quarta-feira, 16 de julho de 2008

AMOR ROBÔ

Seriam os robôs mais sensíveis que os homens? Será que as máquinas um dia nos ensinarão mais do que simples cálculos? Devem ter ensinado algo ao Prof. Pardal deste século, o Sr. Bill Gates, afinal de contas, indo contra a linda frase do poeta Belchior, Bill quanto mais multiplicou, mais aumentou o seu amor. Quando que no mundo atual, completamente regido pelo consumo e pelo desejo incontrolável do TER e do VENCER um cara, considerado o mais rico do mundo, perderia a posição, abriria mão de seu cargo e seguiria o resto de sua vida com ações de filantropia? Seria Bill Gates um dos robôs supracitados? Se bem que no meu caso, estou mais pro robô David de Inteligência Artificial, porque confesso ser um sentimentalóide que acredita no amor e quase sempre quebra a cara, fato este que me fez chorar ao ver o filme Wall-E, se bem que pra quem chorou assistindo Pinóquio não é de se espantar. Mas falando da desta bela animação da PIXAR, o filme é uma poesia. Lindo do início ao fim, se bem que mais direcionado aos grandinhos do que pras crianças. O foco principal do filme é a questão ambiental e os tristes rumos que o universo vem tomando para acelerar nosso fim, talvez, sendo aqui trágico pra não perder a veia teatral. O filme tem referências explícitas de ET e principalmente 2001 de Kubrick, tendo até aqui, a sua versão de Hall 9000. O personagem principal me lembrou muito Woody Allen em seus primórdios, repleto de gags que se encaixam dentro do cenário do homem comum apaixonado por uma deusa e ai, as conseqüências divertidas de suas investidas sobre a tal. Aqui ele, Wall-E, um robô sozinho na terra, na sua função de reciclador de lixo (olha a pista pra molecadinha) desenvolve consciência, personalidade e um certo interesse pela cultura de um povo que ele nunca conheceu. Seu respeito pela vida, é registrado por seu carinho com um broto de planta (outro toque da Pixar pra molecada)e sua companheira, uma baratinha de estimação, Spot. Mas, como o amor é imprevisível e sempre nos pega de calças curtas, num dia, chega dos céus uma nave, e com ela EVA(Examinadora de Vegetação Alienígena), uma nova espécie de robô, enviada ao planeta para cumprir uma rápida missão. Assim como no amor, a felicidade do personagem, dura pouco e, quando EVA é chamada de volta à estação espacial Axiom, ele acaba tendo de decidir se continua na Terra ou acompanha sua amada. Daí pra frente é aventura, comédia e claro, romance. Assim como a minha e a sua vida. Se bem que na minha a comédia vem tomando largas proporções, mas que não me deixam nunca parar de refletir sobre o amor. A identificação pessoal com o filme foi imediata. Primeiro porque me sinto um pouco só neste universo gigantesco e segundo porque não deixo de ser um reciclador, tentando transformar o lixo do dia a dia em crônicas, poemas, histórias ou até canções. Mas não tenho a vantagem de um robô que ao ser renegado, simplesmente pode trocar o chip de memória e começar do zero como se nada tivesse acontecido. Quando se apaixona por uma Madame Bovary, mesmo que tente deletar o arquivo, fica complicado pois geralmente ele vem com vírus e já é de fábrica, o que dificulta apagar e claro contornar o estrago feito em sua HD. O vírus Lady MacBeth. Aquele que se “dessexualiza” e deixa de amar como mulher ou como homem para se tornar um ser monobloco, dona de beijos gelados e o corpo praticamente sem órgãos. Claro que este fato ajuda a tentar apagar da memória aquilo que tenha sido bom, mas que poderia ser apenas uma imagem projetada em 4 D, feita apara emocionar assim como os belos filmes da Pixar, porém, sempre vem um melhor na frente, já reparou? A Pixar sempre se supera então aí fica o toque pros grandinhos e não pros baixinhos. Não nos substime, pois podemos surpreendê-lo! E quase sempre eles conseguem. A EVA do filme tem um aerodinâmica perfeita, é linda, mas mesmo num corpo gelado tem sentimentos. Gratidão, afeto, amor, respeito, fazem parte até mesmo de um robô, porém faltam em alguns seres humanos. Será que um dia venderão estes programas na 25 de Março, versão pirata pra este tipo de gente instalar e quem sabe se tornar uma pessoa melhor? Eu sou sensível, meus sete leitores. Eu fico deprimido no meio de uma orgia. Não tenho o dom de rir à toa. Talvez eu tenha o dom de fazer rir à toa, que já é bom e que também poderia ser vendido em programas da Santa Efigênia, pois o mundo seria melhor se vendesse como o Windows. Parafraseando o Pessoa eu diria que Amar é preciso, viver não é preciso. Qual o preço do amor nos dias de hoje? Alguém que lhe faça seus deveres? Alguém que seja o que você deseja que seja? Alguém que aceite casar assim que você achar que tem de casar? Alguém que ignore pai e mãe por você? Suzane e os irmãos Cravinhos poderiam ser um bom partido pra esta nova raça de pessoa que exige um amor assim. Drumond diria que o amor é uma doação ilimitada a uma completa ingratidão. Concordo e sou prova viva disto, aliás,ai está o poeta do amor impossível, único e verdadeiro. Assim como viver só num mundo vazio e aprender a reciclar tudo, para se viver bem, como nosso amigo Wall-E, encerro a coluna com a advertência: AMAR EXIGE CORAGEM!


PUBLICADA NO JORNAL GUARULHOS HOJE DIAS 12 E 13 DE JULHO DE 2008

Um comentário:

Manu disse...

Lógico que para amar tem que ser forte...e quem achou que o amor são só flores?
Às vezes levamos uma rasteira da vida como nunca pensamos que passariamos por tal situação...mas dai ela vem com todo a sua força e ai vamos fazer o que???
Sim vamos chorar alguns dias, inchar o nariz em outros...mas essa sensação infeliz passa e a gente vai tentar viver feliz novamente.
E quando alguém inventar esse tal chip da felicidade que for vendido na santa efigenia, vc avisa pra eu comprar um pra mim tb?
Te cuida menino/homem, porque precisamos da sua alegria.
Bjotas sonoras.