 2010 pela força da pressão popular fomentada por Bono e seus amigos da anistia internacional. Em outro momento político do show, o líder africano Desmond Tutu ganha forma no gigantesco telão para falar sobre a África e a Campanha One, também criada pelo U2 em prol da erradicação da pobreza e da Aids no planeta. O discurso emocionante de Tutu é seguido pela bela canção One cantada por Bono em coro com uma multidão emocionada. Claro que com tanta diplomacia assim não poderia esquecer de elogiar a presidente Dilma (sendo vaiado por metade do estádio em único momento) e citar a terrível tragédia em uma escola do RJ, homenageando-as com nomes de todas as vítimas no telão. Fato é que goste ou não goste destes momentos “Bono Salva o Mundo”, se todos roqueiros ou grandes estrelas agissem da mesma maneira, talvez muita coisa poderia ser mudada no planeta. Ele, demagogo ou não, ao menos contribui e convenhamos sabe usar muito melhor seu poder com o microfone ligado do que a maioria de estrelas que sabem apenas berrar “Come on Motherfuckers, let me see your hands and your money”, isto é um fato, além de mostrar domínio absoluto frente câmeras e acima de tudo o domínio sobre sua voz, que fica claro em Miss Saravejo, quando Bono faz a parte de Pavarotti, arrepiando a platéia com sua potência vocal. O espetáculo foi criado pelo sexto membro do U2, o conceituado Willie Williams, responsável pelos palcos de todas turnês da banda em parceira com o quinto membro da banda, o amigo e empresário desde os tempos que Bono e The Edge ainda tocavam em garagens, Paul McGuiness. A nova idéia da dupla é deslumbrante e democrática, já que estando o palco no centro, qualquer lugar que você esteja já não fica tão longe, matematicamente falando. Aliás, de matemática e geométrica esta dupla entende e muito. A turnê é a recordista em ingressos batendo até Bigger Bang dos Rolling Stones. O telão gigante e cilindrico funciona como um home theater descomunal transformando por exemplo a arquibancada numa sala de estar onde você tem imagem e som espetaculares, e dificilmente consegue se focar na propria banda no palco, tamanho caledoscópio de imagens, luzes e cores. Para os felizardos que puderam pagar mil reais para fazerem parte da Red Zone (área vip do show onde toda esta renda é destinada ao Poejto One em prol de vítimas do HIV) além de verem os astros de perto, podem correr o risco de serem escolhidos para o momento Katilce, como uma jovem, ontem resgatada por Bono para subir na nave com ele e declamar a letra da canção “Carinhoso", de João de Barro e Pixinguinha, com direito a um Bono no final repetindo com ela que será “feliz, bem feliz”. Por estas e outras, U2 garante seu lugar na história do Rock como recordistas em turnês e acima de tudo ousadia, transformando todo espetáculo da banda em um evento. E depois de quarta feira (último show) a nave parte para outro destino levando a certeza da mensagem absorvida pelos terraqueos que dificilmente apagarão da memória este contato mais do que imediato com U2 (you too), que tem seu nome surgido da filosofia do grupo, que acredita que a audiência faz parte da música e dos espetáculos. Uma coisa é fato, a nave parte com mais de 250 mil abduzidos de SP.

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