O VERDADEIRO HOMEM DE FERRO
Meus caros sete leitores, assim como milhares de brasileiros, também fiquei curioso pra assistir o tão divulgado filme Iron Man (Homem de Ferro), depois de assistir ao trailer umas 450 vezes, pois até na endoscopia do meu tio Germano, fomos obrigados a ver o tal trailer. Numa ação maçante de marketing, mesmo não sendo muito fã do personagem de quadrinhos, vesti a armadura contra as marmeladas e idiotices deste tipo de filme e encarei a briga e confesso: perdi feio pro homem de ferro. Tenho que admitir aqui: o filme é muito bom em todos os aspectos. Um bom roteiro, efeitos de última geração (com um vôo jamais igualado no cinema antes), uma direção segura de Jon Favreau, que os fãs de Friends vão lembrar do moço no papel de Pete Becker, o namorado milionário da Mônica. Mas o que segura mesmo o filme, além dos efeitos já mencionados é sem dúvida a atuação de Robert Downey Junior, como sempre avassaladora, chegando a ser praticamente um monólogo já que é o único filme de herói que o protagonista ocupa a tela 95% do tempo de filme. E sem enjoar a platéia. Eu sempre fui fã fervoroso de Downey, desde Chaplin (merecia um Oscar), passando por Assassinos por Natureza, Ricardo III, entre uma porção de grandes atuações, aliás repetidas na tão falada “vida real” já que o mesmo se meteu em diversas encrencas, foi preso várias vezes, culminando assim em um personagem de si mesmo. Mas voltando ao filme, além da dupla Favreau e Robert, o elenco tem ainda o irreconhecível Jeff Bridges, outro grande ator no papel do antagonista. O que estraga (por poucas cenas, mas chega a ser até engraçado suas caras e bocas) é a atuação medíocre da sempre canastrona
Gwyneth Paltrow, que é nossa eterna vencedora do Açaí de Lata International, desde quando levou “na mão grande” o Oscar de Fernanda Montenegro. Vocês lembram? Ela e aquele outro canastra Joseph Fiennes, num dos piores filmes de todos os tempos: Shakespeare Apaixonado. E olha que sou Phd na obra do Shakespeare real e aquilo ali, parecia mais a biografia do Wolf Maya do que do gênio da dramaturgia mundial. Sem contar, ela fazendo papel de Mazzaropi com aquele bigodinho fundo de piscina. Mas falando de Homem de Ferro e tirando estes pormenores, o filme é ótimo e vale a pena. Cinema Coca Cola de primeira. Mas como o título é sobre o verdadeiro homem de ferro, falemos dele então: um senhor com 72 anos de idade, que nunca esteve num hospital, apesar de ser hipocondríaco, casado com uma mulher 40 anos mais jovem, juntos e felizes contradizendo o escândalo que não abalou em nada sua carreira, autor e diretor de 40 filmes em 40 anos de carreira atingindo a margem inédita no mundo de um filme por ano ininterruptamente, sendo que alguns com várias premiações e a maioria sempre com classificação máxima pela crítica, tem uma banda de jazz, escreve livros, escreve peças, ufa...é ou não é um homem de ferro? Amigos eu falo de Woody Allen....cadê os aplausos? Ok, ok....sei que uma minoria como eu é apaixonada por este multimídia, e que ele esta longe de ser unanimidade ou um mega star apesar de toda sua obra revelar o contrário, afinal assim como Chaplin é inegável que Allen se tornou marca no cinema. Impossível falar de cinema sem comentar nada sobre este grande gênio, que além de dirigir e escrever, é um excelente ator cômico, com suas bases formadas na comédia Stand Up (onde o comediante sobe ao palco munido apenas de um microfone e começa a divagar sobre assuntos do cotidiano com muito bom humor), que hoje é febre no Brasil, inclusive na TV com o ótimo programa CQC. Mas voltando ao homem de ferro, Woody Allen, nos seus filmes ele sempre representa pessoas comuns, onde eu, você, seu vizinho, seu chefe, todos nós, que nos identificamos de uma forma ou de outra, pois nas suas obras os personagens demonstram suas fragilidades, neuroses, medos, prazeres meio a sentimentos mais profundos e tudo se passa numa casa como a sua, dentro de um carro como o seu, com mulheres comuns como a sua ou as suas e não femme fatales, homens comuns (o próprio Allen, por exemplo) ao invés de galãs musculosos, ou seja, Allen retrata a vida como ela é só que em 35 milimetros. Seus roteiros não menosprezam nossa inteligência nunca e não substimam nossos sentimentos. Prova do que estou falando é o seu novo trabalho O Sonho de Cassandra, sua terceira produção na Europa, já que nas palavras do diretor, é mais fácil conseguir financiamento na Europa para seus filmes, pois dão mais liberdade e se respeita o artista mais do que nos EUA. A película conta a história de dois jovens que se envolvem numa situação trágica, em função de suas fraquezas e ambições. Ewan McGregor e Colin Farrell (excelente atuação) vivem irmãos endividados que recebem proposta para cometer um crime a mando de seu tio milionário. Como toda história de Woody Allen, o filme acaba de repente, assim como a vida e deixa aquela angústia dentro da gente, pois a tela de seus filmes são um verdadeiro espelho para os espectadores e as vezes enxergamos algo que não gostaríamos de enxergar. Como num espelho de esteticistas, você encontra nitidamente suas imperfeições. Descobrimos que no final temos quase todos as mesmas histórias pra contar e o tio Allen só se encarrega dos diálogos com toda aquela dose de cultura e humor abundante que lhe é peculiar. O interessante da comparação entre os dois filmes, é que sempre no primeiro precisamos de uma armadura de ferro para encarnar nossa violência e expurgar todo nossos sentimento de vingança a tudo que ocorre contra os princípios mínimos pra se viver em paz, mas dentro desta lata é que mora esta eterna contradição, não é? Já no filme de Allen o sangue não é derramado na tela, ele apenas corre em nossas veias nos fazendo lembrar que somos humanos, portanto falhos. Choramos, amamos, nos frustamos, ganhamos, perdemos, gozamos, brochamos, brigamos, casamos, separamos, blá, blá, blá e como tudo que tem começo tem fim, e na maioria das vezes em o tradicional happy end de HollyWood, novamente assim como a vida não é mesmo?
Não seremos todos ao certo homens de ferro, porém com nossas engrenagens um pouco enferrujadas?
PUBLICADA NO JORNAL GUARULHOS HOJE DIAS 10 E 11 DE MAIO DE 2008
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