sexta-feira, 25 de julho de 2008

GOD SAVE THE JOKER


A loucura é como a gravidade...basta só um empurrãozinho! Será? O fato é que o diretor Christopher Nolan deu um belo empurrão, eu diria, na atuação brilhante de Heath Ledger, que extrapolou os limites da loucura, do cinismo e do bizarro, com seu JOKER, mais do que perfeito, deixando até o coringa de Jack Nicholson, carta fora do baralho. O filme Cavaleiro das Trevas é quase perfeito. Elenco excelente e milionário, um roteiro bem elaborado, diálogos inteligentes, produção de ponta, mas peca um bocado pelo ego do diretor no excesso de tempo de duração. O filme é longo e cansa um pouco em algumas partes, mas mesmo assim é sem dúvida o melhor blockbuster dos últimos anos. O Coringa, claro, rouba as cenas de ponta a ponta. Que ator brilhante e que judiação ter morrido tão jovem e no auge da carreira. Especula-se o fato de surgir mais um Oscar póstumo, sem sombra de dúvidas merecido, caso ocorra, a um trabalho tão brilhante, como há tempos o cinema vem devendo. Tudo bem que o personagem é rico e porque não shakesperiano tamanha gama de sentimentos contidos, mas a atuação de Ledger foi deslumbrante e deixou um grande desafio no ar: quem vai segurar esta onda em Batman 3? Johnny Depp? Robert Downey Jr.? Façam suas apostas! A história como sempre faz de Batman um mero coadjuvante entre a loucura de dois grandes vilões: Coringa com sua filosofia e Duas Caras com seu senso implacável de justiça, ou como ele mesmo diz: o destino é quem decide. Destino este metaforicamente embutido numa simples moeda. Já pensou se a moda pega? Saio com esta garota hoje ou não? Jogo a moeda. Pronto! Deu cara. O destino quis, mas e se dá coroa? Saio com a sogra? Claro, porque o destino não ta afim que eu fique sozinho, agora nesta nova fase Charlie Harper em que me encontro e que aliás estou adorando. Mas voltando ao assunto Batman e não minha vida sexual que agora ta mais interessante que as piadas do Coringa, mas posso assegurar-lhes, que bem menos que a vida sexual do Batman, que convenhamos, daria inveja a Mick Jagger. O cara (Christian Bale) é milionário, boa pinta, um físico invejável, briga bem, não tem medo de nada, vive cercado das mulheres mais lindas do mundo, enfim, é pra matar qualquer colunista de inveja e se identificar mais com o Coringa, evidentemente, por estar bem mais próximo da minha, da sua e da nossa realidade. Neste jogo de Revista Caras, seríamos nós as cartas fora do baralho? Seríamos nós os coringas da história? Não seria o tal vilão, aquele penetra na festa pobre que os homens marcaram pra nos convencer de algo que não existe? Talvez o fascínio imenso que Coringa desperta nos homens, seja exatamente por aguçar o nosso lado mais sombrio e não o mais popular. O Batman, mesmo solitário é Pop, o Coringa, não. O Coringa é o marginal, no melhor sentido da palavra. Aquele que vive às margens de uma sociedade confusa e hipócrita. Ele nos dá pistas que há algo além de nossa compreensão. Ao roubar milhões da máfia e simplesmente tacar fogo no dinheiro, não está ali uma grande mensagem anti-capitalista? O poder da grana de Bruce Wayne que desfila com Lamborguinis, Kawazakis, iates e na madrugada sai espancando vilões com suas armas de última geração, contra a inteligência e a língua afiada do palhaço que nada tem, além da coragem de enfrentar aquilo que não o absorve? Não seria aí uma metáfora discreta dos EUA de BUSH (Batman) contra o Taliban de Osama (Coringa)? Acho que viajei demais no filme, né? Será? O Duas Caras talvez esteja mais próximo do papel da sociedade que se divide constantemente entre o certo e o errado, culpando a todo instante o pobre coitado de Deus ou o destino como queiram. Ferem pessoas a troco de nada, e ai lamentam que o destino quis assim. Olha a moedinha de novo! Dá cara ou dá coroa? Você é bom ou você é mau? Você distribui cestas básicas, mas pisa e humilha aqueles que te amam. O que manda teu destino? O que apita o teu coração? Traçando este paralelo do filme com a realidade, talvez o Comissário Gordon, interpretado pelo mestre da atuação, Gary Oldman (que aliás neste papel está a cara do nosso prefeito Elói Pietá, já repararam?), deveria trabalhar no Hell de Janeiro, ops, digo, Rio de Janeiro, porque assim como a polícia de lá, ele também pouca coisa faz, mas ao menos tem contato direto com o morcegão que o ajuda a resolver alguns pepinos. Só não sei como ele, Batman reagiria a uma polícia que mata crianças inocentes. O sonar do morcego ia ficar confuso entre o bem e o mal e talvez ele tenha também de jogar a moeda e deixar o destino decidir de que lado ficar. Em homenagem ao Coringa de Ledger, encerro a coluna com uma simples mensagem do palhaço: What does not kill you, makes you stranger!




PUBLICADA NO JORNAL GUARULHOS HOJE DIAS 26 E 27 DE JULHO DE 2008

2 comentários:

Manu disse...

Háaaaa Mau,
Nosinhora....Heath me fez chorar de verdade. Nossa sou fã dele desde os tempo de "10 coisas que odeio em você"...ptz um ator muito bão (nos dois sentidos da palavra, lógico) e agora quando vem o reconhecimento o cara morre de intoxicação medicamentosa?!! Oh mundo cruel.
Mas "Batman" valeu demais...dorei.

Unknown disse...

Gostei do texto mas confesso que anda não vi o filme (apesar de ouvir tantos comentários que quase enjoei). Concordo com sua viajada e o Coringa ser "marginal" mas que representa muito do que esta preso em nós pelas conveniências sociais.