GOD SAVE THE JOKER
A loucura é como a gravidade...basta só um empurrãozinho! Será? O fato é que o diretor Christopher Nolan deu um belo empurrão, eu diria, na atuação brilhante de Heath Ledger, que extrapolou os limites da loucura, do cinismo e do bizarro, com seu JOKER, mais do que perfeito, deixando até o coringa de Jack Nicholson, carta fora do baralho. O filme Cavaleiro das Trevas é quase perfeito. Elenco excelente e milionário, um roteiro bem elaborado, diálogos inteligentes, produção de ponta, mas peca um bocado pelo ego do diretor no excesso de tempo de duração. O filme é longo e cansa um pouco em algumas partes, mas mesmo assim é sem dúvida o melhor blockbuster dos últimos anos. O Coringa, claro, rouba as cenas de ponta a ponta. Que ator brilhante e que judiação ter morrido tão jovem e no auge da carreira. Especula-se o fato de surgir mais um Oscar póstumo, sem sombra de dúvidas merecido, caso ocorra, a um trabalho tão brilhante, como há tempos o cinema vem devendo. Tudo bem que o personagem é rico e porque não shakesperiano tamanha gama de sentimentos contidos, mas a atuação de Ledger foi deslumbrante e deixou um grande desafio no ar: quem vai segurar esta onda em Batman 3? Johnny Depp? Robert Downey Jr.? Façam suas apostas! A história como sempre faz de Batman um mero coadjuvante entre a loucura de dois grandes vilões: Coringa com sua filosofia e Duas Caras com seu senso implacável de justiça, ou como ele mesmo diz: o destino é quem decide. Destino este metaforicamente embutido numa simples moeda. Já pensou se a moda pega? Saio com esta garota hoje ou não? Jogo a moeda. Pronto! Deu cara. O destino quis, mas e se dá coroa? Saio com a sogra? Claro, porque o destino não ta afim que eu fique sozinho, agora nesta nova fase Charlie Harper em que me encontro e que aliás estou adorando. Mas voltando ao assunto Batman e não minha vida sexual que agora ta mais interessante que as piadas do Coringa, mas posso assegurar-lhes, que bem menos que a vida sexual do Batman, que convenhamos, daria inveja a Mick Jagger. O cara (Christian Bale) é milionário, boa pinta, um físico invejável, briga bem, não tem medo de nada, vive cercado das mulheres mais lindas do mundo, enfim, é pra matar qualquer colunista de inveja e se identificar mais com o Coringa, evidentemente, por estar bem mais próximo da minha, da sua e da nossa realidade. Neste jogo de Revista Caras, seríamos nós as cartas fora do baralho? Seríamos nós os coringas da história? Não seria o tal vilão, aquele penetra na festa pobre que os homens marcaram pra nos convencer de algo que não existe? Talvez o fascínio imenso que Coringa desperta nos homens, seja exatamente por aguçar o nosso lado mais sombrio e não o mais popular. O Batman, mesmo solitário é Pop, o Coringa, não. O Coringa é o marginal, no melhor sentido da palavra. Aquele que vive às margens de uma sociedade confusa e hipócrita. Ele nos dá pistas que há algo além de nossa compreensão. Ao roubar milhões da máfia e simplesmente tacar fogo no dinheiro, não está ali uma grande mensagem anti-capitalista? O poder da grana de Bruce Wayne que desfila com Lamborguinis, Kawazakis, iates e na madrugada sai espancando vilões com suas armas de última geração, contra a inteligência e a língua afiada do palhaço que nada tem, além da coragem de enfrentar aquilo que não o absorve? Não seria aí uma metáfora discreta dos EUA de BUSH (Batman) contra o Taliban de Osama (Coringa)? Acho que viajei demais no filme, né? Será? O Duas Caras talvez esteja mais próximo do papel da sociedade que se divide constantemente entre o certo e o errado, culpando a todo instante o pobre coitado de Deus ou o destino como queiram. Ferem pessoas a troco de nada, e ai lamentam que o destino quis assim. Olha a moedinha de novo! Dá cara ou dá coroa? Você é bom ou você é mau? Você distribui cestas básicas, mas pisa e humilha aqueles que te amam. O que manda teu destino? O que apita o teu coração? Traçando este paralelo do filme com a realidade, talvez o Comissário Gordon, interpretado pelo mestre da atuação, Gary Oldman (que aliás neste papel está a cara do nosso prefeito Elói Pietá, já repararam?), deveria trabalhar no Hell de Janeiro, ops, digo, Rio de Janeiro, porque assim como a polícia de lá, ele também pouca coisa faz, mas ao menos tem contato direto com o morcegão que o ajuda a resolver alguns pepinos. Só não sei como ele, Batman reagiria a uma polícia que mata crianças inocentes. O sonar do morcego ia ficar confuso entre o bem e o mal e talvez ele tenha também de jogar a moeda e deixar o destino decidir de que lado ficar. Em homenagem ao Coringa de Ledger, encerro a coluna com uma simples mensagem do palhaço: What does not kill you, makes you stranger!
PUBLICADA NO JORNAL GUARULHOS HOJE DIAS 26 E 27 DE JULHO DE 2008