Eu queria ser um rolling stone! Aliás, quem em sã consciência não gostaria? Os caras desafiam o tempo com seu vigor físico, ganham milhões, são aclamados pelo mundo todo, fazem sexo com as mulheres que povoam nossos eternos sonhos molhados e ainda vivem há mais de 40 anos (eu disse mais de 40 anoooos) do prazer de fazer aquilo que se ama: tocar o bom e velho rock and roll. Eu que com minha humilde banda, AeroSilva, já obtive momentos de pura satisfação em menos de uma centena de shows na carreira inteira, fico imaginando estes tiozinhos que já perderam a conta do número de shows além do fato curioso de que se somássemos a platéia de cada um dos shows que fizeram neste período, teríamos quase que um número de público equivalente à metade da população mundial do planeta. Fui ver o filme do Scorsese, Shine a Light, que na verdade é um presente de fã (ele) para os fãs (nós) em duas horas de aula sobre como se fazer e melhor, sobreviver de rock and roll. Diferente dos também mega-astros, Madonna, Michael Jackson e Bono Vox, os Stones parecem estar cada vez mais próximos da gente. Afinal não fazem em seus shows as orgias metafóricas de Madonna, guardam isto pra suíte de Mick jagger mesmo, não fazem os discursos piegas e convenhamos na maioria das vezes demagogo, do excelente cantor, Bono Vox e por último o estranho mundo de Michael Jackson com sua coreografia Fred Asteire e Xuxa e seus casos bizarro e mal resolvidos de pedofilia cercado de outras esquisitices. Enquanto isto, os Stones usam roupas que usaríamos, não tentam inovar o que já nasceu clássico e não se importam de tocar quase o mesmo repertório há 40 anos, afinal convenhamos, é pra poucos esta habilidade. Eu sempre achei os Stones muito mais rock and roll que Beatles e sempre fui muito mais fã. Os quatro senhores de Liverpoool são imbatíveis em fazer canções, mas rock mesmo sai da guitarra do Keith e do seu perfil escarrado de roqueiro somado à androgenia perfeita de Mick Jagger com seus trejeitos disconexos e seu carisma insuperável. Quando estiveram em SP, eu pude ter o prazer de assistir aos dois shows: Voodo Lounge e Bridges to Babylon. Nunca me esqueço do primeiro quando a serpente cuspia fogo e entrava Mick cantando Not Fade Away, vestindo um casacão vermelho e desfilando pra nós, pobres mortais como um verdadeiro Deus ali com sua trupe de anjos caídos. Aliás, por falar nisto, não compreendo porque as pessoas insistem até hoje no tal “pacto com o diabo” que Mick fez para obter o sucesso. Os Stones sempre foram óbvios em disposição e talento e desde quando surgiram, eram o que o mundo buscava até então e acho que até hoje persiste, o que seria resposta aos seus shows absolutamente lotados. Pacto mesmo acredito que tenham feito, se é que existe isto, certas bandas de forró que sem talento algum, sem carisma, com uma cantora que grita mais que uma gralha no cio, uma guitarra desafinada e músicas de gosto duvidoso, conseguem vender milhões. Sem contar no surgimento de banda EMO que lembram os Gremlins, a cada dia surge uma nova absolutamente igual a outra. E olha que pra nosso azar não desaparecem com luz forte, assim como no filme, porque quanto mais holofotes neles, mais outras surgem. Voltando ao excelente filme de Scorsese, nele o diretor revela algumas entrevistas interessantes no decorrer da história do Stones onde conclui a eterna diferença de personalidades, entre Keith e Mick, mas com uma simetria mais que perfeita para a arte que fazem. Mick é o manager, o cara culto, bacana e preocupado com os fãs quase que tempo integral. Keith já é o retrato estampado do rock and roll: viciado, descolado, mulambo e pouco se importanto com que está além de sua guitarra, diga-se de passagem, mãe de no mínimo 10% dos maiores riffs criados na história do rock and roll, o que cabe dizer é uma gigantesca porcentagem num terreno tão fértil deste. Em algumas entrevistas o jornalista pergunta pra Keith Richrads: qual a pergunta que sempre lhe fazem? E ele manda na lata: esta imbecil que você acabou de fazer. Num outro momento perguntam pra ele e pro Ronnie Wood quem é o melhor guitarrista entre os dois. Wood responde rapidamente: Eu sou e Keith sabe. Aí o pirata do rock retruca: na verdade somos dois guitarristas medíocres, que juntos somos melhores que qualquer um! Está ali a sabedoria adquirida junto com aquelas 450 rugas que traz no rosto. Revela nesta resposta que a magia dos Stones está no carisma do todo. Assim como o Quarteto Fantástico dos quadrinhos, você tem ali um grupo de pessoas distintas que com poderes diversificados, juntos são inabaláveis. Charlie Watts, seria a Mulher Invisível, pois não aparece, as vezes até se esquece que ele está ali, mas sua marcação e compasso são o campo de força, o coração da banda, pulsando num ritmo absoluto por duas horas e meia de show; Ronnie Wood, seria o Tocha Humana. Primeiro, porque vive de fogo (perdoem o trocadilho pobre, mas é fato) e segundo porque incendeia as canções com sua versatilidade em seu instrumento, pois convenhamos aqui guitarrista versátil está ali, com solos melódicos, solos rápidos, dedilhados, lap steel, slide guitar e até o “cavaquino” se der na mão, o bichinho faz gritar; Keith Richards, claro não poderia ser outro se não O Coisa, tanto pela aparência física quanto pela força. São quase setenta anos de idade de uma força inabalável, que já resistiu alguns bilhões de minutos em cima de um palco e mais um milhão de experiências com drogas, problemas judiciais, cadeia, enfim, tudo que o rock proporciona. Mick Jagger é nosso senhor Fantástico: líder da maior banda do mundo, dispensa maiores apresentações, mas seu corpo elástico, simplesmente abraça o público, seja ele reduzido e seleto como os do show de Ney York retratado no filme (que inveja) ou aquele apresentado em Copacabana num recorde histórico para os Stones e para o rock and roll. Aliás, Mick no filme dá seu recado pro Brasil que ele tanto ama, ou pra uma certa brasileira quando diz: Some girls they are so purê/Some girls so corrupt/ Enfim, meus sete leitores favoritos, fica aí a dica de um filme bacana sobre música. Assim como Rattle and Hum de U2, No direction Home de Bob Dylan e de outras cinebiografias como Great Balls of fire, Ray, The Doors, Johnny and June, surge agora este show-documentário dos Stones para assegurar de uma vez por todas que o rock é, foi e sempre será assunto para livros, filmes, peças, pois gostem ou não é o estilo de música mais abençoado que já houve. Quem não viu, vá ver e quem não conseguir ver, assista AeroSilva em Greve de Fama, show gravado no Copolla, sem a direção de Scorsese, mas que dá um bom caldo também. Aliás, me disseram que o vocalista lembra um pouco um Mick Jagger, só que pobre. PUBLICADA NO JORNAL GUARULHOS HOJE DIAS 19 E 20 DE ABRIL DE 2008
Some girls give me children/I only made love to her once.
sábado, 5 de julho de 2008
EU QUERIA SER UM ROLLLING STONE!
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Um comentário:
Deu um jeito no bichinho hein! rsrs
Adicionei o seu link no meu blog ! Bjs
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