A frase da canção Sampa de Caetano Veloso que citava a “força da grana que ergue e destrói coisas belas”, está cada vez mais presente em nosso cotidiano, em especial na área das artes que de anos para cá vem sido dizimada pelo poder da grana e claro, à estupidez daqueles que a possuem. A começar pela música, que convenhamos, parece que de 15 anos pra cá não conseguiu sair da mesmice e está cada vez mais pobre e mais chata. O Rock and Roll, ao contrário do que previa Neil Young, parece que morreu junto com seu afilhado Kurt Cobain, porque de lá pra cá nada surgiu, a não ser o Foo Fighters, que ainda carrega o peso, a ironia e a rebeldia do Rock, porque de resto é tudo um blá, blá, blá sem fim, recheado de overdubs. O rock está tão sem vida, que os Emos até se fantasiam de mortos vivos, já notou? É subliminar? A música POP idem, pois não vejo chances de surgir um novo Michael Jackson ou uma nova Madonna, a não ser o nascimento de um monte de menino bobo e menina problemática que duram cerca de um ano de sucesso e depois ou raspam a cabeça e se isolam do mundo ou seguem para uma clínica de reabilitação, mas o talento mesmo....este tá difícil de achar. Não que eles não existam, evidentemente, mas a grana e as pessoas que detém o “direito” de revelá-los, perderam de uma vez por todas a sensibilidade e buscam hoje produtos absurdamente descartáveis e de preferência que sejam de fácil manipulação. A nossa MPB segue a mesma trilha, afinal quantos “gênios” (!!!) já foram lançados e que duraram um mês e você nem sequer lembra de uma música. Dúvida? Então tá. Cante aí uma canção do Max de Castro. Não sabe? Então manda dois grandes sucessos do Simoninha? E do Jairzinho, você manja? Ta bom, dele e da Simoni eu lembro também, mas aí não vale. Ou seja, genialidade esta equivalente a quanto você pode pagar pra um jornalista escrever bem sobre você. Ainda bem que meus “gênios” não precisam da benção de jornalista ou diretor de gravadora. A verdade é que nossa MPB continua pretensiosa e burra. Não sai do piloto automático e já não emociona mais ninguém. Uns vão dizer que tem Maria Rita e Ana Carolina que são fenômenos. Bom, se fenômeno for sinônimo de Ronaldinho, com relação à Ana Carolina eu concordo, afinal ela curte assumidamente (isto sim é coragem e é admirável) pessoas do mesmo sexo, mas em termos de música, acho que está longe de ser algo impressionante. Já a Maria Rita, que me perdoem os fãs, mas de original ela não tem nem o dedo do pé. Parece em tudo a finada mãe. Tem a voz da mãe, canta idêntico à mãe, tem os trejeitos da mãe e vamos falar a real: foi treinada por anos para se parecer com a mãe e aí fica ofendida quando comparam. Me poupem, por favor! No cinema a coisa não fica pra trás, aliás chega a ser pior o que a força da grana tem feito. Basta assistir ao último (tomara que seja mesmo) filme da série Indiana Jones pra se chegar a uma conclusão clara. O cinema americano virou uma máquina de caça níqueis. Você deposita sua moeda e pode ganhar (sair adorando o filme) ou perder (detestando e se sentindo um idiota por ter perdido a grana), mas como a regra dos cassinos é que a CASA SEMPRE VENCE, então meu caro, eles sempre vão levar sua grana e poucos felizardos, além deles, vão vencer. O cinema está afundando! Há exatamente seis meses que não se lança um filme decente, que valha cada centavo do ingresso, a não ser é claro o excepcional PIAF, que reforça a tese de que americano faz filme e quem faz CINEMA mesmo é francês, porque o filme é impecável do início ao fim. A atriz é soberba, a direção simplesmente espetacular, o que torna o filme emocionante e digno de uma história como a da cantora Edith Piaf. Pros meus sete leitores não acharem que é papo de intelectual bobo, então vou repetir aqui que Homem de Ferro (apesar de ser cinemão coca cola) é um filme bacana que superou as expectativas e teve milhões orçados, mas no geral continuo com minha opinião: o cinema ta sumindo! Olhem o que está em cartaz hoje por exemplo. Analisem os filmes e tirem suas próprias conclusões. Speed Racer e Indiana são dignos de sessão da tarde e fortes candidatos ao Framboesa de Ouro (guardem isto), só nos resta torcer para que Batman, não caia nesta trilha e que ao menos a atuação de Heather Ledger (grande perda pro cinema) segure o filme, coisa que nem Harrison Ford e Cate Blanchet conseguiram fazer no tenebroso Indiana. Só nos resta torcer que homens de bom senso e de gosto refinado, além de uma inteligência ímpar e bom humor, comecem a apostar no novo e abrir novas trilhas e se desligar de vez deste piloto automático que está nos guiando para uma colisão com a montanha da estupidez. Fechando a coluna de hoje, fica aqui uma canção feita em parceria com meu grande amigo, irmão e compadre, Alexandre Sato, que retrata bem o que sentimos, afinal não temos grana, mas nos resta alguns centavos de talento no bolso. Abração, Cumpadi Poeta!
Quantos Caetanos famintos, quantos Miltons moribundos/Quantos Tons Jobins extintos, quantos outros tantos mundos/De um país que é labirinto, pelos cantos e pelos fundos/Quantos Zecas Pagodinhos morrerão ainda feto/Marisas Montes e Ritas, mães solteiras e sem tetos/
Se equilibram em palafitas, rezam há um Deus que se acredita, um Cabral de Melo Neto/Quantos Gils há nas favelas, quantas Gals há na esquina?/
Renatos que morrem meninos, Elises que morrem meninas?/João Bosco na emboscada vai matar mais um Cazuza/Só por causa da cocaína que deixou Cássia confusa/Entre as vidas da chacina, morte escolheu Jovelina pra fazer dela a sua musa/Quantos Chicos da Ciência nos faróis de uma avenida/
Raul Seixas, se foram três, todos de bala perdida/A fome come estupidez com Betinho outra vez numa outra transfusão falida/Elas ainda adolescentes dão seus corpos por centavos/Filhas de um pobre Tom Zé, neto de qualquer escravo/Vindo da nobre ralé que viveu da mesma fé da qual morreram muitos bravos/Castro Alves retirante, Buarque de Hollanda e só/Vivem e morrem como ratos, caem como dominós/
E o diabo ri dos fatos e os gênios limpando os sapatos de medíocres como nós.
PUBLICADA NO JORNAL GUARULHOS HOJE DIAS 07 E 08 DE JUNHO DE 2008
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