quarta-feira, 9 de julho de 2008

Saudades dos montros da Universal Studios


Me bateu uma saudade enorme dos Monstros da Universal Pictures. Uma certa nostalgia do tempo em que tomar susto e sentir medo era uma sensação gostosa como um balde de pipoca e pegar de leve na mão da namorada no escuro do cinema. Mas os bons tempos se foram junto com a simplicidade e magia do beijo roubado na sala de projeção. Hoje se bobear a namorada te estupra no cinema ao som de uma melodia funk e os montros românticos do passado teriam medo de saírem sozinhos pelas ruas na madrugada. O Drácula, imortalizado por Bela Lugosi, era sedutor, culto, rico e matava suas vítimas com uma simples mordida no pescoço. A pobre criatura de Frankestein só buscava carinho, compreensão e amor e a única pessoa que matou era a esposa do doutor, pois este lhe recusava uma amante zumbi como ele. O Lobisomen preferiu se matar do que permanecer com a maldição que o transformava em besta, para não ter que tirar a vida de inocentes toda noite de lua cheia. Como podem ver os tais monstros, perto dos que vemos hoje no nosso dia a dia seriam nada mais que poetas inocentes. Aliás, até mesmo o temido Jason Voorhees, não passa de um menino bobo frente os assassinos de hoje, e morre de medo de médico, pois teme cruzar um Dr. Farah pela frente ou pelas costas, o que seria duplamente perigoso. Freddy Kruegger tem pesadelos horríveis que esta sendo metralhado na tela de cinema por Mateus da Costa Meira. Hanibal Lecter virou vegetariano após um almoço com Chico Picadinho. Stephen King dorme de luz acesa temendo uma visita de Suzane Richtoffen. Convenhamos que a imaginação e a crueldade dos assassinos reais aqui pelo Brasil mataria de inveja qualquer roteirista de HollyWood. Comento isto, obviamente em função do assunto da vez, que é o terrível caso Isabella. Evidente que não estamos julgando ninguém, mas para a polícia e a promotoria o caso já está solucionado e o pai e a madrasta no banco dos réus. Eu, assim como a maioria da população não posso acreditar que alguém seja tão cruel a este ponto. Matar um filho de tal maneira é no mínimo asqueroso e imperdoável até pelas leis do inferno, portanto torço para que surja uma terceira pessoa, mesmo que seja o Máskara de Jim Carrey ou o The Flash, até porque para fazer tudo aquilo no tempo já comprovado pela perícia, só estes dois personagens seriam capazes, de acordo com a história dos advogados. Mas vamos aguardar com calma, meus caros sete leitores. Primeiro porque não somos juízes e segundo, porque não podemos admitir que uma população de bem, suje suas mãos de sangue nesta banheira já criada até o presente momento. Pensando nisto eu me pergunto o que esta gente faz na porta da casa dos pais dos indiciados? Esta gente não trabalha? Não tem família? Esperar na porta do hotel que Mick Jagger ou Madonna estão, já acho um mico gigantesco, mas tem explicação, pois uns podem até sair de lá gerando um filho dele e outros adotando um seu a ela, mas esperar na porta de um possível criminoso, creio não haver muita explicação plausível? Qual a alegação? Pedir autógrafo? Dar um peteleco? Desafiar a força da polícia a troco de que? Sem contar as placas de solidariedade à vítima e eterno massacre à já tão sufocada língua portuguesa com dizeres do tipo: AÇASSINO! FELIS ANIVERÇÁRIO! Ou o grito de guerra: LIXA! LIXA! Mas lixar o que? É um casal de penteadeira, pronto a ser pintado? Apesar de que talvez seja a hora de trocarem o verniz mesmo, afinal de contas, meus sete leitores detetives, aquela entrevista pro Fantástico foi pior que novela mexicana produzida no Brasil. O ápice da canastrice plena. O casal pode ser inocente do crime, mas em matéria de mal gosto e falta de talento pra interpretação dariam inveja ao cantor Falcão e qualquer nova estrela de novela da Globo. E por falar em programa de índio, como novela e esta entrevista, não é que tem advogado de defesa que também merece o Prêmio Açaí de Lata? Os advogados do médico Farah, acusado de matar e picotar uma dona de casa, alegam que ela era amante dele e o ameaçava, portanto matou em legítima defesa e deve ter picotado ela pra prevenção, né? Vai que ela ressuscita? Ao menos fatiada fica mais difícil de correr atrás. Por favor, né? Estes caras zombam da nossa inteligência e abusam da paciência do júri, pois os infelizes tiveram de assistir Atração Fatal e Tomates Verdes Fritos, para que os ajudasse no veredicto. Dois filmes que o réu é perseguido pela vítima em vida e isto explica o crime, como se houvesse justificativa cabível para tirar a vida de alguém. Oras, porque a promotoria não fez o júri assistir Massacre da Serra Elétrica ou então O Albergue? Afinal, já que tentam retratar o perfil da vítima, porque não o do criminoso com filmes próximos do que ele fez? Os vencedores do Açaí, nossos eternos produtores e diretores do cinema nacional deveriam aproveitar este filão. Ao invés de copiarem comédias mexicanas ou então fazer filme sobre traficantes, ta na hora de investir nos homicidas, afinal, os nossos dão um banho (de sangue) na concorrência. Temos o Crime da Mala, Chico Picadinho (parece nome de cozinheiro de boteco, mas não é), Maníaco do Parque, Suzane Richtoffen e os irmãos Cravinhos, Guilherme de Pádua, olha só que Dream Team...Ops, desculpe...Nightmare Team! Nem Chucky, nem Jason, nem Norman Bates, que nada. Nossa seleção de craques é bem melhor e lava mais branco, ou pelo menos tenta, esquecendo-se da existência do Luminol. Qual a sedução de um crime? Livros, filmes, peças, bastou ter um crime pra chamar a atenção e se for quase que perfeito aí é best-seller. Tarantino fez seu nome no cinema mundial retratando o lado cool de criminosos. De Niro e Jack Nicholson dichavam a personalidade de um criminoso de maneira muito mais elucidativa do que qualquer psiquiatra forense e as bilheterias lotam. A TV fica full time à disposição do crime, pois quando não é assalto, rebelião, homícido, chacinas trata-se da roubalheira deslavada de nossa classe política, ou como os bons homens preferem dizer, de parte delas. Evidente que uma parte gigantesca, mas não vamos entrar neste detalhe, pois aí é outra pauta. Os nossos políticos parecem que pouco se importam com o mundo e em especial com seu país, estado, cidade ou bairro, quando o assunto não é: como eu posso ganhar mais dinheiro sem fazer absolutamente nada? Casos como o de Isabella chocam o país e toda sua população e mesmo assim NINGUÉM é capaz de mudar a legislação que juízes, promotores e advogados já chegaram à conclusão de que está ultrapassada. Será que mais este crime, quando chegarem aos verdadeiros culpados, vai ficar impune? Tirar a vida de uma criança inocente de forma brutal, torpe, nojenta e covarde vale apenas cinco ou seis anos de cadeia? O crime compensa? Será que a tal terceira pessoa deste crime e de tantos outros não esteja desfilando de carro importado, transando prostitutas e gozando com o dinheiro público sem dar a mínima ao que acontece ao seu redor, mesmo que esta seria a sua função: se importar e agir! A estes homens e aos assassinos, sejam eles de Isabellas ou de qualquer outra criança, homem, mulher, negro, branco, jovem, idoso, fica o meu desejo: que se encontrem no inferno ou aqui mesmo com dois dos maiores psicopatas do cinema, John Doe e Keyser Söze, que fariam com que a justiça funcionasse mais do que a nossa triste lei brasileira. È triste quando a ficção parece ter mais crédito do que a realidade.

Descanse em Paz, Isabella!

PUBLICADA NO JORNAL GUARULHOS HOJE DIAS 03 E 04 DE MAIO DE 2008

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